32. 𝐒𝐞𝐮𝐧𝐠𝐰𝐚𝐧

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- Você vai ficar bem, sra. Seungwan.

Tenho quase certeza de que Solar diz isso mais pra si mesma do que pra mim. Mesmo assim, me agarro um pouco às suas palavras.

- É, eu vou ficar bem - digo, forçando um sorriso. É algo que eu tenho feito bastante ultimamente. Forçar sorrisos. Pelo menos me dou ao trabalho de tentar. Ela apoia as mãos no topo de uma grande pilha de papéis.

- Separei todas as minhas receitas mais fáceis. Coisas que você pode fazer no domingo e deixar as sobras para a semana, jantares rápidos com ingredientes da despensa. E, claro, não deixe de tomar café. Seus ovos são bons.

Ponho as mãos em cima das dela e aperto. Ela me encara surpresa. Em todos os anos trabalhando para minha família, não sei se alguma vez a toquei, mas no momento parece a coisa certa a fazer.

- Obrigada - digo, baixo - Por tudo.

Ah, meu Deus. A mulher vai começar a chorar, posso ver pelo queixo tremendo e pela maneira como olha para um canto do teto da cozinha e depois para outro.

-Talvez não seja a decisão certa - ela diz, com a voz falha - Talvez...

- Não - digo, me inclinando e me forçando a soar simpático, ainda que minhas palavras sejam resolutas - Você merece ter uma vida digna, Solar. E Kai também.

E é verdade, mas o timing não é dos melhores. Quase duas semanas depois que Joohyun me deixou, Solar e Kai pediram demissão. Eles disseram que queriam me contar pessoalmente, ainda que fosse meu pai quem pagava o salário deles e com quem de fato precisavam falar. Mas sei o real motivo pelo qual me encurralaram no escritório aquele dia.

Não era mera formalidade. Queriam marcar sua posição. Era a maneira deles de dizer que, se eu tinha deixado Joohyun ir, deveria deixar que também fossem embora. Em outras palavras: se queria viver sozinha, então viveria sozinha mesmo.

O lance é que não consigo nem ver os dois como traidores. É claro que ficaram do meu lado antes que Joohyun tivesse aparecido. E se mantiveram comigo enquanto assustava todos os cuidadores que meu pai mandava. Na superfície, nada precisaria mudar. Na teoria, deveríamos ser capazes de voltar a ser só nós três, eles fora do meu caminho e eu os tratando com mais educação do que reservava ao resto do mundo.

Mas isso já não é o bastante para eles, e fico contente. Sempre mereceram mais do que ficar com uma fera ranzinza que, em seus piores dias, mal conseguia reunir forças para dizer "obrigado".

- Não vamos ficar longe - Solar disse, se recompondo - E pode passar o Natal com a gente se quiser. São só quarenta e cinco minutos. E você é sempre bem-vinda.

- Vou ficar bem, Solar. Não se preocupe.

Mas não estou bem. Estou tão mal que nem tem uma palavra pra isso. Mas já faz dois anos que não comemoro o Natal, e isso não vai mudar agora. Quase consegui ouvir a decepção na voz do meu pai ao telefone quando disse que não ia aparecer para as festas, e Solar parece igualmente magoada.

Quando vão aprender a não esperar nada de mim?

- Sra. Seungwan... Seungwan - ela se corrige, se dando conta de que não trabalha mais pra minha família e de que não tenho mais doze anos.

Não, imploro em silêncio. Mas ela não lê minha mente. Ninguém consegue. Bom, Joohyun conseguia. Mas foi embora. Já faz um mês, e não mandou nem uma mensagem ou um e-mail. Nem sei onde ela está.

- Seungwan - Solar continua, se aproximando de onde estou sentada, em frente ao balcão. Parece que quer me tocar, mas se segura - Sei que as coisas parecem... desanimadoras. Todo mundo está indo embora. Mas você entende, não?

𝐋𝐈𝐆𝐇𝐓 𝐌𝐄 𝐔𝐏 [𝐖𝐄𝐍𝐑𝐄𝐍𝐄]Onde histórias criam vida. Descubra agora