A semana seria difícil e corrida. Tudo deveria estar pronto até sábado. Juliette acordou sentindo as pernas pesadas e doloridas, havia trabalhado no dia anterior. Seu primeiro dia no emprego novo, era um cansaço bom. Sarah não estava no quarto o que a fez pensar que ela já havia ido para a empresa.Naquela manhã fazia frio, e o vento não estava nada agradável. Desceu as escadas bocejando e um grito morreu em sua garganta quando viu Sarah de pé na cozinha.
Tinha o cabelo totalmente bagunçado, e o roupão não estava bem amarrado. Seria uma imagem extremamente sexy e provocativa, se Juliette não houvesse reparado no nariz e nos olhos vermelhos, e nas olheiras que denunciavam a noite mal dormida.
– Bom dia. - ela disse com a voz mais rouca que o normal por ter acabado de acordar – Caiu da cama?
Ela não sorriu. Mau sinal.
O dia de Juliette realmente não havia começado bem... ou melhor nem se quer havia começado a julgar que o seu dia começava apenas depois de ver o sorriso de Sarah.
– Café? - Sarah ofereceu indicando a térmica em cima da pia.
– Sim. - ela disse estreitando os olhos e a analisando – Está tudo bem?
– Porque não estaria? - o tom da sua voz soou frio.
– Não sei. - ela disse tomando o primeiro gole de café – Você parece abatida. Triste.
– Eu apenas não dormi bem esta noite. - deu de ombros sem encará-la.
– Você está doente? Porque não dormiu?
– Não creio que esteja doente. Apenas não consegui dormir.
O silêncio que veio em seguida tirou uma boa parte da paciência de Juliette e quando ela estava prestes a gritar Sarah falou:
– Vou subir. Não precisa se preocupar.
Juliette arregalou os olhos.
– Você vai passar a tarde aqui? Não vai trabalhar? Digo, não vai para a empresa?
– Não, hoje não. - ela disse já no alto da escada, e logo o barulho da pesada porta do quarto dela foi ouvido.
Juliette piscou uma, duas, três vezes, e continuou atordoada. Ela sabia que Sarah jamais faltaria ao trabalho naquela semana. Ela era peça chave pra tudo funcionar bem. Algo estava errado.
Sentia-se culpada por ter que deixá-la ali, sozinha. Mas não podia faltar ao emprego que tinha acabado de conseguir. Já estava atrasada. Terminou de tomar seu café rapidamente e subiu, apenas para despedir-se.
– Hey, preciso ir. Você ficará bem?- ela disse na esperança de obter uma resposta.
– Vá. Tenha um bom dia. Já falei que não precisa se preocupar.
Juliette notou que ela estava chorando. Não conseguia disfarçar tão bem assim.
– Me deixa entrar, por favor. Meu amor, o que está acontecendo? - ela disse encostando as costas na porta.
Ouviu alguns passos e em seguida o barulho da chave. Sarah abriu a porta e caminhou em direção a cama. Era Juliette, não tinha o que temer.
– Você está chorando? - ela perguntou sentindo-se idiota dois segundos depois.
Sarah secou o rosto e respirou fundo. Juliette não pode mais aguentar, terminou com a distância que existia entre elas sentou-se na cama e a abraçou. Sarah não a afastou, apenas aproveitou o abraço e não conseguiu mais segurar o choro. Era um choro pesado, a dor era palpável. Juliette lutava contra algumas lágrimas que teimavam em deixar seus olhos.
– O que houve? - ela perguntou de novo – Fale comigo bebê, por favor.
O quarto ficou em completo silêncio até ela indicar com a cabeça o porta-retratos ao lado da cama em cima da mesinha de cabeceira.
– São seus pais? - ela perguntou analisando o casal da foto.
Ela apenas assentiu. Não falou nada estava com muita vontade de chorar, mais algumas palavras e elas acabariam em um rio de lágrimas.
– Hoje fazem cinco anos que eles se foram. Cinco longos anos. - disse com a voz baixa.
O olhar de ambas se encontrou e Juliette por algum motivo, sentiu como se algo fosse conectado, e graças a essa conexão pode interpretar a dor contida nos olhos vermelhos da loira.
Juliette tinha seus pais e seus irmãos: Gabriel e Arthur. Os três costumavam caminhar em um parque perto de casa, todas as tardes. Era um lugar calmo, quase ninguém passava por ali. Eles nunca haviam ido sozinhos. Até um certo dia em que Arthur teria aula pela tarde e Juliette ajudaria a mãe com algumas tarefas em casa.
Gabriel saiu para brincar, saiu para fotografar as flores e os pássaros e nunca mais voltou pra casa. Juliette e Arthur nunca mais voltaram naquele parque. Nada nunca mais foi o mesmo.
– Pode parecer idiota, - Sarah disse com um sorriso fraco - mas ninguém é forte o suficiente quando se trata da saudade de alguém que ama incondicionalmente. Sinto falta de uma família, Juliette.
Os pais de Sarah nunca quiseram ter mais filhos. Ela era o suficiente e era o mundo deles. Tudo o que o pai dela havia construído era pensando no futuro da filha. Mas todos esperavam que fosse demorar muito mais tempo para que ela tivesse que dar conta de tudo sozinha.
Juliette surpreendeu-se quando uma vontade insana de chacoalhar os ombros da mulher a sua frente e gritar que ela era sua esposa e que era sua família, mas não o fez, apenas a abraçou com força.
– Eu sei como se sente. O mundo parece cruel e frio quando nos é tirado alguém que tanto amamos. Mas eu estou aqui, amor. Você pode contar comigo. - ela disse acariciando o rosto de Sarah e limpando suas lágrimas.
Ela retribuiu o abraço sentindo o cheiro doce dos cabelos soltos de Juliette. Sentia seu coração menos pesado. Era como se toda angústia que sentia tivesse sido adormecida por aquele abraço.
– Eu sei. - ela disse parecendo mais controlada. – Estou aqui também... Quando se sentir pronta para falar sobre isso. - ela sabia que a vida de Juliette era cheia de segredos, mas percebia pelos olhos dela que aquele era doloroso demais. - Sarah afundou o rosto no pescoço cheiroso de Juliette depositando um beijo logo em seguida. Voltando a olhar nos olhos da morena, não pode conter a vontade de beijá-la.
Era um beijo calmo, um beijo que dizia que uma estava ali para a outra. Nenhuma estava sozinha. Apesar de toda a dor que sentiam. Apesar de terem perdido partes importantes de seus corações. Era um beijo cheio de... amor.
– Eu não aguentaria nenhum dia a mais sem você aqui. - Sarah disse em meio ao silêncio fazendo o coração de Juliette bater ainda mais acelerado.
– Eu também não. - ela acariciou o rosto da loira e sorriu.
– Acho que você está atrasada. - Sarah disse fazendo a esposa dar um pulo da cama.
– Meu Deus! Eu preciso ir, você ficará bem? Promete? Promete? - ela disse fazendo Sarah levantar e abraçá-la.
– Ficarei, amor. Vou adorar ser a esposa que espera em casa. Quer que eu prepare seu jantar? - ela disse debochada arrancando uma gargalhada de Juliette.
– Eu trago alguma coisa da rua. - Eu te a... - Eu tenho que ir! - ela disse dando um selinho em Sarah e saindo do quarto.
Ela queria mais que tudo ter dito eu te amo. Era o que sentia afinal.
Amor.
Ela amava Sarah e não lutaria mais contra isso.
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Amor Por Contrato | Sariette
Fiksi PenggemarQuando Juliette Freire enviou seu currículo para o Andrade's Office, foi somente para deixar de ouvir Camilla lhe dizer "tente". Jamais pensou que pudesse ser realmente convocada para assumir o cargo de secretária pessoal da presidente da empresa. A...