Capítulo XXVII

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Cheiro de álcool e medicamentos invadiram os sentidos de Flor. A luz forte impedia que ela abrisse os olhos, mas de longe ela escutava "bips" de algum aparelho e um falatório ainda mais longe. A garota não se preocupou em se mexer ou sequer avisar alguém que tinha acordado, apenas permaneceu parada, esperando adormecer novamente.

Sua memória estava vaga e tonteada, parecia que tudo era um borrão depois que afundou pela última vez na água. A única coisa clara era a imagem de estar deitada na areia da praia vomitando toda a água do mar que tinha engolido e apagar logo seguida. Depois tem apenas uma imagem borrada de estar na ambulância enquanto um dos paramédicos lhe davam oxigênio. Tentaram mantê-la acordada, mas a garota estava cansada demais.

Flor olha em volta do quarto, era todo branco, tinha duas poltronas bege postas uma do lado da outra, além dos aparelhos médicos ao seu lado. A sua frente, uma porta e uma janela, ambas fechadas. A garota não sabia que horas eram, mas assumiu pela movimentação no corredor que já era de manhã. Se ajeitando na cama, ela começou a encarar o teto em silêncio, sua cabeça aérea e vazia demais para conseguir pensar em qualquer coisa.

— Então você já está acordada? — Um médico disse entrando no quarto e fechando a porta atrás de si. — Que ótimo. — Disse checando seus sinais vitais. — Maria Flor, certo? Você se lembra do que aconteceu? Sabe por que está aqui?

A menor apenas balançou a cabeça positivamente enquanto o doutor colocava uma pequena lanterna em seu rosto balançando de um lado para o outro, talvez checando seus reflexos.

— Pode me dizer então?

— Eu me afoguei. — Disse curta enquanto sentava-se na cama sabendo que agora já não adiantava mais fingir que estava dormindo.

— Exatamente. Para sua sorte, ocorreu tudo bem. Você foi retirada a tempo da água e os salva-vidas e paramédicos fizeram um ótimo trabalho com você, nos deu o suficiente para conseguir te aquecer e tirar o resto da água do seu pulmão.

Mais uma vez a garota só assente com a cabeça.

— A falta de oxigênio não aparenta ter danificado nenhuma parte do seu cérebro, o que significa que só vamos precisar fazer alguns poucos exames antes de você receber alta. Tudo bem?

— Uhum.

— Ótimo, sua família está aqui fora, vou avisar que você já acordou bem.

O médico então saiu deixando Flor sozinha mais uma vez.

Sabendo que a qualquer momento sua mãe entraria pela porta e brigaria com ela pelo trabalho e confusão que ela tinha dado. Provavelmente Aline não se importava com o que tinha acontecido de fato, contanto que Flor não estivesse morta — o que geraria mais trabalho para ela.

Não era difícil de adivinhar o que a mulher diria. Ela provavelmente esperaria o médico sair para apontar o dedo na cara de Maria Flor dizendo como ela só estava tentando chamar atenção, reclamar do tamanho do problema que ela tinha causado e o que tudo aquilo lhe custaria.

Aline só se importava com o tempo que tinha perdido.

Antes, Flor se perguntava como uma mãe via sua própria filha como uma perda de tempo, mas agora ela só pensava que era mesmo uma perda de tempo.

— Graças a Deus! — Foi a primeira coisa que Flor escutou quando seu pai entrou no quarto abraçando-a fortemente, logo depois de seu irmão e sua madrasta.

O abraço durou alguns minutos, antes de todos saírem de cima da garota que agora tinha um ponto de interrogação no rosto.

— Meu bem, como você está? — Mônica perguntou segurando na mão da menor.

Doce Néctar - Romance Lésbico | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora