Capítulo 1

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10 de Março de 2019
Domingo

Lucas havia acabado de sair da cabine do banheiro quando um rapaz barrigudo e barbudo agarrou seu braço, com o rosto muito próximo do dele. Lucas logo franziu o nariz ao sentir o cheiro de cana saindo de sua boca. O homem cochichou no ouvido dele.

-Tá afim de mamar?

Lucas se desvencilhou dele.

-Foi mal, não tenho interesse.

O homem apertou sua bunda, fazendo com que Lucas se sentisse desconfortável.

-Vem, meu pau é bem grossinho. Cê tem cara de que gosta dos grossos...

Lucas não pôde segurar o riso, e empurrou o homem. Ele escapuliu depressa do banheiro, indo de encontro com Gabriel, que conversava com um garoto careca. Aparentemente, eles haviam acabado de dar um beijo. O careca passou a mão pelo corpo de Gabriel com um sorrisinho safado e voltou para a pista de dança, enquanto Gabriel mordia o lábio inferior. Assim que ele viu Lucas, sorriu.

-Cara, aquele carequinha ali beija bem, viu? Nossa, fiquei até com vontade de pedir o número dele.

-Um cara pediu pra eu mamar ele no banheiro. - Lucas revirou os olhos.

-E você mamou?

-Claro que não! Eu não sou uma vagabunda.

-Diz isso mas beija mais gente que eu nas festas. - Provocou Gabriel.

Isso era verdade. Mas nem sempre fora desse jeito. Gabriel sempre foi o amigo pegador: desde os oito anos beijava as primas e as menininhas da escola, e perdeu a virgindade quando tinha 13. Já Lucas demorou anos pra sequer beijar na boca. Até virgem ele era, diferente de Gabriel. Entretanto, no ano anterior, quando Lucas descobriu que Gabriel era bissexual e então lhe contou que era gay, Gabriel vivia arrastando ele pra boates LGBT, aonde Lucas começou sua carreira de beijoqueiro. Na primeira noite que saíram juntos, Lucas beijou 6 caras diferentes, que foi mais do que Gabriel havia beijado em qualquer boate.

-Hoje tá meio fraco. - Reclamou Lucas - Só tem gente feia aqui.

-Olha, eu vou concordar com você. Peguei esse careca por pena, porque ele tava me secando há um tempão. Mas eu não me arrependo não, porquê...ô beijo bom.

Lucas riu.

-Tô precisando de bebida.

-Eu também. Bora beber mais shotes.

Os dois foram até o barman, que logo lhes entregou dois copinhos com cachaça pura. Eles beberam o copo todo num gole só, e a bebida desceu rasgando a garganta de Lucas. Ele ainda não estava acostumado a beber como Gabriel, afinal, só começara a curtir sua adolescência desse jeito depois que se assumiu para o melhor amigo. Já Gabriel, no entanto, bebia desde o começo da adolescência. Lucas se sentia meio atrasado nesse sentido. Mas tudo bem. Ele estava lentamente recuperando o tempo perdido.

-Mais outro shot pros dois! - Pediu Gabriel.

-Peraí cara, dois é demais.

-Deixa de ser fraquinho, a gente precisa curtir.

-É, mas a minha mãe vai descobrir que andamos bebendo.

-Ela sabe que a gente bebe, ela já desencanou disso.

-Minha mãe não é tão liberal quanto a sua, esqueceu? - Lucas revirou os olhos.

A mãe de Gabriel era, na verdade, o oposto da mãe de Lucas. Ela havia tido o filho com 16 anos, e tinha atualmente 33. Ela era uma daquelas mães hippies e liberais, que deixava o filho fumar maconha e beber desde cedo. Nunca o proibiu de muita coisa. Já a mãe de Lucas havia tido ele depois que se casou, e era bem conservadora. Demorou um tempão pra ela deixar ele sair e beber, e na infância ele sequer podia namorar. Claro que isso não o impediu de namorar escondido.

O céu é um lugar da terra (Livro 1) - João Marcelo SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora