Doce Néctar - Romance Lésbico | COMPLETO

Capítulo IV

Flor respirava fundo enquanto sentia seu corpo boiar sob a água com ajuda de Bel, que matinha suas mãos nas costas da menor. Com os dedos já enrugados e a brisa fria da noite trazendo calafrios, passavam das 18 horas e as meninas eram as únicas que ainda estavam na piscina.

Izabel observava a cacheada deitada em suas mãos, iluminada somente com a luz da lua. Parecia que por alguns segundos, a morena conseguia deixar pra trás todos os problemas em casa e se concentrar somente na paz que Flor parecia transparecer com tanta facilidade, paz que ela desejava.

A morena apesar de não demonstrar, estava passando por uma turbulência enorme em sua vida. Após perde sua irmã em um acidente de carro quando muito pequena e sua mãe para o câncer, a garota era obrigada a lidar sozinha com o turbilhão de sentimentos e traumas que ela guardava dentro de si, enquanto via seu pai afogar tudo no trabalho, quase nunca prestando atenção na garota.

— Não sei quem é que está mais distante, se sou eu, ou se é você. —Flor diz finalmente se colocando de pé e encarando a maior.
— Tenho certeza de que sou eu.
— E o que te carrega para tão longe daqui?
— Te levar nessa viagem agora, não faz parte dos meus planos. E o que te carrega, se parece tão em paz?
— Pareço?
— Tanto, que traz paz a quem está perto.
— Pois acredito que estou tão longe que parece que nem estou aqui, talvez por isso a paz.
— E onde é esse tão longe?
— Tens a passagem pra embarcar? —Diz arqueando a sobrancelha.
— Não, mas gostaria de adquirir.

Flor solta um sorriso leve, morde os lábios de dentro e dá as costas para Izabel se escorando na borda da piscina. Pensativa, a menina olha para estrelas procurando as constelações que antes via na casa de sua mãe. Noites e noites dando novos nomes a todas as constelações que encontrava "Coisas que brilham tão forte e são tão lindas não podem ter nomes tão medonhos". Ri com a lembrança.

— Quando eu era menor, eu ficava no jardim de casa, procurando constelações e renomeando todas elas. Eu desenhava todas num caderno e as batizava do jeito que mais me agradasse.
— Então você estava no passado?
— E não é para lá que todos vamos quando nos perdemos? Pelo menos é pra lá que ando indo.
— Por que?
— Deixei muita coisa lá, muitas pessoas.
— Cabe a mim pergunta quem?
— Minha mãe, meus amigos, um em especial.
— Não mantém contato?
— Melhor assim.
— Por que?
— Minha mãe, bem... Partiu dela esse afastamento. Já meu amigo, ele não precisava de tanto caos na vida dele, e me sentiria culpada levando a carga da minha vida para cima dele.
— Amigos são feitos para dividir as coisas e aconselhar.
— Você está certa, mas eu preferi assim. Dessa forma eu não o machuquei e deixei as consequências de tudo que me passou não o atingissem.
— E o que te passou?

Flor encara Bel, abre a boca algumas vezes, balbucia algo, mas nada sai. Seu passado, além de recente, ainda era um assunto do qual a mesma não estava pronta para dividir. A garota então sai da piscina rapidamente pegando sua toalha e Bel a acompanha.

— E-eu não quis passar dos limites. —Diz atrás da menor.
— Não passou.
— Flor, desculp-
— Não se desculpe.

Sem deixar a maior continuar falando, ela entra disparada na sala e corre em direção ao quarto para pegar suas coisas. Izabel logo atrás observa a cacheada sumir escada acima sem entender o que havia acabado de acontecer.

— O que aconteceu? —Guto pergunta preocupado.
— Acho que fui longe demais.
— Ela fugiu do beijo de novo? —Amanda pergunta curiosa.
— Não. Guto, é melhor ir falar com ela.
— O que aconteceu, Bel? —Insiste.
— Estávamos conversando e perguntei sobre um assunto que não deveria.

Gustavo respira fundo e levanta do sofá calmamente já entendendo toda situação e de qual assunto se tratava. Ele sabia em qual ferida Bel, sem querer, tinha tocado e sabia como aquilo ardia no peito de Flor.