Capítulo 1: Vazio

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Eu lembro que me sentia mal. Vazio. Minha cabeça dizia coisas que meus ouvidos podiam ouvir claramente, mas meu coração gritava pedidos de socorro que eu me negava a escutar.

Toda noite de "jantar especial" no Largo Grimmauld eu me sentia assim. Eram só algumas famílias puro-sangue e ricas que se vestiam de preto o tempo inteiro e pareciam estar de mal humor o tempo todo. Fora, é claro, quando estavam falando sobre si mesmas. Quando eu era pequeno, mamãe dizia que quando eu tivesse idade o suficiente eu poderia participar das conversas porque éramos todos iguais buscando o mesmo propósito. Caralho, não somos iguais. Eu tinha sete anos e não entendia sobre o que ela falava. Agora eu tenho dezessete e queria ter continuado sem entender.

"Regulus." Minha mãe apareceu na porta do meu quarto, em um vestido preto que cobria seus dois braços. "Lá em baixo. Já." E deu meia volta. E saiu.

Merda, o que ela quer de mim?  Eu me tornei um comensal da morte e ela ainda me olha como se quisesse que eu fizesse mais. E eu já fiz tudo. Eu imagino como Sirius se sentia, indo para a Grifinória, se relacionando com traidores de sangue e nascidos trouxas, se negando ao legado da família Black. Qual o sentido? Se você nasce para algo, você o faz, não é? Não vai contra a sua natureza ou o que você acredita...Bom, o que a família acredita, eu acho. Tanto faz.

Não que isso importe muito agora, porque Sirius não é mais o meu irmão. Eu não posso acreditar que ele deixou tudo para trás por sangues-ruins, pelos Potter...Por Remus...E James...

Ah, maldito James Potter! Tudo ia bem até ele e Sirius serem amigos. Tudo ia bem até Sirius se apaixonar por aquele bastardo lobisomem! Agora eu preciso ficar sozinho nesta maldita casa onde todos acham que eu nasci para algo que eu claramente não quero fazer. Não era mais fácil ter obedecido nossos pais, Sirius? Não era mais fácil não ter ido embora? Não era mais fácil não ter me deixado sozinho?

Dane-se essa merda. Sirius não merece meu tempo, nem a minha mãe e nem aqueles comensais com mal gosto para roupa lá em baixo.

No meio do caminho das escadas eu parei, respirei, e segui andando até em baixo, sorrindo. É óbvio que eu tinha que sorrir. Mamãe me amaldiçoaria se eu não sorrisse para os convidados, e não digo no sentido figurado.

"Reg, meu querido, venha falar com o sua prima e o senhor Lestrange!" Minha mãe me chamou, me puxando pelo braço até eles.

"Ah, sim, claro, mãe." Que porra é essa? Por que ela está sorrindo se a cinco segundos atrás foi me chamar no meu quarto com um olhar terrível?

"Reggie! O que anda fazendo, huh?" Perguntou Bellatrix.

"Ah, você sabe, não tenho feito nada demais e..."

"Ele está bem ocupado! Cheio de compromissos com a família e com a causa. Inclusive, Bella, o próprio Voldemort em pessoa disse que queria falar com Regulus, não é, querido? Ele é tão dedicado!" Minha mãe mentia tão bem quando estava disposta a isso.

"Isso é verdade, Regulus?" Bella me perguntou, me olhando nos olhos. Eu conseguia sentir o olhar fulminante da minha mãe do meu lado, dizendo para eu apenas confirmar o que ela dizia.

"Oh...sim, claro. Eu acho que Voldemort me considera um de seus comensais mais fiéis. Mas claro, olhe pra mim, eu sou um Black. Acho que sou especial para qualquer um." Dizer isso me embrulhou o estômago. Eu vi minha mãe sorrir de satisfação por cima do meu ombro. Que droga é essa? Por que a necessidade de passar essa imagem para as pessoas? Todo mundo sabe que os Black's são todos comensais da morte, aliados de você-sabe-quem. Para quem é esse showzinho todo? Francamente.

Light and Darkness - Regulus BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora