Capítulo 20

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- Eu vou morrer. Eu vou morrer. Eu vou morrer - não consigo parar de repetir isso. Me cérebro simplesmente parou nesse comando.

- Você não vai morrer. Eu não vou deixar - Ryder diz como uma repreensão e, por incrível que pareça, me senti mais aliviada com essa afirmação - Vem! - ele puxa o meu braço em direção à estante de livros.

- RYDER!!! Você vai sacrificar a sua vida por ela!? - meus cabelos da nuca se arrepiaram com o estrondo novamente - Ela não tem valor nenhum pra você!

- Ryder, o que você...? - antes de terminar de falar, Ryder puxou alguns livros sequencialmente e uma passagem secreta se abriu. A parede onde havia os livros, virou uma porta giratória, nos dando passagem para entrar.

- Por aqui - ele novamente me puxa e, ao passarmos, a passagem se fecha, bem na hora do dono da voz horripilante entrar na casa.

- Ryder!! - pude ouvir a voz grave mais próxima da gente.

Logo à nossa frente, havia um corredor escuro e úmido. E, quanto mais adentrávamos, mais eu não enxergava nada. Porém, parecia que Ryder sabia exatamente onde estava cada coisa, não me deixando tropeçar nas pedras, bater em alguma parede ou entrar em algum caminho errado.

- Eles têm a mesma aparência que a sua? - paro de correr abruptamente, causando um baque em Ryder. Antes da porta se fechar completamente, eu pude ver um pedaço do dono da voz, e ele tinha a aparência de uma pessoa "comum".

- Já ouviu falar em disfarce? - ele pergunta irritado. Mal dá tempo de eu responder a ele, quando ouvimos a passagem ser aberta.

- Qual é!? - ele fala um pouco alto demais - Ops... - voltamos a correr.

- Amora! Quer ver a sua mãe de novo? - minhas pernas travaram no lugar ao ouvir a pergunta.

Como ele sabe da minha mãe?!

- É um truque - Ryder não me deixa frear o passo novamente.

- Ele sabe de alguma coisa e eu preciso saber! - digo autoritária. A morte da minha mãe foi muito estranha. Quando eu encontrei seu corpo no chão em frente ao meu quarto, havia mais alguém lá. Logo em seguida, a casa pegou fogo e o corpo ficou quase irreconhecível. E, quanto a pessoa na casa, nunca contei pra ninguém, com exceção de Arthur, pois, não vi uma pessoa, vi um monstro, e ninguém acreditaria em mim se eu contasse.

- Amora! Não! - Ryder me repreende ao perceber que eu estava tentando voltar.

- Ryder! Sim! - solto o meu braço de seu aperto grosseiramente.

- Não seja idiota! - sua voz foi abafada por mais passos se aproximando. Pelo visto, foi chamado reforços.

- Você não manda em mim! E eu não estaria correndo perigo se não fosse por sua culpa! - me viro para ir de encontro com as respostas - Prefiro morrer do que continuar vivendo com a hipótese de que eu poderia ter salvado a minha mãe.

- Amora!

- Me esquece! - nem me dou o trabalho de virar. Sei que não vou conseguir vê-lo mesmo.

- Minha doce criança... - a voz grave fica mais calma - Eu posso trazer sua mãe de volta... se é isso o que deseja...

- Você promete? - grito para ele ouvir, enquanto que vou seguindo sua voz com as mãos levantadas para impedir que eu bata em alguma coisa.

- Sou um homem de palavra - ele ri secamente. Sua voz estava mais próxima.

- Como sei que posso confiar em você?

- Não sabe. Mas, o que tem a perder? - paro por um momento e raciocínio. Mas não mudo a minha opinião em nada.

- Ótima escolha - mesmo com o breu total, eu podia visualizar a figura à minha frente. Como se ele esbanjasse uma espécie de luz, embora essa luz me faça sentir calafrios.

- Me acompanhe - ele faz aparecer uma espécie de passagem, uma luz vermelha.

Eu ouvi uma vozinha na minha mente gritando para eu não entrar, mas eu não a escutei. Como eu disse, eu precisava saber. Fechei os olhos e entrei. Senti a presença dele logo atrás de mim, me seguindo de perto, conferindo se eu ia mesmo entrar.

Assim que entrei, fui cegada pela forte luz vermelha, um calor insuportável me possuiu e a sensação de estar imobilizada me dominou. Quanto a presença dele, não deixei de sentir por um segundo se quer. Podia sentir seus olhos fixos em mim e um sorriso de vitória nos lábios.

- Amora! - ouço outra voz grave, porém animada. E, ao abrir os olhos, me deparo com uma criatura horrenda.

Sua altura intimidadora de 3 metros, mais ou menos, sua pele queimada a um extremo nível, olhos sem a esclerótica, parecia duas bolas de gude vermelhas flutuando na escuridão, onde deveria ser os olhos, ombros largos e espinhosos, braços fortes e garras extremamente grandes, o cabelo escuro e espetado, mas os fios rodeados por chamas ardentes e os dentes completamente amarelos e afiados.

Apenas ele estava assim, pois o resto, estavam como seres humanos normais. Uns demonstrando serem adolescente e crianças, outros tinham a aparência de adultos e idosos. Me fazendo pensar que qualquer um podia ser um demônio onde eu vivo. 

- Como me conhece? - faço uma pergunta idiota e forço minha voz a sair firme.

- Eu sei de tudo - ele sorri horripilantemente, me causando novamente os arrepios na espinha.

- Quero ver minha mãe! - vou direto ao ponto.

- Ah... Sim. Sua sacrificadora...

- Minha o quê!?

- Que coisa, não? - ele se aproxima demasiadamente de mim, quase encostando sua testa na minha, me fazendo engolir em seco - Também foi difícil de acreditar no começo. Mas... quando soube da sua... visitinha à nossa dimensão... - ele gargalha - Não sabe a felicidade que tive.

- M-mas...

- Te proponho um acordo – ele fica sério.

- Q-que tipo de acordo?

- Você me ajuda e eu te mostro onde está a sua mãe - ele sorri.

- Te ajudar com o que? - minha voz sai trémula.

- Minha jovem... - ele vira de costas pra mim e cruza os braços por trás - Não sabe o poder que tem...

- Que poder?

- Você faz perguntas demais! - ele explode de raiva, me fazendo dar um passo para trás e esbarrar no cara quem me trouxe pra cá - Vai cooperar ou não!? Eu sempre consigo o que quero, e se não vai me ajudar por conta própria, farei do modo mais difícil. Mas aí, nunca mais verá a sua mãe - ele novamente volta a me encarar.

- E-eu... E-eu... Eu... - fecho os olhos com força - Topo – abaixo meu olhar, tentando convencer a mim mesma de que assim verei a minha mãe novamente.

- Perfeito! - ele sorri e, em um piscar de olhos, some, restando apenas uma fumaça cinzenta no lugar.

- O que vai acontecer agora!? - começo a me desesperar e olhar de um lado pra outro, desnorteada.

- Você vai levar todos nós para o seu mundo - o cara atrás de mim diz e começa a gargalhar. Todos ao meu redor o acompanham e começam a sumir um de cada vez, apenas restando uma fumaça cinza no lugar.

- Ei! E eu? - todos me ignoram, me deixando sozinha.

Quando penso que não poderia ficar pior, o lugar todo começa a pegar fogo. Fico paralisada no lugar por tempo demais, apenas desejando estar na minha casa novamente, segura com a minha tia, Arthur, Lorenzo e Natália, nunca ter descoberto outra dimensão, ser apenas uma adolescente comum descobrindo a puberdade e nunca ter perdido a minha mãe.

Comecei a correr em direção oposta ao fogo, porém, chego ao fim. Um muro impedia a minha saída, me forçando a encarar as chamas se propagando rápido demais.

E, como um último momento, a dor se alastrando por todo o meu corpo, o grito estridente saído de meus lábios e a última lembrança de minha mãe com vida.

Além Dos Limites De Sua DimensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora