O céu é para todos [COMPLETO]

4.

Matheus

Fico encarando a garota de olhos azuis por mais tempo do que deveria, mas não consigo evitar. Ver uma garota tão linda que está ficando com alguém como eu.

Quer dizer, não comigo. Com Jonas.

Tudo bem, ele tem cabelos e olhos dourados. Lindo. Mas ele tem o mesmo corpo que eu. Gordo.

E lá estava ele, beijando a menina que se apresentou como Sky.

Me sinto animado com a ideia de fazer parte de algo e não ser julgado.

A fase do bullying passara, mas sei lá, as cicatrizes não.

Greta, nossa líder, nos deu algumas instruções para corrida das tintas.

A ideia de correr em público, que antes me apavorava, evapora quando vejo todos os participantes correndo, sem ligar para eles próprios.

Eu amava correr. Não era rápido e meu condicionamento físico poderia melhorar, mas eu também não praticava. Tinha receio de ser zoado por ser o "gordinho" tentando emagrecer na rua. Então eu me limitava a algumas caminhadas.

Na real, eu não queria emagrecer. Eu só queria correr, numa boa, cara. Me sentir livre, parar os pensamentos intrusivos.

Porém aqui, com várias cores já nos meus braços, o objetivo ia além de não pensar. Eu queria muito ganhar.

Consegui me camuflar bem, porque não usava nenhuma das cores do time. Usava meu moletom preto, que já estava nos meus cotovelos pelo calor.

Guilherme havia me pegado uma vez e tacara um dos balões de água em meu braço, deixando minha pele branca, vermelha. Eu o fuzilei com meu melhor olhar assassino, porém ele apenas sorriu de escárnio e voltou a correr atrás dos outros.

No restante do tempo, tentei ao máximo evitar Gui, pois ele era o único que de fato me conhecia. Então se eu andasse normal, perto dos azuis, eu passava despercebido. Achei minha estratégia um máximo.

Tive a sorte de topar com Sky e de quebra pegar mais uma cor com uma pessoa que ela beijava. Pensei nela e Jonas juntos, pouco antes da corrida de tintas começar, e fico confuso. Porém ignoro a questão, pois estou quase vencendo.

Acelero o passo ao ver a última cor que eu preciso. Rosa claro que está com uma das representantes da Terra, que fora apresentada antes da dinâmica. Não sei seu nome, mas lembro que era uma garota negra de coque.

Ela, entediada, provavelmente por passar tanto tempo ali, passa a tinta no meu braço calma como uma brisa. Eu viro minha cabeça e Guilherme está lá, a alguns metros de mim, pronto para correr. Eu disparo em frente ao coreto, mas mesmo com alguns metros de vantagem, sei que ele está prestes a me alcançar.

Entretanto, algum milagre faz com que um garoto de cabelo crespo platinado surja do nada, e taque o maior balão de água em cima de Guilherme, o pegando de surpresa.

Não perco tempo e corro os metros finais até o coreto, quase me jogando em cima do líder da Água que está coordenando o jogo.

- Vamos ver. –Ele analisa meu antebraço. –Você é hospedeiro de qual elemento?

- Fogo. –Minha voz ofega e meus pulmões queimam.

- TEMOS UM VENCEDOR! HOSPEDEIROS DO FOGO!

Ele ergue meu braço e a todo um coro e palmas, até dos adversários. Sorrio.

- Melhor novato! –Greta me abraça, e eu retribuo sem jeito.

- Não sou novato! Mas tudo bem! –Acrescento para não soar arrogante.