Capítulo XXII

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A manhã ensolarada não fazia nenhuma justiça ao clima nos corredores da escola. Parecia que todos os alunos sabiam do que estava acontecendo na vida de Flor, o que era praticamente impossível. O que não era impossível era perceber o humor da cacheada que andava em passos largos pela escola tentando chegar a sua sala.

Sua expressão era um vazio cansado, suas olheiras nunca estiveram tão grandes, o cabelo preso em um grande rabo de cavalo tinha cachos opacos transpareciam seu humor.

Ela tinha acordado calada e assim permaneceu até o exato momento. Nem mesmo Guto tinha conseguido arrancar da menor sequer um bom dia moribundo. Sua cabeça e sentimentos estavam bagunçados com todos os acontecimentos recentes e ela sentia que nem mesmo conseguia respirar com a pressão que sentia sob seu peito. Tudo parecia estar dando errado ao mesmo tempo e ela sabia que não tinha psicológico para lidar com aquilo tudo e decidiu que se afastar, até de si mesma, era a melhor solução, por enquanto.

— Problemas no paraíso, Florzinha? — Escuta Alice ao chegar no corredor de sua sala e responde com seu pior olhar frio para a loira.

Acelera o passo e entra em sua sala seguindo direto para o seu lugar, como hábito olha em volta procurando por Izabel, mas somente encontra Ângelo e Amanda sentados duas cadeiras à frente. Os três trocam olhares e foi suficiente para que ambos entendessem que ali não havia espaço para conversa ainda. Flor encosta a cabeça na parede e fecha os olhos por alguns segundos procurando paz, mas não demora muito a perceber que naquele momento era a última coisa que ela teria quando Alice se senta ao seu lado com um sorriso cínico e olhar maquiavélico.

— Então quer dizer que o conto de fadas acabou? — Zomba ácida.

A cacheada a ignora agora procurando por Gustavo que ainda não tinha entrado na sala.

— Afinal eu estava certa no final, vocês nunca teriam um final feliz que você fantasiava.

— Eu nunca fantasiei nada. — Responde seca começando a perder sua paciência.

— Mesmo? Podia jurar que vocês duas achavam que todo romance era para sempre.

— Se você tirou suas próprias conclusões eu não posso fazer nada.

— Sabe de uma coisa? Não me admira você ter conseguido acabar com tudo mais uma vez.

Flor encara Alice sem entender o que ela queria dizer com aquilo, ela já estava ficando possessa com as tiradas da loira e não faltava muito para perder o resto da pouca paciência que ainda lhe restava

— Você usou Izabel para satisfazer sua idealização ridícula de um romance e quando as coisas começaram a dar errado e fugir do seu sonhozinho patético, você fugiu, porque era mais fácil. Fez isso comigo e está fazendo com ela.

— Sinto muito Alice, mas que eu me recorde a pessoa que toma escolhas deploráveis e imaturas porque elas são mais "fáceis" é você. — Diz levantando o tom de voz percebendo que aos poucos a turma começava a perceber a tensão entre as duas. — E eu fugi de você para não ter que encarar seu rosto cínico e suas atitudes repulsivas. — Vomita as palavras na garota sabendo que ela tinha conseguido tirar o pior de si.

— E está fugindo de Izabel por quê?

— Porque diferente de você, eu sei me afastar quando percebo que machuquei alguém. — Diz sentindo a voz embargar e chegar ao seu limite.

Alice perde um sorriso em sua face e por alguns segundos seu olhar transparece compaixão pela menor. Apesar de tudo ela ainda achava que era apaixonada pela garota. Ainda assim ela esconde esse sentimento e retorna com seu olhar ácido e impiedoso.

Doce Néctar - Romance Lésbico | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora