Era domingo e o dia estava estranhamente pacífico comparado aos dois dias anteriores. Os únicos sons que soavam pela casa eram os da televisão e os da risada de Guto que passara a tarde inteira assistindo série junto de Flor, cuja mal prestou atenção no programa.
A sensação estranha de calmaria tinha passado tanto tempo distante que agora que Flor a tinha, não estava acostumada. Parecia até mesmo que a menor se encontrava em estado de alerta. Pensava a todo tempo que sua mãe podia te ligar, ou seu pai podia surtar e a mandar embora, ou qualquer outra coisa que fosse balançar abruptamente os sentimentos dela. Qualquer coisa que pudesse desestabilizá-la.
Ela checa o celular para saber o horário pela décima vez e só havia passado três minutos desde a última vez que havia olhado. Respira fundo e começa a bater o pé no chão, checa o celular de novo, nada novo.
É um dia comum, apenas um domingo comum, com um almoço em família comum e uma tarde tediosa comum.
Nada novo, certo? Não.
A menina não estava acostumada. Por várias semanas seus dias são a base de emoção, adrenalina e drama. E do nada tudo simplesmente para? Não era normal, não para ela.
Ela se deita no sofá apoiando os pés sob as pernas de Guto e bufa impaciente consigo mesma.
"Nada vai acontecer, deixe de ser paranoica" — Bronqueia-se.
Respirando fundo, ela volta sua atenção a televisão, mas não antes de seu irmão perceber sua inquietação.
— Flor? — O irmão chama sem resposta — Flor eu sei que você não está bem, aconteceu alguma coisa?
A menina encara Gustavo, se senta no sofá fazendo perninha de índio. Ficou receosa em dividir com o garoto suas agonias, mas quem melhor que seu irmão para entendê-la?
— Guto, o dia não está... calmo demais?
O menino dá ombros balançando a cabeça negativamente indicando que não entendeu a questão.
— Tipo, pacífico, sem drama, sem... Sei lá, não tem absolutamente na-da acontecendo.
— Os domingos costumam ser assim, Flor. Calmos, tranquilos e tediosos.
— Meus domingos nunca eram assim. — Revela com um sorriso distante em seu rosto.
— Por que não?
— Eram os dias de folga da minha mãe, ela passava o dia todo dentro de casa e descontava todo seu estresse em mim. — Flor responde tentando parecer indiferente ao passado.No canto da sala, seu pai se encontrava encostado na parede, escutando o que a menina dizia e desejando ter conseguido impedir ela de passar por todos aqueles traumas.
Ele se culpava, mesmo que tivesse feito tudo que estava ao alcance de suas mãos, ainda sentia que não tinha feito o suficiente. Pensava que devia ter procurado mais, ter contratado mais detetives. Miguel admitia que depois de 15 anos sua esperança havia morrido, ele não tinha mais expectativas de um dia encontrar com sua amada filha. Pensava que com tanto tempo, se a menina nunca foi atrás dele era porque talvez ela não quisesse um pai, com a ideia de que ele não se importava com sua existência.
Só Deus sabe quanto Miguel pediu pela volta da filha, pediu por mais uma chance de a segurar nos braços e a quantidade de promessas que fez, tantas que uma vida inteira não conseguiria pagar.
O pai se aproxima de sua filha, senta-se ao seu lado e a passa o braço pelo seu ombro te passando conforto.
— Isso não vai mais acontecer, minha filha. Não posso mudar o passado como gostaria, mas o presente está ao alcance das minhas mãos e eu te prometo, do fundo do meu coração, que tuas memórias ruins vão se torna apenas cicatrizes do passado e que as memórias cheias de amor que nós, como sua família, vamos criar, vão fazer com que você nem se lembre delas.
— Ou seja, muitos domingos tediosos a partir de agora maninha.
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Doce Néctar - Romance Lésbico | COMPLETO
RomanceFlor é uma garota que tenta veementemente fugir do seu passado para seguir em frente e faz o possível para que ele não afete seu presente, principalmente depois que conhece Izabel, alguém que tira suspiros da adolescente e faz seu coração errar as p...