10. 𝐒𝐞𝐮𝐧𝐠𝐰𝐚𝐧

83 26 4
                                    

_____🌙_____

Está quente. Quente pra caralho. Mas nem me dou conta. Nenhum de nós de dá, porque está sempre quente e nem vale a pena reclamar, considerando que temos coisas mais importantes com que nos preocupar, como o helicóptero que foi derrubado na semana passada ou a Yeji que não voltou para a base ontem à noite.

O melhor a fazer é ignorar o calor, jogar vôlei com seus amigos quando possível e rezar para qualquer deus, espírito ou divindade para ser um dos sortudos.

Então Jeongyeon quebra o código.

Estamos em uma patrulha de rotina, e ela quebra a porra do código.

- Odeio essa porra toda.

Estou pensando em que porcaria devo escrever para Jihye, minha namorada, mas meu cérebro trava com a confissão de Jeongyeon. Lisa e Rosé pararam de assassinar sei lá que música do The Weeknd que estão tentando cantar e eu as encaro com uma mistura de contestação e desgosto.

(Caso alguém não conheça a Seo Jihye, ela participou do dorama Crash Landing on You. Fiquem à vontade para pesquisar sobre.)

Moonbyul, minha melhor amiga desde o treinamento, está puta.

- Cacete, Jeongyeon.

Jeongyeon só dá de ombros. Ela é a mais baixo de nós, mas também é rápida pra burro. E esperta. Ou pelo menos era o que eu pensava antes que quebrasse a porra do código.

- Não começa - digo, tentando aliviar o clima. - Você sabe que no instante em que reconhecemos que estamos levando uma vida escrota nossa sorta acaba.

- Só estou falando. É ruim pra caralho. A areia, o calor, o medo constante de só ir pra casa dentro de um caixão. Vocês sabem.

Moonbyul se inclina para ficar cara a cara com Jeongyeon.

- A gente sempre soube que seria assim. Isso não é uma versão glorificada da Primeira Guerra Mundial em que não sabemos o que esperar.

Jeongyeon empurra Moonbyul, e eu coloco o braço entre elas antes que as duas esquentadinhas piorem uma situação que já é ruim.

- Tenho o direito de dizer o que penso - Jeongyeon reclama, empurrando nós duas e depois olhando para as próprias mãos. -Tenho o direito de dizer o que todos estamos pensando. Nenhuma maldição vai recair sobre a gente só porque falei a verdade.

Menos de dez minutos depois, veio a confirmação de que ela estava errada.

Jeongyeon volta pra casa em um caixão. Assim como todas as outras.

De repente, o tempo acelera e se alonga. Segundos depois, estou no chão, segurando Seohyun enquanto ela tenta falar. A única coisa que sai de sua boca é sangue.

Tem sangue demais. Meu. Dela. É uma grande bagunça metálica e amarga.

Tento entender o que ela quer me dizer. Tento entender seu último pedido, sua última palavra, mas tem sangue demais.

Sempre tem sangue demais.

Não é a primeira vez que eu acordo ensopada de suor. Mas é a primeira vez, desde que estive internada no hospital, que outra pessoa está comigo quando desperto.

Não me lembro bem das enfermeiras, mas arrisco dizer que nenhuma delas se parecia com Bae Joohyun ajoelhada na minha cama, usando uma blusa rosa e uma calça jeans. O que essa mulher tem com rosa? Então, eu me dou conta de que ela está aqui. No meu quarto.

𝐋𝐈𝐆𝐇𝐓 𝐌𝐄 𝐔𝐏 [𝐖𝐄𝐍𝐑𝐄𝐍𝐄]Onde histórias criam vida. Descubra agora