Capítulo 30: Gringotes

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O Beco Diagonal estava silencioso, apesar de algumas pessoas estarem passando. A calçada de pedras estava muito diferente do lugar movimentado que era quando eu havia ido a primeira vez quando ainda era um menino, anos atrás. A guerra claramente havia destruído um dos lugares mais bonitos e felizes que eu já havia pisado.

Quando começamos a andar pela rua, algumas pessoas me avistaram, algumas se encolhiam nas portas. Mas é claro, não estavam me vendo. Estavam vendo Bellatrix Lestrange. Eles pareciam desaparecer quanto mais eu me aproximava, puxando os capuzes de suas capas para o rosto e fugindo o mais depressa que conseguiam.

"Acho que ela não é muito querida, não é?" Ouvi James sussurrar do meu lado, de baixo da capa.

Tentei me lembrar de todas as aulas de etiqueta que mamãe fazia a governanta que cuidava de mim e Sirius nos ensinar. Postura reta, Regulus, ela diria. Não olhe para o chão, mantenha sempre a cabeça levantada. Não vire tanto o rosto para falar, vire apenas os olhos. Os braços sempre atrás ou retos na lateral do corpo.

Seguimos pela rua de pedra até o final, onde Gringotes ficava. Quando chegamos às escadas de mármore que levavam às grandes portas de bronze, os duendes que normalmente ficavam na entrada tinham sido substituídos por dois bruxos, ambos segurando longas e finas varas de ouro. Essa era a parte difícil. Passar pelas varas, que detectavam feitiços de ocultamento ou qualquer outra coisa que estivesse magicamente escondida.

Tínhamos apenas dois segundos, dois segundos que foram o suficiente para James apontar a varinha para os guardas e murmurar "Confundus!", ainda debaixo da capa. Os guardas apenas estremeceram quando o feitiço os atingiu. E eu subi as escadas, sem olhar no rosto de nenhum dos dois.

"Madame Lestrange." Um deles disse, erguendo a vara de ouro. "Um momento, por favor."

"Você acabou de fazer isso, seu idiota." Exclamei, em uma imitação muito boa da voz de Bellatrix, a dose certa de arrogância e autoritarismo que só um Black conseguiria. O guarda ficou confuso e acenou com a cabeça para o outro, apenas. Eu continuei a subir.

"Estamos indo bem, Reg." Remus sussurrou, invisível ao meu lado. "Só mais um pouco."

Dois duendes estavam diante das portas de dentro, que eram feitas de prata. Eu ergui os olhos e de repente me ocorreu uma lembrança muito nítida: parado naquele exato lugar, no dia em que completei doze anos e vim aqui pela primeira vez com Sirius. Naquele dia, Gringotes me pareceu um lugar assustador e nem por um instante poderia ter sonhado que voltaria aqui para roubar.

Segundos depois, porém, nós estávamos no saguão de mármore do banco.

O longo balcão era ocupado por duendes sentados em banquinhos altos, que atendiam os primeiros clientes do dia. Eu me dirigi a um velho duende que escrevia alguma coisa em um pergaminho, com uma pena muito sofisticada.

"Madame Lestrange!" Disse o duende, evidentemente surpreso. "Céus! Que... que posso fazer hoje pela senhora?"

"Quero entrar no meu cofre." Respondi, ríspida e friamente, com uma das sobrancelhas arqueadas.

O duende pareceu se encolher ligeiramente. Apesar dos comensais da morte não terem suas identidades reveladas à público, todos tinham quase certeza que Bellatrix Lestrange era uma. É claro, ela era uma Black. Eles não esperariam nada além disso. Porém, com todos os desaparecimentos, ataques e mortes, ninguém tinha coragem de desafiar diretamente um possível comensal da morte.

Seria mais perigoso eu aparecer por aqui como eu mesmo do que como Bellatrix. Não era novidade que muitos bruxos e bruxas acreditavam que eu colhia informações da Ordem para Voldemort e que Dumbledore era um tolo por confiar em mim. Eu não era um herói para todo mundo, pelo visto. Muitos acreditavam que se eu não tivesse passado para o outro lado, provavelmente a guerra já teria acabado. É impressionante como as pessoas realmente só veem o que querem ver.

Light and Darkness - Regulus BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora