Doce Néctar - Romance Lésbico | COMPLETO

Capítulo XXVIII

- Flor, você precisa se alimentar. - Miguel diz finalmente tirando Flor de seus devaneios.

Desde que a garota tinha chegado a sua casa ela andava desse jeito, quase não falava e quando falava suas palavras eram curtas. Comia somente quando era lembrada de que precisava e se estivesse sozinha não terminava a refeição. Parecia estar em estado catatônico, como se ainda se encontrasse imóvel debaixo da água.

- Claro - A cacheada responde levando a primeira garfada à boca enquanto todos já estavam na metade das refeições.

Era quinta-feira e estavam todos almoçando juntos à mesa, normalmente Miguel e Mônica almoçavam em algum restaurante perto do consultório e Flor e Guto almoçavam juntos em casa. Porém desde que a menor chegou todas as suas refeições eram feitas juntas, a mesa, em ordem para sempre conseguir checar como Flor estava e para ter certeza de que ela estava se alimentando bem.

- Nós conversamos com a diretora da escola, conseguimos que você voltasse à escola na próxima semana, se você estiver pronta é claro. - Mônica diz com um olhar empático.

- Tudo bem. - Responde levando outra garfada até a boca.

- Eu acho que seria bom você voltar a sua rotina. Quem sabe não se anima um pouco? - Guto pergunta com um sorriso encorajador no rosto.

- Pode ser.

O silêncio se instaura mais uma vez no ambiente e todos terminam suas refeições sem mais nenhum comentário. Os pais de Flor voltaram relutantes ao consultório e Flor e Guto voltaram ao seus devidos quartos. Gustavo queria poder ficar com Flor em seu quarto, mas sentia que a garota definitivamente precisava de um tempo, por isso nem mesmo deixou que outras pessoas fossem visitar sua irmã. Nem mesmo Arthur ou Izabel, no entanto, já faziam mais de três dias que a garota havia chegado e Izabel sentia que precisava falar com ela.

Por isso assim que Flor sentou em sua cama, escutou sua porta bater e abrir lentamente, ela não se deu ao trabalho de olhar quem era pois pensou que fosse Guto, porém quando o perfume conhecido da maior invadiu seu nariz e sua pele arrepiou, imediatamente sua cabeça se virou em direção a morena que estava parada no batente da porta com um olhar cheio de sentimentos. Ela se aproximou fechando a porta atrás de si e sentou-se ao lado da cacheada.

Nenhuma delas disse nada, Izabel só aproveitou a companhia de Flor enquanto sentia que podia, parecia um sonho tê-la ali de novo e apesar de ter pensado em um discurso para falar a Flor quando chegasse a ver ela, nenhuma palavra saiu da sua boca, as duas apenas se encararam em silêncio.

- Eu não nadei o suficiente para sair na água, somente para chegar o mais fundo possível - Flor diz quebrando o silêncio.

- Como?

- Eu não queria sair da água, eu nadei o máximo que pude, mas somente para afundar mais. - Ela diz soando com um alívio - Não consegui contar pra ninguém.

Izabel não conseguiu responder nada. Não tinha uma resposta, o choque de Flor ter tentado suicídio, mesmo que inconscientemente, tirou seu ar por alguns segundos e ela teve que se segurar para não surtar na sua frente.

Respirando fundo e se acalmando, a morena olha pra Flor e repete em sua cabeça "ela está viva e é isso que importa". Assim que pode se acalmar, ela apenas rodeou Flor com seus braços e a abraçou, sentiu a garota relaxar em seu peito e suas lágrimas molharem sua camisa.

A menor estava reagindo muito diferente do que Gustavo havia descrevido, ela estava completamente aberta mostrando todos os seus machucados e feridas, estava expondo sua fraqueza.

Tempos depois, as duas deitaram na cama em silêncio, ainda abraçadas, e Izabel deixou a cacheada chorar o que parecia ser um mar inteiro, ainda assim seu choro era silencioso.