Capítulo XIII

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O relógio sob a cabeceira marcava 15h45 e o "tictac" ininterrupto, que parecia acelerar cada vez mais, só deixava Flor mais ansiosa. Sentada na cadeira de sua escrivaninha, num gesto involuntário ela bate a caneta na mesa freneticamente deixando Gustavo e Bel, que a fazem companhia no quarto, preocupados.

Mais cedo na escola a garota tinha tomado coragem e chamado Arthur para conversar em sua casa e desde então ela mal conseguiu relaxar, nem mesmo as piadas de seu irmão estavam ajudando. Podia se lembrar bem da reação do garoto quando ela o abordou na escola com um papel com o endereço escrito nas mãos. Ele manteve o rosto simpático, mas Flor conseguir ver em seus olhos um brilho diferente e o receio dele ao pegar o papel apesar de ter aceitado o convite no instante em que recebeu.

Flor passava por sua cabeça todas as possibilidades de onde a futura conversa podia chegar. Eles podiam para de se falar de vez ou, ficarem mais amigos do que nunca, quem sabe não quererem nunca mais olhar na cara um do outro. A última opção chegava a arrepiar os pelos de sua nuca. De certo que antes do menino reaparecer na sua vida ela achava que estava bem sem a sua amizade, mas a grande verdade é que sentia uma saudade que chegava a sufocar e escondia ela atrás de todo seu medo e angústia.

Sente Izabel se aproximar massageando seu ombro deixando alguns beijos em seu pescoço, esses que faziam seu íntimo pesar e seu corpo pedir por mais de seus lábios quentes. A menor gira a cadeira para ficar de frente com sua morena que sela suas bocas num toque tênue e molhado e só aquele gesto foi suficiente para devolver o ar que faltava nos pulmões e seus músculos relaxarem um pouco. Era um pouco assustador o poder que a morena tinha sob sua mente, coração e corpo, poder esse que a cacheada sabia que Bel não fazia a mínima ideia que tinha, mas que aos poucos iria ficar impossível de esconder. Flor senti a maior depositar suas mãos sob sua face e geme de frustração ao senti-la se afastar.

- Você tem que relaxar, anjo. É só uma conversa, não vai acontecer nada demais. - Bel diz encarando a menor com compaixão.
- Verdade, não há nada para se preocupar, Flor. -Completa seu irmão deitado na cama.

Os dois estavam ali porque a mais nova sabia que ia ficar pilhada e precisaria de ajuda para não surtar e sair correndo antes do garoto chegar. Apesar de já ter passado por coisa pior, ela não sabia seus limites e como sabia que seu irmão e Bel seriam uma das únicas pessoas a ajudar ela havia os chamados para ficar com ela, pelo menos até o garoto chegar.

- Eu sei, é que... Sei lá, já se foi tanto tempo e ainda parece tão difícil.
- E vai continuar sendo até você enfrentar tudo isso. - Guto diz com sinceridade.
- É o que estou tentando fazer, eu sei que fugir e me esconder não vai ajudar.
- Nós sabemos disso e por isso estamos aqui. - Bel diz acariciando a face de Flor.

Três batidas na porta anunciam o que estava prestes a acontecer. Flor encara a porta sem dizer nada esperando que quem for que esteja atrás dela suma, ou que ela suma. Gustavo se levanta da cama apressado em abrir sem se dar conta do nervosismo que tinha se instaurado no corpo de sua irmã, mas para alívio da cacheada era apenas a governanta.

- Gustavo querido, pode avisar a sua irmã que o amigo dela, um loirinho, acabou de chegar. Tá lá embaixo esperando por ela.
- Pode deixar Ângela, ela já vai descer.

O menino fecha a porta e encara a menor que se encontra sem cor nenhuma. Travada com os olhos paralisados elas balança a cabeça enquanto afunda as unhas no estofado da cadeira.

- Acho que eu já vou indo então. - Izabel anuncia. - Vou deixar vocês a sós para conversarem melhor.
- E-eu te acompanho até a porta. - Diz encarando o nada e se levantando o automático, caminhando até a porta sendo seguida por Bel.

A morena estava preocupada, uma parte de seu coração gritava para que ela ficasse com Flor, não fosse embora e a ajudasse com a conversa, ainda mais vendo o estado da menor agora que segue o caminho até a saída no automático, sem esboçar emoção nenhuma, parecendo um robozinho. Era impossível negar o quanto Bel se preocupava com ela, a cada movimento diferente, a cada suspiro que a cacheada dava e a cada lágrima, a maior só queria embalá-la em seu colo e nunca mais deixar ninguém chegar perto para que assim a menor nunca mais sofresse. Era impossível, ela sabia, mas em momentos como aquele em que ela via Flor numa pilha de nervos ela não conseguia pensar em outra coisa. Bel sabia que tinha que fazer alguma coisa e sabia o que tinha que fazer.

Doce Néctar - Romance Lésbico | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora