Capítulo XXIV

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Nada parecia o mesmo.

As paredes do seu quarto, o corredor da escola, o seu grupo de amigos. Tudo estava diferente. Sem Flor ao seu lado tudo parecia mais cinza, sem graça, incompleto.

Gustavo se recusava a falar com Amanda e Ângelo, os culpava por ter piorado a situação de Flor quando as coisas já estavam ruins. Também não estava falando com Izabel porque achava que a menina a tinha abandonado quando ela mais precisava. De certa forma a maior concordava. Achava que não tinha insistido suficientemente, que não usou as palavras certas, em sua cabeça ela podia ter impedido Flor de ir embora.

Já fazia quase uma semana que ela tinha ido embora e como prometido ela ligava todos os dias para seu irmão para contar como estava e saber como as coisas andavam. Sempre aparecia com o mesmo discurso, de que estava bem e que esperava que todos estivessem bem também, esse que Gustavo repetia para Izabel todos os dias, o único momento em que ele trocava palavras com ela.

Era uma tortura para a garota, só saber de Flor o que ela contava para o seu irmão, mas era o único jeito de ter noticias dela já que a mesma não respondia suas mensagens ou atendia suas ligações. Izabel sentia sua falta, mais do que qualquer pessoa, ela acreditava, queria muito poder abraçar flor e sentir sua pele quente e macia, fazer cafuné em seu cachos longos, beijar seus lábios que tinham o gosto mais doce, mas não podia e tudo que a restava era admirar as fotos que as duas tiraram em seus momentos juntas e reler as mensagens carinhosas que trocavam.

Parecia ridículo ter que fazer aquilo para saciar a saudade que ela sentia, se sentia estúpida ao ler as mensagens e começar a chorar de novo, mas ela simplesmente não conseguia mais o que fazer para aliviar a agonia que sentia no peito. Então todas as vezes que ela aumentava e começava a machucar mais do que ela estava achava que podia suportar, era a aquelas coisas que ela recorria.

— Sabe, eu acho que ela volta. — Arthur diz se sentando ao lado de Izabel no recreio.

Nos últimos dias, por mais incrível que parecesse, os dois haviam se aproximado, uma vez que a garota foi atrás dele para saber de Flor, mas acabou escutando as mesmas coisas que Gustavo a disse.

— Acha? — Izabel pergunta desesperançosa.

— Sim, ela pode até enganar a família dizendo que está bem, que aquele é seu lugar, mas eu sei que não. Ela vai voltar.

— Tomara que seja logo então, não quero que ela fique lá se estiver sofrendo.

— Flor é mais forte do que parece, Izabel.

— Mas ela estava muito frágil quando saiu daqui.

— De fato. Ainda assim, acho que ela pode suportar a megera da mãe dela. Fez isso por 15 anos.

— Eu espero.

Quando o sinal voltou, os dois voltaram para sala, cada um sentando em seu devido lugar. Izabel sozinha com uma cadeira vazia ao seu lado, sempre guardada para a cacheada como se ela fosse passar pela porta a qualquer momento. E Arthur que se sentou ao lado de sua irmã.

A relação dos dois andava menos conturbada.

Arthur nunca perdoou Alice pelo que ela fez com Flor, não porque não queria ou porque não havia tentado, mas porque a garota não facilitou. Parecia que se recusava a encarar a verdade, não dava o braço a torcer, pelo menos não até aquela semana.

Ao saber que Flor iria voltar a morar com sua mãe, foi como se algo tivesse despertado na garota e por fim ela tomasse consciência de tudo que havia feito. Ela chorou como nunca antes e até mesmo quis ir atrás da cacheada, trazê-la de volta. Se não fosse pelo seu irmão, que a consolou e segurou seu braço, mesmo ainda estando magoado com ela, Alice teria entrado no primeiro ônibus para sua antiga cidade.

Doce Néctar - Romance Lésbico | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora