Capítulo XIV

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 — Ela é perfeita, estou lhes dizendo — Jess comentava com a irmã, Joy, e as outras criadas, reunidas ao redor da mesa da cozinha.  — Sua pele é alva e suave, sem nenhuma imperfeição. E os cabelos são naturais. A nova lady não usa tinta.

 — Milady ergueu o nariz ao ver você?

 — Ao contrário, Joy. Conversa pouco, mas me tratou com muita gentileza. No entanto...

 — O quê? 

 Jess sabia que falatórios poderiam prejudicar sua posição no domínio dos Danvers. Mas tinha de falar sobre aquilo com alguém.

 — A nova senhora tem contusões no rosto e em um dos olhos.

  As mulheres puseram a tagarelar, todas ao mesmo tempo.

 — Já vi Lady Kara brava, mas nunca com outras mulheres ou crianças  — Jess meneou a cabeça.

 — Estou a pouco tempo no Palácio Kent, contudo, ouvi rumores de que o pai de Lady Kara tentou matar a esposa  — afirmou a jovem Verônica.

 — Quieta!  — Jess interveio, nervosa por tocarem naquele tema proibido. Inclinando-se sobre a mesa, murmurou:  — Lorde Jeremiah era cruel. Não testemunhei nada, pois estou aqui há apenas dois anos, mas comenta-se que era muito mau.

 — Acha que Lady Kara herdou a maldade do pai?

 — Espero que não, Verônica.  — Jess respirou fundo.


 Com as garras ao redor do punho de Kara, o falcão olhava para a mulher e para os cachorros que, latindo, corriam atrás de uma pena levada pela brisa. De repente, o pássaro abriu as asas uma, duas vezes para em seguida fechá-las graciosamente.

 Kara olhou para a ave acinzentada. Esperava que trabalhar com seus falcões ocupasse sua mente. Todavia, não obtivera sucesso.

 O pássaro em seu braço era lindo, um presente de casamento de Clark. Passou-se apenas uma hora desde que começara a treinar o falcão, e ele já pousava em sua mão. Creditara aquele progresso a Oliver, seu criado falcoeiro.

 — O que acha, minha beleza negra?  — Kara acariciava a cabecinha da ave, com toda a delicadeza.  — Está pronta para cavalgar comigo? Não gostará da isca, mas uma vez domada poderá voar livre.

 — Sente-se tão solitária que conversa com seus pássaros?  — Era Clark, que se aproximara sem fazer ruído.

 Kara ajustou as tiras de couro e um sino nas pernas do animal.

 — O falcão é magnífico. um presente maravilhoso.

 — Que bom que ele gosta de você. Aliás quem não gosta?

 " Minha esposa", Kara teria dito, mas viu as mesmas palavras no semblante do primo.

 — Sabe o que estou prestes a perguntar, Kara?

 — Pergunte e eu saberei se ainda confia em mim.

 — Prima... Tia Elisa está preocupada.

 — Sei disso. Lamento não poder tranquilizá-la, porém. Mas a verdade é que não me lembro do que houve, Clark. Juro!

 — Lena nunca dirá nada a ninguém, se isso servir-lhe de consolo.

 — Não serve.  — Kara o encarou.  — Já não lhe falei sobre meus temores? Não lhe disse que não sei do que sou capaz?

 — Talvez você não tenha batido nela. Pode ser que no calor do momento...

O Lírio e o Falcão (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora