Capítulo XXVIII

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 Kara entrou pelas portas do palácio, o coração batendo forte. O chamado que recebera no Palácio de Argo a fez antecipar sua volta em dois dias. Numa demonstração de apoio, os membros do conselho garantiram-lhe uma escolta até o Palácio Kent.

— Kara! Aqui! — Clark a chamou.

— Alguma notícia? — Ela tirou a capa e a jogou sobre um banco.

 A expressão de Clark a deixou ainda mais nervosa.

— Os homens ainda estão procurando.

 Kara parou à soleira da biblioteca e respirou fundo. Entrou no confortável cômodo onde tantas vezes se isolara das cenas que o pai, embriagado, promovia, lendo Aliguieri, Petrarca e Boccaccio. Os livros, encadernados em couro, foram presentes de Winslow. Naquele momento, entretanto, Kara não estava interessada nos gênios literários.

— Quem notou a ausência dela?

 À janela, Elisa permanecia em silêncio. Kara olhou de novo para Clark.

— Alex e Eve estavam discutindo...

— O quê?! — Kara quase gritou, assustando sua mãe, que se encolheu.

 Kara lembrou dos gritos assustadores de Jeremiah, que apavoravam a todos.

— Eve voltou há três semanas. Lionel não conseguiu controlá-la. — Clark não gostou do olhar da prima.— Na verdade, a garota tem se comportado bem. A discussão surgiu quando Eve surpreendeu Alex em seu quarto.

— Alex cortou as roupas de Lena com uma faca — informou Elisa à filha.

— Céus! Lena está...

— Ela está bem — Clark a tranquilizou.

— Sim, é verdade — Lena confirmou, na entrada da biblioteca.

 Kara se surpreendeu com a expressão trágica da esposa. Lena sempre tratara Alex com carinho, delicadeza e paciência.

 Tensa ela fitou Eve, muito zangada.

— Milady... — a jovem tentou dizer.

 Kara a ignorou. Sofria pelo desejo de abraçar a esposa, beijá-la e perder-se no amor que ela lhe dedicava.

— Sinto muito. — Lena baixou a cabeça.

— Não — Eve interveio, com coragem. — Você tentou impedi-la. Não fique nervosa. — Tornou a olhar para Kara. — Se não tivesse a mimado tanto, Alex não teria ciúme de Lena.

— Eve!

— É verdade, Lena. — Eve caminhou até Kara. — Alex acreditava que seu amor era somente dela, milady. E não queria dividi-lo com ninguém.

— Alex estava desiludida por sua falta de atenção — Clark explicou. — Acreditava que Lena veio para roubar o lugar dela.

 Sem poder acreditar, Kara ergueu os braços, num gesto de rendição.

— Alex é minha irmã. Lena é minha esposa.

— Ela não entende a diferença, prima.

— Por que então libertou Lex?

 Um silêncio mortal pairou no ambiente.

— Sim, eu sei que foi ela. Jimmy Luthor soube da deslealdade de minha irmã antes de mim. O que me dizem disso?

 Lena foi se sentar na poltrona. Devia ter contado a Kara, mas, sabendo que a loira protegeria a irmã, decidira manter silêncio para que a esposa não sofresse. 

 Pigarreando, Lena começou a falar, tentando permanecer calma:

— Lex deu a chave das correntes a Louis com uma mensagem para mim. Ameaçou ferir as pessoas que amo se eu não revelasse o paradeiro de Winslow. Antes disso, tentei fazer um acordo com ele. Planejei dar-lhe a chave e enviá-lo a Nápoles. Alex deve ter ouvido na escada da adega e achado que, quando você descobrisse que eu tinha a chave, iria me culpar e me mandar embora.

— Um guarda viu Alex correndo pelos vinhedos — Clark interveio. — E na estrada se encontrou com um homem. Quando Barry foi avisado, ela já havia fugido.

— Jesus Cristo! — Kara se deixou cair sentada em uma cadeira, sentindo-se derrotada.

— Não há nada que possamos fazer, minha prima. Todos os seus homens estão vasculhando Oltrarno e a cidade interna.

 A um sinal de Clark, todos se retiraram para deixar Kara e Lena a sós.

— Perdoa-me, Lena. — Olhou com suplica para a esposa.

— Pelo quê?

— Por não ter confiado em você. Por desprezar seu amor  e usar seu sobrenome contra você. Por fazer jus a minha reputação de arrogante.

— Nunca ouvi comentários desse tipo sobre sua reputação. — Lena tentou, sorrir, mas se conteve ao ver o olhar da esposa. — Sinto muito por Alex .

 Kara meneou a cabeça, respirou fundo e se levantou, dizendo:

— Dois meses longe de você pareceram uma eternidade. Se eu pudesse apagar as palavras sem sentido que proferi antes de partir...

— Ambas falamos tomadas pela raiva, naquela ocasião. E nos duas somos responsáveis por temos esquecidos os votos que prometemos cumprir em nosso casamento.

 Kara se ajoelhou aos pés da morena, tomando suas mãos, notou que Lena não usava o anel de casamento.

— Meus dedos estão inchados. — Ela mostrou uma corrente no pescoço, onde pendurara o anel. — Eu o mantive perto de meu coração, como mantenho você.

— Lena, não a mereço. — Se ergueu, beijou os dedos da esposa e sorriu. — Senti sua falta todas as noites. Falta dos seus beijos, de seus abraços, do seu cheiro...

— Não desfrutou de todos os prazeres fornecidos aos lordes do Parlamento?

— Ah, lírio, desfrutar os prazeres da vida só tem sentido se for com você.

— Kara... — Lena passou os braços ao redor do pescoço da esposa e brincou com a corrente que ele usava. E emocionou-se ao ver que Kara mantivera consigo a mecha de seus cabelos.

  A loira a abraçou com mais força, e de repente Lena ficou tensa.

— Está diferente lírio, seu apetite cresceu em minha ausência?

— Tenho de admitir que venho comendo por dois agora.

— Por dois? O que quer dizer com isso? — Arqueou uma sobrancelha.

— Estou grávida Kara. Vamos ser mães.

 Kara se apoiou na esposa, como se precisasse de sustentação para não despencar no chão.

— Kara?

 A loira se endireitou e pôs a mão na pequena elevação do ventre da esposa e fechou os olhos por um momento.

— Não sei se terei coragem e habilidade para guiar essa criança até a idade adulta, para transmitir-lhe as responsabilidades e o respeito para com a família. Céus, como ensinarei a nosso filho sobre o amor quando eu mesma não sei se ele existe dentro de mim?!

— Você é profundamente amorosa, Kara. Deve acreditar nisso. E o resto... Bem, aprenderemos juntas como ensinar a nosso filho a maneira certa de viver.

 Kara afastou a morena, segurando-lhe as mãos. Um sorriso surgiu nos cantos de sua boca, mas Lena ainda estava preocupada com a reação da esposa.

— Ficou brava, Milady?

— Brava?! Por essa vida que você carrega dentro de si e que nós duas produzimos? Eu nunca poderia me zangar, Lena. Você me faz a mulher mais feliz desse mundo! 

O Lírio e o Falcão (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora