Capítulo I

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Outono de 1433, Florência, Itália.

  Ninguém escapava da umidade, nem dos ratos que iam e vinham pelos degraus fracamente iluminados da escadaria da prisão. O delicado ruído das criaturinhas não era sobrepujado pela respiração pesada e ansiosa das figuras obscuras que se esgueiravam se encostando nas paredes de pedra.

  Lena Luthor sentia medo, e a pulsação era acelerada. A insanidade a dominara. Só podia ter perdido a razão para ter aceitado acompanhar Lex e Colin, seus irmãos. Lena os advertiria contra tamanha tolice. Penetrar no Palácio de Argo na escuridão da noite era tentativa de suicídio. Poderiam ser flagrados pelos guardas a qualquer instante.

  Lena estremeceu. Era jovem demais para ser queimada viva em praça pública. Mas Lex e Colin era sua família, e tinha de permanecer leal a eles.

—Lex!  — Lena chamou o irmão mais velho.  — Não é tarde demais para voltarmos.

  Lex a olhou, zangado.

  Lena apelou para Colin, mas ele também lhe lançou um olhar de condenação, assim como Otis e Morgan, os amigos de Lex.

—Lex, as linhas da mão não mentem  — Lena tentou mais uma vez

—Não me perturbe com suas bruxarias.

—Ler a palma não...

—Silêncio!  — Lex a fitou com desprezo.  — Você não é melhor que sua mãe.

—Ela também era sua mãe! Você teme aquilo que não pode entender. Quiromancia é uma ciência.

—Você é uma bruxa e será desprezada como foi sua mãe, Lena.

—Parem com essa briga inútil - Colin ordenou.  — Esqueceu o motivo pelo qual estamos aqui, Lex?

—Ah! Tire essa mulher queixosa de perto de mim.

—Não estou me queixando. Apenas tenho minhas próprias convicções.

  Lex resmungou e desviou a atenção para o cimo da escada, que conduzia à torre.

—Trouxe o frasco, Colin?

—Sim, Lex, está em minha algibeira ( pequeno bolso integrado à roupa)

—Ótimo.  — Lex encarou a irmã.  — Mais uma palavra e eu a estrangulo.

  Exalando um suspiro, Winslow Danvers se sentou no colchão fino e se recostou na fria parede de pedra da pequena cela, na alta torre do Palácio de Argo. Não se preocupava com seu destino. Tinha assuntos mais importantes para resolver. Por esse motivo chamara sua prima. Precisava falar com ela.

  Winslow ergueu a cabeça e fitou, por momentos, os olhos azuis e aflitos de Kara Danvers. A jovem era como uma filha, e Winslow confiava nela cegamente. Embora estivesse proibido de  receber visitas, nem todas pessoas resistiam a um suborno. A promessa de alguns florins de ouro tiveram o poder de convencer o carcereiro a permitir a entrada de Kara no cárcere. Mesmo assim, Winslow sabia que tinham de ser muito cautelosos.

—Não serei libertado, Kara.

  A prima permaneceu em silêncio.

—E não sou culpado do que me acusam.

—Sim, mestre, eu sei.  — Kara encostou os ombros largos nas grades.

-Meus amigos em Veneza imploraram para que e voltasse. Avisaram-me de que Jimmy Luthor tinha preparado uma armadilha para mim. Devia tê-los escutado. Quando soubemos, em Veneza, que Maxwell Lord foi apontado como grão mestre no Parlamento de Gonfalonier, eu deveria ter me acautelado. Jimmy pagou os impostos atrasados de Maxwell. O diabólico Luthor começou a jogar o Parlamento de Florença contra mim. Agora, só me resta ficar aqui e esperar.

O Lírio e o Falcão (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora