Capítulo XXIII

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 Lena apertava as mãos e seu estômago doía. Temia que Kara estivesse em perigo. Que outro motivo justificaria sua ausência no início das festividades do Natal?

 Elisa e Alex se encontravam sentadas em um banco diante da lareira. A expressão da mãe de Kara era de preocupação, como também a de Barry, parado à janela.

 O presépio permanecia incompleto, sem o menino Jesus. E a acha de Natal, que Barry trouxera até os degraus da entrada quando a noite começara a cair, aguardava a tradicional viagem até a lareira, onde seria acesa com o tição do ano anterior.

 Lena ouvia os passos dos criados dando conta de seus deveres no lado de fora do palácio. Na cozinha, as criadas preparavam uma festa que culminaria com a missa da meia-noite. Tudo ao redor de celebrar. Não conseguia superar a sensação de que havia algo errado. 

— Cristo! — Barry resmungou, antes de correr para fora.

 Lena e Elisa trocaram olhares. Em instantes, ouviram o som de vozes excitadas, a de Clark sobrepujando as  demais dando ordens aos criados.

 Horrorizada, Lena viu Kara sendo carregada escada acima. O cheiro de cerveja e vinho impregnou o ambiente e, irada, ela ouviu a esposa murmurar palavras incoerentes.

 Ela está bêbada! A egoísta se divertia em alguma taverna com vinho e mulheres, enquanto sua família a esperava, com o coração aflito!

 Descontrolada, a morena subiu os degraus na frente de Clark e  Barry. Elisa tentou detê-la:

— Lena, talvez fosse melhor você esperar aqui comigo e Mike. Deixe que Clark cuide de minha filha.

— De jeito nenhum, minha sogra. Minha esposa vem para casa na véspera de Natal depois de passar a noite com prostitutas? Pois não facilitarei as coisas para ela.

 E entrou no quarto, pronta para castigar Clark por ter permitido que Kara se embebedasse. Reservaria palavras severas para quando a esposa despertasse.

 Os guardas a fitaram de soslaio ao sair do aposento, e Lena ergueu a cabeça, recusando-se a ser digna de piedade.

 — Devia ter ficado lá embaixo, Lena.

— Kara é minha esposa, Clark. Embora neste momento eu não tenho orgulho algum dela. Talvez deva jogar um balde de água em sua cabeça. Ou atirá-la na piscina... Foi para isso que vocês sumiram depois de irmos ao orfanato? Para irem se divertir com as mulheres fáceis em uma taverna qualquer?

 Clark se afastou um pouco, e Lena levou as mãos à boca.

— Kara foi atingida por uma flecha — Clark a informou.

 Lena se apavorou. Só naquele momento viu a flecha enfiada no ombro direito da esposa, a ponta de metal coberta de sangue. Seus olhos se encheram de lágrimas.

— Ela viverá. — Clark esboçou um sorriso triste.

— Mas parece... morta — ela conseguiu balbuciar.

— Isso porque Kara está sentindo mais os efeitos do vinho do que da flechada, o que neste momento é uma benção. — Clark ergueu o queixo de Lena. — Precisamos remover a flecha. Pode ficar se prometer não passar mal.

— Prometo. Não vou desmaiar.

 Pondo-se aos pés da cama, ela observou, em silêncio, Clark remover a flecha da carne de Kara. E comprimiu o ventre quando o grito da esposa ecoou pelo quarto silencioso.

 Criadas entraram com bacias de água e uma bandeja com pomadas e curativos.

 Depois que a ferida foi limpa e envolvida com bandagem, Clark se deu por satisfeito.

— Agora ela dormirá. Sentirá dor quando despertar. Terá também uma terrível dor de cabeça, sem dúvida. Não seja muito dura com ela, Lena.

— Clark, espere. Quem fez isso?

— Lex. Os guardas o perseguiram, mas ele estava a cavalo, e desapareceu no meio da noite.

 Lena cerrou as pálpebras, sentindo-se culpada por Kara estar sofrendo por causa de seu irmão. Quando Clark apertou sua mão para confortá-la, ela o encarou, e ele pôde ler angústia a tristeza no olhar dela.

— Quando minha prima acordar, pense antes sobre tudo o que eu e você já conversamos. — Respirou fundo. — Estarei em meu quarto, caso precise de mim. Ah! Antes que me esqueça: nós apenas bebemos, sua esposa não lhe foi infiel. — À soleira, ele parou para acrescentar: — O amor encobre o que vai em nosso coração. O orgulho e a incapacidade de perdoar são difíceis de serem superados. Dê um tempo para ela, Lena.

 Ela permaneceu aos pés do leito, observando a esposa, sem saber se devia acreditar em Clark.

 mas talvez ele estivesse certo.


 Logo depois dos primeiros raios de sol penetrarem o ambiente, Lena mudou de posição na cadeira, fez uma careta e gemeu ao pôr-se de pé.

— Isso foi pior do que qualquer som que eu pudesse emitir — Kara resmungou, a garganta seca. — Nosso primeiro natal juntas não foi como eu esperava.

— Talvez se tivesse preferido sua casa a uma taverna... — Imóvel, Lena olhava para a esposa como se ela fosse uma estranha.

 Kara notou o colar de safira no pescoço alvo da esposa. Era a primeira vez que ela usava aquela jóia.

 Lena deslizou a ponta dos dedos sobre o colar, como se tivesse adivinhado os pensamentos da esposa. Kara tentou sorrir, mas não relaxou o rosto tenso.

— Seu ferimento dói? — a morena perguntou, preocupada.

— Não muito — mentiu.

— E sua cabeça?

— Se eu pudesse a arrancaria de meu pescoço.

— E eu ajudaria.

 A loira sorriu de novo, mas Lena não demonstrou nenhuma emoção.

— Ficou sentada aí a noite toda?

— Você é minha esposa.

— E você tem obrigação de ficar perto de mim na saúde e na doença, e tudo mais.

 Kara detestou o som do próprio sarcasmo.

— Milady, irei informar a seus familiares que já está acordada.

— Espere.

— Sim, milady?

 Kara respirou fundo.

— Não sei como Lex consegui se libertar. Desejo acreditar que não teve culpa, Lena, mas você é irmã dele e tinha a chave.

— E você é tola e cega! — Girando nos calcanhares a morena se foi.




O Lírio e o Falcão (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora