NINA
Jeongguk não para de sorrir, com o nariz franzido e mostrando todos os dentes, seu maxilar já deve estar doendo de tanto que estica os lábios. O cabelo espalhado pelo travesseiro e alguns fios provavelmente incomodando seus olhos, mas ele parece não ligar.
Estamos deitados na cama do seu quarto, um de frente para o outro, não sei que horas são e em que momento chegamos aqui, nossas roupas estão espalhadas por todo o caminho que percorrermos até o cômodo. Só em pensar fico envergonhada, minhas bochechas esquentando bastante.
— Por que está sorrindo tanto? — Pergunto esticando meu braço para retirar uma mecha de cabelo do seu rosto. Jeongguk segura minha mão e beija a cicatriz me causando um arrepio por todo o corpo.
— Porque eu estou feliz. Muito feliz e não me sinto assim há um bom tempo. Da para contar nos dedos todas as vezes em fiquei tão eufórico. — Me aproximo mais de seu corpo e sua mão passeia pelas minhas costas, fazendo círculos imaginários.
— Quais foram os momentos que te deixaram assim?
— Quando percebi que estava apaixonado. Quando nos beijamos. E agora, quando aceitou ser minha namorada. — Sorrio, porque senti muita falta de sorrir ao lado dele.
— Não tem nenhum momento sem mim? — Me puxa para seu peito, seus braços me envolvem em um abraço, ele apoia o queixo em minha cabeça após deixar um beijo em minha testa.
— Com a família que tenho, não existe muitos momentos assim. — Sei que Jeongguk não está mais sorrindo, sua voz sai melancólica, quase magoada.
Nas poucas vezes em que vi interagindo com seus pais eram por ligações que não duravam nem cinco minutos, ou quando seu pai veio aqui. Entendo porque nunca toca no assunto, lembro de quando o ouvi chorar por vários minutos, disse que havia ido em um almoço com sua mãe, meu coração se partiu por saber que Jeongguk precisa chamá-los de família.
A partir dos meus quinze anos fui forçada a sair da minha bolha, descobri que o mundo não é um mar de rosas, quando criança as pessoas mais velhas mascaram a realidade para não quebrar nossa inocência, então depois temos que descobrir por conta própria as maldades existentes.
Eu, quando criança, por exemplo, pensava que todos pais amavam seus filhos independente de como fossem, principalmente as mães. Ouvia dizer que as mães tem o maior coração do mundo, então mesmo que seus filhos fizessem algo muito errado e elas estivessem magoada, o perdoaria, porque era seu filho, uma parte sua. Mas a realidade é diferente.
Já tinha ouvido histórias de pais que abandonavam as esposas e os filhos, os deixavam passando fome e sem nenhuma renda, ia embora sem avisar. Um amigo meu na escola tinha uma mãe solo, seu pai havia os deixando dois anos após ele nascer.
Claro que onde nasci essas coisas mal aconteciam, ele era o único na escola inteira a não ter um pai presente, então mesmo sabendo que nem tudo é um conto de fadas é a primeira vez que me deparo com pais que desprezam seu filho por nenhum motivo aparente.
Jeongguk não é mal. Ele não rouba, não mata e não comete nenhum outro crime. Então por que seus pais o tratariam como nada? Como se ele não existisse, apenas quando lhe convém?
— Desde criança eles não ligavam muito para mim, minha mãe só sabia exigir e meu pai costumava me bater caso eu saísse da linha, então não tenho memórias que eu queira lembrar da minha infância, tirando as vezes que Jimin me visitava. Eu amava os dias em que ele iria para minha casa, era quando minha vida ganhava um pouco de cor. — É a primeira vez que se abre sobre algo ruim do seu passado.
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Eu, você e o nosso apê
RomanceNina está há mais de um ano vivendo na grande cidade de Busan, dividindo seu tempo entre a universidade, o seu trabalho como garçonete e as videochamadas com o irmão gêmeo. Tudo aparentemente está indo bem para ela até saber que precisa urgentemente...