Capítulo XXVI

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Já fazia quase sete horas da manhã quando Flor escutou o click na porta avisando que ela havia finalmente sido destrancada. A garota tinha passado o final de semana inteiro presa dentro do seu quarto, se alimentando somente com que sua mãe passava pela porta de três em três horas. Grande parte da comida ainda se encontrava dentro do seu quarto, Flor não tinha ânimo nem mesmo para comer e parecia que seu corpo não fazia questão de reclamar porque seu estômago nem mesmo chegou a roncar.

Era muito difícil.

Flor não se arrependia nem por um segundo de ter saído da casa do seu pai, tinha certeza de que eles estavam bem melhor sem ela. Independentemente do que Alice tinha dito, estava convencida de que tomou a melhor decisão que poderia ter tomado. Ainda assim machucava demais, a infelicidade de morar com sua mãe não se alojava somente na casa, a cidade inteira parecia infestada com o humor cinza.

Mesmo assim, Flor não conseguia chorar mais, todas as forças do seu corpo tinham se esgotado e sua caixinha de lágrimas estava fazia. Ela achava que suas lágrimas tinham se esgotado ou só que não tinha mais nada para chorar. A grande verdade é que tudo que ela tinha passado tinha machucado tanto que já não sobravam espaços para feridas. Agora o que permanecia dentro dela era um vácuo, um vazio onde sua consciência e sentimentos flutuavam infinitamente, sem rumo ou direção.

Quando a garota chegou na escola, já não estava mais com medo das pessoas virem para cima dela, na verdade esperava que viessem, queria que trombassem nela e que gritassem até ela explodir. Assim, ao menos ela teria um motivo para sentir alguma coisa, teria motivo para extravasar e gritar para quem sabe diminuir o espaço imenso que estava em seu peito e mente.

Sentando-se no seu lugar na sala, ela assistiu professor por professor entrar e sair sem, de fato, prestar atenção no que eles falavam. Escutava cochichos e risadas em sua direção, encaradas raivosas e esnobes que até já tinham se tornado rotineiras demais para Flor dar qualquer tipo de atenção, na verdade deixou até alguns sorrisos de deboche escaparem uma vez ou outra.

Às vezes sua memória vagava e chegava até Izabel, fazendo a menor sentir um aperto no peito lembrando-a da saudade que sentia da morena. A olhou para o seu lado da cadeira vazia e desejou que ela estivesse ali. Flor sentia falta do seu carinho, do seu beijo, da sua presença e isso a machucava ainda mais.

Assim que o sinal do intervalo tocou, ela saiu da sala em direção a biblioteca onde normalmente ficava até o final do recreio. Caminhando pelo corredor ela percebe dois garotos atrás dela seguindo-a por todo caminhou. Passou direto pelo corredor da biblioteca e virou no próximo corredor à direita somente para ter certeza de que estava sendo perseguida, foi então que se virou para encará-los.

— Posso ajudar? — Pergunta com a voz calma e um sorriso falso.

— Pode sim, Florzinha — Um dos garotos responde enquanto ambos se aproximam segurando a menina pelos seus braços e a arrastando até a porta mais próxima, entrando na sala de música.

— O que vocês estão pensando? Perderam a porra da cabeça? — Pergunta irada enquanto encara os garotos, os quais ela nem conhecia, que a soltaram assim que entraram na sala.

— Tem algumas pessoas que querem bater um papinho com você. — Um deles responde e logo em seguida os dois saem fechando a porta atrás de si.

Flor corre e tenta abrir a porta somente para perceber que estava trancada de novo.

— Maravilha! — Ela grita enfurecida.

Flor olha em volta do lugar, se parecia mais com um auditório do que uma sala de música, estava tudo escuro com um único foco de luz no meio onde a garota se encontrava, mesmo assim dava para ver vários instrumentos, também havia um palco e um cadeiras parecidas com as de cinema para as pessoas se sentarem. A sala deveria ser nova pois a garota não se lembrava de ter vindo ali antes, nem mesmo quando ainda estudava com Alice e Arthur na escola.

Doce Néctar - Romance Lésbico | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora