Capítulo XXVII

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 Um criado trouxe para Kara um cálice de vinho.

— Milady?

 À janela, ela olhou para o rapaz e para a insígnia do Parlamento que ele trazia no ombro do uniforme. Em seguida, fez um sinal para que o criado levasse a bebida de volta.

 Na praça abaixo do Palácio de Argo, os florentinos observavam a forca sendo montada. Na noite anterior, o Parlamento havia julgado e sentenciado um estuprador. Embora enforcamentos fossem comuns ali, Kara os achava desnecessários.

 Com o cenho franzido, ela olhou para o chão da praça, ainda molhado por uma tempestade recente. Não fora capaz de dormir, ouvindo a chuva e desejando que Lena estivesse em seus braços. Embora a despedida delas tivesse sido fria, Kara não pensava em mais nada a não ser em voltar ao Palácio Kent. Tinha saudade de seu lírio, do brilho de seus cabelos. Sentia falta do sorriso dela e do modo como Lena a olhava quando queria ser beijada ou abraçada.

Desejo mais do que ser apenas sua amante, ela lhe dissera. Se ao menos pudesse dizer a Lena que ela significava muito mais do que um caso de amor passageiro...

 Pegou a corrente com a mecha de cabelo da morena e a apertou entre os dedos. E cerrou as pálpebras.

— Eu te amo, lírio — a loira sussurrou.

 Passos no piso de mármore o alertaram de que alguém vinha vindo. Era Jimmy Luthor. Kara escondeu a corrente sob a roupa e se preparou para enfrentar o opositor dos Danvers.

 A capa de Jimmy parecia uma bandeira tremulando ao vento. Até aquele momento, ele não dirigira uma só palavra a Kara, que se preparou para ouvir insinuações e acusações.

— Lady Kara, posso lhe dar uma palavra?

 Kara permaneceu onde estava.

— Devo cumprimentá-la. O parlamento está muito impressionado  com sua habilidade em tomar decisões. Alguns afirmam que possui as infinitas qualidades de Winslow.

— Agradecida pelo cumprimento.

 Deixando a educação de lado, Jimmy disse:

— A senhora nunca será o que Winslow foi.

— Nunca tive a intenção de governar Florença.

— Não, lógico que não. Contudo, pretende trazer Winslow de volta ao poder. Ele foi banido por dez anos. Pensa ser possível manter a chama dos Danvers por tanto tempo?

 Kara teria sorrido se Jimmy houvesse mostrado algum sinal de humildade. Em vez disso, Kara manteve uma expressão fria, para mostrar ao Luthor sua imparcialidade.

— Não terei essa obrigação.

— Ah, a jovem Kara Danvers... Acha que sua posição no Parlamento assegura o domínio dos Danvers?

— Assegura uma mudança, lorde Jimmy, e um sinal de que o governo dos Luthors é precário. O tempo será o fator decisivo.

— Sim, e ficará a favor do Luthors ou dos Danvers. — Jimmy admirou o tamanho de Kara, acentuado pelos trajes que usava. Sabia qual era a única força que poderia quebrantar o vigor de Kara. Sorridente, perguntou: — Como vai minha prima Lena?

 Jimmy não aceitara o casamento de Lena com uma mulher e muito menos com uma Danvers, e não comparecera às bodas, nem à festa.

— Muito bem — Kara respondeu, desconfiada.

— E Lex?

— Não sei nada a respeito dele.

 O sorriso de Jimmy se alargou.

— Mas devia. Soube que ele ameaçou a irmã. E quanto ao ataque na véspera do Natal? Sei que enviou dois homens para persegui-lo quando ele partiu para Nápoles.

— Como ficou a par de tudo isso?

— Ora, vamos! Não ignora que os florentinos amam um bom mexerico, não é?

— Tantas informações não podem ter vindo de meros comentários aqui e ali.

— Saiba de uma coisa, Kara Danvers. Os crimes que Lex têm cometido contra sua família não foram sob ordens minhas. Contudo, descobri o lugar secreto do exílio de Winslow. E Lex também. — Depois de pensar um pouco, acrescentou: —Antes de Lex partir de Florença, ele se gabou com Ben sobre sua conquista. Afirmou que obteve a ajuda da filha bastarda de Jeremiah Danvers para fugir do Palácio Kent.

— Não...— Kara sussurrou, aturdida pela revelação.

— Eu poderia força-la a renunciar seu mandato acusando-a de ter aprisionado e atacado Lex sem motivos concretos.

— No entanto, não o fez.

— Não, não o fiz. Sei que Lex cometeu assassinato e outros desatinos, embora não existam provas contra ele.

— E permitirá que um assassino maluco ande por aí livremente?

— Lex acha que tem uma missão a cumprir: preservar o nome dos Luthors no governo de Florença. Se ele alcançar sucesso em encontrar Winslow... — Jimmy deu de ombros e sorriu, malévolo. — O poder da riqueza dos Danvers nunca sobrepujará a ambição política dos Luthors. Para sobreviver, você terá de aprender a jogar.

— Se um Luthor conseguir tirar a vida de Winslow, suas mãos é que estarão sujas de sangue.

— Não esteja tão certa disso. Todos sabem que Lex é louco. Eu mesmo já o censurei da família. — Jimmy fez uma expressão de vitória. — Bem, estou atrasado para um compromisso. Tenha um bom dia.

 Kara fechou os punhos para se controlar. Tinha vontade de atacar Jimmy. O fingido e traiçoeiro Luthor pensara em tudo.

 Desferiu um soco na parede e fez uma careta ao sentir os nós dos dedos doerem.

— Desgraçado! — resmungou, com os dentes cerrados.

 E experimentou um grande peso no coração. Alex... Sua tímida irmãzinha. O que a levara a trair a família? 

O Lírio e o Falcão (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora