15.

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Matheus

Acordo no meu quarto e o gesto de pegar meu celular é quase involuntário, mesmo com minha boca seca gritando por uma gota de água.

Que seja. 

Sei que estou de ressaca. Não precisa ficar me lembrando, corpo. Obrigado.

Porém antes que eu estique meu braço até minha mesa de cabeceira, percebo o curativo em minha mão direita.

Um enorme band-aid estava posto em minha palma.

Vasculho minha mente a procura de memórias da noite anterior.

Olho para baixo, e Cami está deitada ao lado de minha cama num colchão velho de solteiro. Ela dorme como uma pedra e enrola seu corpo minúsculo ainda mais, se encolhendo toda.

Sempre achei engraçado ela dormir assim. Eu sempre fui espaçoso e eram brigas e brigas quando dividíamos a cama porque ela chutava muito até se enroscar como um caracol em sono profundo. E meu sono era mais leve que uma pena. O mínimo barulho, ruído ou pesadelo, me acordava. O coração disparava, chegava até a minha boca e quando eu finalmente pensava que havia chegado minha hora, ele voltava a bater normalmente e eu descobria que tinha apenas acordado.

Pego o celular. Há uma mensagem qualquer de Guilherme e uma mensagem de voz de Vinícius.

Penso se quero ir até a cozinha e me arriscar esbarrar com minha mãe. Lembro que vomitei ontem. Sei disso porque me senti um pouquinho mais lúcido depois, assim que ela apareceu e discutiu com Camila.

É. Eu devo muito a minha melhor amiga.

Decido que minha reputação já está uma droga mesmo e acordar Cami vai ser o menor dos meus problemas hoje.

- Ei, Camila. - Dou um toque em seu braço, tentando despertá-la. - Ei, Cami! - Chego mais perto do seu ouvido e lhe dou quase um empurrão. Só assim pra acordar. Sinto que se a casa pegasse fogo ou fosse invadida por aliens ela nem notaria.

- Que foi? - Murmura.

- Acorda. Preciso que me diga o que rolou ontem.

- Você deu um PTzão. Sua mãe me odeia. Vamos levar esporro. Bom dia. Me dá mais 5 minutos.

Suspiro, impaciente.

O normal era eu ser o preguiçoso que dormia até mais tarde, mas a sede e o embrulho no estômago me fizeram despertar.

Tomo coragem e desço as escadas até a cozinha, fazendo o mínimo de barulho possível. A porta do quarto dos meus pais ainda estava trancada, torci para permanecerem dormindo.

Chego até a geladeira, me sentindo vitorioso. Bebo a água em goles tão rápidos que me lembro de uma notícia não muito confiável de que, basicamente poderíamos ter uma overdose de água se bebêssemos muito rápido e em grandes quantidades, logo em seguida me controlo um pouco. Algumas gotas escapam do copo e escorrem pela minha barriga.

Quase deixo o copo cair quando noto minha mãe saindo do banheiro do andar de baixo. Ela estava com um rodo e um pano de chão.

- Tá melhor, Matheus?

Assinto.

- Você podia ter deixado ai que eu limpava depois.

- Ah! Mas não limpava mesmo. Eu te conheço. - Minha mãe torce o pano no balde, deixando a água suja escorrer. - Eu sempre limpo sua bagunça. Desde pequeno. Nunca me deu paz. Foi fraldas, papinha e agora isso!

Minha mãe bota as mãos na cintura, pronta para a discussão. Eu não estou.

- Desculpa mesmo mãe. Sei que foi errado. As coisas fugiram do controle e...

O céu é para todos [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora