14.

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Matheus

Uma coisa que é um saco sobre bebida.

Ela nunca esconde por muito tempo o que você tá sentindo.

E antes que você perceba, a válvula de escape se vira contra você.

Quando deito minha cabeça no travesseiro, tudo zombe e zomba.

De mim.

Camila pergunta se eu quero dormir na casa dela, e eu digo que não. Pra que eu iria dormir lá se eu tinha minha própria cama ao lado?

O trajeto do micro-ônibus foi um apagão em minha mente e acho que devo ter cochilado durante, já que não estava conseguindo dormir agora.

Me sinto sozinho.

Lembro do beijo horrível, de Guilherme corado dizendo que havia não só pegado Greta, mas beijado Sky também. E tinha o Bernardo no meio, e mais uma crise de identidade para girar em torno dele.

O gosto disso tudo é amargo e penso se deveria vomitar para a cama parar de se mover e meu estômago parar de doer.

Minha mãe já dormiu, meu pai também.

O quarto de Rebecca ainda está vazio.

E assim vai continuar.

Tudo vem à tona, inclusive o nada que eu comi.

Logo me sinto fraco, porém melhor.

Mando uma mensagem para Cami falando para vir até aqui.

Eu não estou bem.

Ela vem.

Como entrou? Só Deus sabe. Vou fingir que sabia que ela tinha uma chave reserva.

Ela me ajuda a descer as escadas, o que mostra sua força já que eu tinha pelo menos o dobro de seu peso. É, ela era uma boa amiga.

Camila me enfia no chuveiro do banheiro no andar de baixo. Não sei como meus pais não ouvem nada. Torço para eles não acordarem. Torço de verdade.

Enquanto Camila me oferece um copo com água que tem um gosto esquisito, a luz do corredor se acende e sei que estou fodido.

Muito fodido. Porque estou coberto de vômito e sentado seminu no banheiro, e acabo de perceber que quebrei um copo.

Tem cacos por todo o lado. Que merda.

Minha mãe sonolenta e com roupas de dormir discute com Cami, e sei que vou ficar devendo o mundo para ela. Torço para ela resolver tudo, mas sei que um baita sermão me aguarda amanhã, o que só dificulta a minha respiração.

Tenho certeza que meu coração pode parar a qualquer momento.

Li isso uma vez. Muito álcool no sangue, eu vou lá e morro. Acabou.

Quero morrer.

Tenho pânico de morrer.

Minha mão está no lado esquerdo do meu peito, sentindo ele descer e subir. Há um pouco de sangue que escorre pelo meu abdômen.

É isso, vou morrer.

Há cacos nas minhas mãos.

Cacos por todos os lados.

E em mim. Pequenos caquinhos pelo meu eu todo.


Sky

Segunda-feira deveria vir com um cartaz escrito "BEM-VINDO AO INFERNO!" e um folhetim explicativo sobre como sobreviver a isso tudo.

Saio do prédio do cursinho, com uma aura moribunda. Há olheiras profundas em meu rosto, uma espinha enorme perto da minha boca que dói para caralho e a única coisa que salva meu dia é ver minha melhor amiga.

O céu é para todos [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora