Capítulo VI

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No aconchego em que Bel e Flor se encontravam, a morena dormia tranquilamente enquanto rodeava os braços em volta do corpo da cacheada que mantinha um sono profundo e distante.

Longe em seus sonhos, Bel começa a escutar um barulho repetitivo e alto. Aos poucos a garota percebe que o som não pertence ao seu sonho. A morena desperta e abrindo os olhos com dificuldade vasculha o quarto rapidamente tentando encontrar de onde vinha o som. Ao checar seu lado do criado muro, se depara com seu celular tocando com uma ligação de Guto. Rapidamente pega o celular e corre até o banheiro, afim de não acorda Flor.

— Alô. —Atende ainda com voz de sono.
— Izabel, Flor está aí?

Do outro lado da linha Guto pergunta desesperado.

Sim. —Responde seca.
Graças a Deus! Ela nunca foi de sair sem avisar e está sumida há horas.
— Deve ser por causa da discussão dos seus pais. —Continua com seu tom rude.
— Discussão? Do que você está falando?
Estou falando da discussão que seus pais tiveram hoje e que Flor escutou. Discussão essa que era sobre como eles achavam que ela era uma praga e uma desgraça que rondava tudo que vocês tem. Agora, vai se fazer de sonso mesmo, Gustavo?
— Izabel, eu juro que não sei do que você está falando. É simplesmente impossível eles terem falado isso. Meu pai ama Flor e minha mãe...

Guto tenta terminar sua fala, mas é interrompido por Bel, que havia perdido fio de paciência que lhe restava.

Nossa, quanto amor! Então me diz, por que encontrei Flor aos prantos na rua? Sorte que eu estava saindo de casa quando ela trombou em mim chorando incessantemente. Demorou muito para conseguir acalmá-la e tenho certeza absoluta que ela não está assim por nada, Gustavo. Ela está muito mal, muito mesmo.

Um silêncio se instala na ligação. Do outro lado da linha Gustavo se encontra perdido, sem rumo.

Eu... Eu não sei o que dizer. Vou conversa com meus pais agora, não some.

A ligação termina e Bel respira fundo, nunca tinha falado com Gustavo naquele tom, mas a raiva tomou seu corpo e tudo que ela queria era mostrar a Gustavo quão machucada Flor estava e fazê-lo pagar pelas ações dos seus pais. Não era certo, e ela sabia disso, contudo ela tinha ficado cega e mais tarde se desculparia por seu comportamento.

Saindo do banheiro a garota se depara com Flor ainda dormindo. Procurando relaxar, a morena vai até seu closet escolhe uma roupa confortável e toma uma ducha quente para relaxar os músculos. Fica de baixo do chuveiro por um bom tempo deixando a água quente, que quase queima sua pele, escorrer por toda extensão do seu corpo e sente sua tensão muscular melhorar.

Mesmo tentando se manter imparcial, Bel não conseguiu não tomar as dores de Flor, não conseguiu não se colocar no lugar dela. Quando viu a menor chorando, quando viu a dor em seus olhos, a morena sentiu instantaneamente a vontade de confortá-la, de ajudá-la, de tirar toda dor que ela pudesse estar sentindo.

E o motivo? Além de Bel entender o sentimento de ser desprezada pelo seu próprio pai, ela também não podia negar que nutria sentimentos pela menor. E podia parecer maluco, e de certa forma era para Izabel. Ela nunca se imaginou tendo uma "paixão a primeira vista" por uma garota, ainda mais dentro de um ônibus. Ela podia lembrar até hoje a sensação do formigamento na ponta dos dedos, o coração na garganta e o frio na barriga. Nunca tinha se sentindo assim antes.

Bel sorri com a recordação do dia. Ela podia fechar os olhos e ver novamente tudo que aconteceu. Era um dia nublado e Izabel, Ângelo e Amanda tinham saído para fazer compras. Izabel se negou a ir quando foi chamada da primeira vez, nunca foi de sair pra comprar roupas, mas no final acabou sendo convencida pelo seu amigo. Ao final da tarde, quando já estavam todos exaustos de andar, decidiram voltar para casa. Por sorte assim que chegaram no ponto, o ônibus chegou. E quando Bel entrou, foi automático. Seus olhos pousaram em Flor que mantinha sua cabeça encostada, com fone de ouvidos e olhos fechados.

Doce Néctar - Romance Lésbico | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora