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Matheus

Eu ignorei Guilherme pelo resto da noite.

Não que tivesse sido uma tarefa difícil.

Após ele me chamar para ser seu guarda-costas e se trancar no banheiro para fugir de Marlon, eu o abandonei para dançar e beber com meus amigos. Quando alguém contou para ele que Marlon fora embora da festa, ele ficou atrás de Ágata o tempo todo, mesmo a garota não dando muita trela. E sempre que nossos olhares se cruzavam, ele ficava emburrado, como se fosse minha culpa alguma coisa.

Piada.

Depois de cantar os parabéns para Alice, me entupir de docinhos e voltar a dançar com o pessoal, Bernardo parecia estar mais transtornado que todos nós e decidiu que fazer uma strip tease ao som de Like a G6 no aniversário de 15 anos da sua irmã caçula era uma boa ideia.

Com isso, os seguranças, a produção, e os pais dele, decidiram que estava na hora da festa acabar mesmo porque já havíamos aproveitado demais. Soltaram a desculpa que o salão estava alugado só até tal hora. Mentira descarada para quem é rico o suficiente para comprar o salão.

Então chegou a hora de ir embora e tinha até me esquecido da minha possível carona para a casa.

Puta merda.

- Meu pai chegou. Vamos. – Guilherme avisa.

Nos despedimos dos nossos amigos, e percebo que ele nem olha na cara de Sky. Nossa.

Entramos no carro e digo oi para o seu pai que nunca havia conhecido, e agradeço pela carona. Ele bota um som de rádio bem alto, e Guilherme cisma que quer sentar no banco de trás comigo.

- Eu e Sky brigamos. Eu definitivamente não gosto mais dela. – A voz arrastada, no ápice de sua embriaguez. – O foda é que a Ágata também nem quis falar comigo direito. Eu consegui perder as duas meninas, mano.

- Talvez devesse ser assim mesmo.

- Sky também falou que acha que eu não faço bem para você. Você me acha um amigo de merda?

Olho de relance para o seu pai no banco da frente. Que se foda.

- É, depois do que rolou no meu aniversário, acho que sim, mais ou menos, sim.

Vejo pelo retrovisor o pai dele arquear as sobrancelhas, porém não comenta nada. O bom da citação do aniversário, é que se presume que ele fez algo ao menos para merecer aquela resposta.

- Bom, acho que é isso, então.

Ele se afasta de mim e encosta a cabeça na janela para dormir.

Sou deixado em casa por seu pai, e agradeço novamente a carona e lanço o famoso "desculpa qualquer coisa". Acho que é abrangente o suficiente.

Entro em casa e apago assim que meu corpo toca a cama.

***

- Vai levantar, não? O dia vai virar noite e você vai continuar dormindo. – Ouço minha mãe falar.

Abro os olhos com dificuldade, minha cabeça estourando. Olho o relógio.

São só duas e meia da tarde. Que exagero.

- Tô cansado.

- Bom, eu também, Matheus. E nem por isso durmo até duas horas da tarde.

- Eu estava numa festa. – Falo com a cara no travesseiro. – E é domingo. Me deixa.

- É, eu vou te deixar mesmo. – Ela coloca as minhas roupas recém-lavadas na escrivaninha. – Vou deixar você e seu pai cuidando dessa casa porque é isso que vocês merecem. Não se importam nenhum pouco comigo ou para a falta da sua irmã.

O céu é para todos [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora