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Matheus

- Você tá preso aqui então? - Vinícius se escorava na parede do terraço, vestido com um moletom rosa que destacava sua tranças curtas, indo até suas orelhas.

- Basicamente. Até o meu aniversário, pelo menos. - Dou de ombros. - Poderia ser pior. Minha mãe fica me olhando de forma ameaçadora todo dia. Nada que eu não estivesse acostumado antes. Só um pouco a mais na dose da ansiedade diária.

- Ah, senti sua falta, Matheus, raio de sol.

- Você sabe que tô bem longe de ser isso... Como estão as músicas?

Vinícius gostava de música trap e pegava vários trampos apoiando artistas locais, produzindo, divulgando e dando uma palinha ou outra até.

- Tive que cortar um pessoal. Foco nos estudos. Tem meus pais. A pressão por não ser só mais um. O mesmo de sempre.

- É.

- Já contou que quer fazer Cinema?

- Já contou que quer fazer Direito?

- Ah, qual é Matheus. - Vini me olha de forma debochada.

- Eu sei, eu sei. Cheguei a comentar uma vez ou outra. Acho que não levaram tão a sério.

- Agiliza. Estamos quase na metade do ano.

- É. - Me escoro na mureta, observando a vista. - Tem muita coisa rolando.

- Ei, eu sei que muita coisa rolou. - Ele encosta no meu ombro. - Mesmo estando numa escola diferente, você ainda pode contar comigo. Só que você tem que saber vir até mim também, cara. Não posso te ajudar se você se fechar.

- Você tem razão. - Assinto, lembrando a conversa que tivera com Vinícius ontem depois de uma semana estressante, pós PT, com minha mãe enchendo o saco, Guilherme na minha cola pedindo matéria que ele não copiara, e então, eu surtei e liguei pra Vini. Porque sentia falta dele, e Cami não é lá a pessoa mais emotiva do mundo, com o Vinícius eu me sentia mais aberto a desabafar.

Ele está aqui na minha casa agora, num sábado a tarde, dando algum apoio moral pra eu não me violentar fisicamente e mentalmente. Palavras dele, não minhas.

- Onde estão seus pais, afinal?

- Foram na casa de uns primos.

Cheguei a cogitar ir visitar Helena. O sítio era bem legal. Mas sem Rebecca parecia vazio. Ia ser outro lugar que teria sempre um vazio dela.

- Saquei. E vai ficar de boa, o fim de semana?

- Aham, semana de provas me destruiu.

- É, eu sei como é o Sistema Ensino. Por isso caí fora daquele lugar podre. Eu daria uma festa se fosse você. Pra fechar essa semana com chave de ouro.

- Bem que eu queria. - E na real, eu queria mesmo tacar o foda-se desse jeito, porque no fim das contas, de que adianta? Estudar igual um condenado pra depois esquecer informações inúteis? Honestamente, eu aprendia muito mais com meus filmes, ou sei lá, vivendo a vida.

Mas guardo a divagação pra mim porque Vini é uma dessas pessoas que se entrar na onda comigo, é um buraco sem fim e acabaríamos em depressão com uma festa rolando.

- Eles devem voltar amanhã cedo, também, então, nem rola. Mas estou pensando em dar uma no meu aniversário.

- Agora eu estou interessado. Fala comigo.

- Ainda não sei por conta de Rebecca, não sei se meus pais iam gostar mas...

- Dezoito anos não pode passar em branco.

O céu é para todos [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora