Capítulo XXIII

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Encarar os olhos de seu pai e seu irmão naquele instante foi uma das piores coisas que Maria Flor tinha feito em sua vida, a pior tinha sido dizer a eles que estava indo embora com sua mãe.

A garota escutava enquanto eles e Mônica tentavam a convencer a ficar e era como se cada palavra enfiasse uma adaga em seu coração. Ela queria ficar, queria muito, queria poder pedir para sua mãe ir embora e nunca mais voltar, mas ela simplesmente não podia. Não podia deixar que eles tivessem que mudar toda sua vida e abdicar de toda felicidade e tranquilidade para que ela pudesse ter uma vida longe do seu pior castigo.

Seria egoísmo demais.

O pai de Flor se aproximou dela e segurou suas mãos com força, fazendo-a prestar atenção no que ele dizia, seus olhos mostravam agonia e tristeza e aquilo feriu ainda mais a menor.

— Flor, você não precisa ir embora. — O pai disse como aquele fosse seu último suspiro.

Flor respirou fundo, tentou segurar as palavras que estava prestes a dizer, mas sua mente gritava que já não tinha mais volta.

— Mas eu quero ir. — Falou de uma vez, assistindo ele se afastar completamente derrotado e se juntar a Mônica que segurou seu braço e limpou as lágrimas que começaram a cair em seu rosto. Gustavo parecia ter perdido todas as suas forças, sentado no sofá ele apoiava a cabeça entre as mãos e seus ombros balançavam indicando que ele chorava. — Eu vou pegar as coisas que trouxe para cá.

Assim que disse, ela seguiu para o seu quarto e fechou a porta atrás de si, caindo de joelhos e soltando de uma vez toda dor que estava sentindo em seu corpo, ainda assim tendo que segurar o grito em sua garganta que rasgava ela de dentro para fora.

Pensando que quanto mais rápido pegasse suas coisas, mais rápido tudo aquilo acabaria, ela se levanta do chão e pega sua mochila que havia guardado no fundo do closet. A mesma com que havia chegado naquela casa, a mesma que ela achava que nunca mais precisaria usar. Ela a abriu e começou a pegar as poucas coisas que havia trazido, apenas jogava dentro da bolsa, sem cuidado nenhum, quanto terminou, fechou a mochila amarrotada e jogou em cima da cama.

Ao olhar em volta, soube que sentiria saudade de tudo. Ela estava prestes a pegar a mochila e colocar em suas costas quando a porta se abriu. Um perfume muito conhecido invadiu o seu nariz e ela travou, não sabia se olhava para a pessoa, ou continuava de costas. Seu corpo estava todo arrepiado e suas mãos começaram a suar frio.

— Então é verdade? — Izabel pergunta fechando a porta atrás de si. — Você vai embora?

Flor não respondeu, apenas se virou para encarar a morena nos olhos. Não conseguiu segurar as lágrimas que deslizavam livremente por sua face, mesmo com ela mantendo uma face neutra.

— Por que? Flor, eu achei que você estava feliz aqui. Com seu pai, seu irmão...

— Acredite Izabel, não tem nada que você vá dizer, que eu não tenha escutado da boca deles.

— Então você vai escutar de mim, agora.

— Nada vai me convencer a ficar. — Flor diz mais dura do que de fato parecia estar. Seu coração parecia que já não ia mais aguentar de tanta dor e seu pulmão parecia estar esmagado porque não parecia que o ar estava chegando neles.

Izabel se aproximou da garota e segurou suas mãos encarando em seus olhos, ela não disse nada, apenas fitou os olhos da menor, sabia muito bem que Flor estava muito machucada, talvez o melhor não fosse pedir que ela ficasse.

— Tem certeza? — Izabel sussurrou com seu último fio de esperança e Flor apenas concordou com a cabeça deixando-se receber da morena um abraço cheio de significados. Izabel a apertou forte contra o corpo e escutou a cacheada respirar fundo , ficando por alguns segundos menos tensa e então a garota a soltou e levou suas mãos até o rosto molhado da menor, encostou suas testas e fechou os olhos por algum segundo, aproximou seus lábios aos lábios de Flor e os selou num selinho longo de despedida.

Doce Néctar - Romance Lésbico | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora