Capítulo XXIX

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— É como estar no primeiro dia de aula de novo. — Flor diz sentada ao lado de seu irmão.

Desde que chegou sentiu como se todo mundo a encarasse pelos corredores e dentro da sala de aula. Era estranho e a deixava constrangida, parecia que todo mundo sabia o que tinha se passado com ela ou com sua família, todos cochichavam enquanto ela passava com seu irmão e só parou quando chegou na sala.

— Sinto muito — Guto diz — Muitas fofocas se espalharam depois que você foi embora, sabe?

— Como se minha vida fosse tão interessante assim.

— É mais agitada que a maioria. — Responde dando de ombros — Inventaram todo tipo de coisa, que você tinha fugido de casa, que estava internada no hospital, até que tinha morrido.

— Quase aconteceu — Flor solta sem querer enquanto tira seu material da mochila, mas percebe que seu irmão respondeu nada. Ela levanta a cabeça e percebe que o comentário não tinha soado da mesma forma que em sua cabeça, o silêncio se instaurou entre os dois e Guto pareceu certamente desconfortável. — Muito cedo?

Guto não diz nada, apenas dá de ombros e acena positivamente com a cabeça. Flor o encara por alguns segundos e Guto entende que ela não fez por querer. Os dois continuam a se falar normalmente enquanto os alunos entram na sala, alguns cumprimentam Flor de longe, outros passam reto, já que nunca chegaram a ter qualquer tipo de contato com a menor. Foi quando Izabel atravessou a porta, encarava o chão e parecia levemente cansada, talvez entediada com a segunda feira cinza que começava fora das escolas.

Permaneceu do mesmo jeito até sentar no seu lugar na frente de Flor, nem sequer cumprimentou a menor ou seu irmão, respirou fundo e ficou de costas enquanto alongava o pescoço e resmungava alguma coisa incompreensível.

— O mau humor matinal não mudou, pelo jeito — Flor anunciou chamando sua atenção.

Foi como um estalo para Izabel, rapidamente ela se virou com um sorriso no rosto e um brilho que há muito tempo não mostrava. Flor sorriu de volta e as duas se encaram por um tempo antes de Gustavo tossir indicando que ainda estava ali.

— Então resolveu voltar finalmente? — Pergunta animada.

— Já estava na hora. — Responde no mesmo tom.

As duas continuaram conversando enquanto Guto somente observava, mesmo sabendo que nenhuma das duas iniciaria qualquer tipo de conversa séria, o mais velho queria se certificar que nenhum assunto inconveniente entraria na roda, achava que sua irmã ainda estava muito fraca para lidar com qualquer coisa muito séria.

Não demorou muito para o resto da sala chegar. Ângelo e Amanda passaram pela porta mas não olharam para Flor, se sentaram muito longe do resto do grupo. Flor achou que era porque a culpavam pelos últimos acontecimentos, mas Guto logo lhe disse que na verdade eles se culpavam pelo que tinha acontecido com ela. A garota então fez uma anotação, precisava resolver mais esse problema antes de poder ter calmaria na sua vida.

Quando Alice atravessou a porta Flor lhe abriu um leve sorriso e acenou e Alice retribuiu do mesmo jeito, Gustavo e Izabel demonstraram confusão, a maior fechou a cara por alguns segundos antes de voltar a encarar a lousa e Flor indicou que explicaria depois, pois logo o professor começou a aula.

Se eles estavam confusos era porque Alice provavelmente não tinha os contado sobre a conversa que elas tiveram no baile, provavelmente porque não acreditariam se ela dissesse que as duas tinham se acertado.

Por fim, Flor assistiu todas as aulas e assim que o sinal tocou para o recreio, puxou Izabel pelo braço e a arrastou até atrás da escola onde ambas costumavam se encontrar, não pretendia arrumar a confusão ali agora, mas iria explicar a situação com Alice para que as coisas não ficassem mais bagunçadas, seu irmão podia esperar mais um pouquinho.

Doce Néctar - Romance Lésbico | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora