Capítulo 31: Cicatrizes

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É claro que eu sabia que era perigoso. Acabar de roubar uma horcruxe de um lugar tão vigiado como Gringotes era como pedir para Voldemort e os comensais da morte intensificarem sua busca por mim. Moody havia me dado instruções muito precisas de que os únicos lugares em que eu deveria estar era ou na casa de Sirius, ou na de James ou na de Pandora. E mesmo assim, ele preferia que eu me mantivesse em casa, porque nenhum outro lugar era seguro.

Então, é claro que eu sabia que era perigoso ir até a casa de Mary apenas algumas horas depois de toda aquela confusão. Eles já haviam tentando atacá-la duas vezes e por muito pouco não a mataram na última. Tudo isso porque ela se recusou a dizer onde eu estava.

Mas, honestamente, o que não era perigoso no meu amor por Mary? O que não era perigoso em ser um puro sangue procurado por comensais da morte apaixonado por uma nascida trouxa que é um imã de perigo? O que, na minha vida, não tem sido perigoso nos últimos dezenove anos?

Eu estava pronto para abrir todo o meu coração para ela. Estava pronto para deixar vir à tona tudo que mantive trancado dentro de mim por toda a minha vida. Para ela me amar como disse que amava, ela teria que conhecer todos os meus lados. Só assim eu teria certeza. Só assim eu poderia confiar que ela realmente não me deixaria. Eu precisava mostrar todos os demônios para ter certeza de que, apesar deles, ela ainda via luz.

Desaparatei na sacada do quarto dela, à uma da manhã em ponto. "Mary?" Bati no vidro da janela grande em seu quarto que dava para onde eu estava. Ela abriu um sorriso enorme quando me viu, mas quando seus olhos abaixaram para os meus braços, o sorriso se desfez e ela abriu a janela rapidamente.

"Meu Deus, o que... o que aconteceu com você, Reg?!" Ela me puxou para dentro do quarto, a voz carregada de preocupação enquanto examinava a vermelhidão nos meus braços.

"Não foi nada demais, na verdade... Pandora disse que não é sério," Tranquilizei-a. "Vai curar rápido."

"Com o que você se queimou?!"

"Eu fui à Gringotes hoje," Expliquei, enquanto ela me levava para sentar na sua cama. "A taça estava no cofre de Bellatrix, mas... mas não poderia ser tão fácil assim pegar, não é?" Sorri fracamente, mas Mary continuou séria.

"Foi muito difícil?" Ela perguntou, quase num sussurro, as sobrancelhas franzidas de preocupação.

"Não se preocupe comigo," Acariciei a bochecha dela com o polegar. "Não sou fácil de derrubar, você sabe."

Ela encostou suavemente os lábios nos meus, me deixando matar toda a saudade que eu estava de poder tocá-la. Eu nem me lembrava mais de como era estar triste. Quando ela abriu um pouco mais os lábios, convidando a minha boca, a minha mente deu um estalo e eu recuei alguns centímetros.

"O que foi?!" Ela perguntou, confusa.

"Eu..." Hesistei um pouco. "Eu quero que você me escute, só... apenas me escute."

Ela assentiu, um pouco hesitante. Eu me levantei da cama, ficando de pé enquanto ela ainda estava sentada. Andei algumas vezes pelo quarto, um pouco nervoso. Mary estava apenas me observando. Respirei fundo e, encarando as minhas mãos porque olhá-la nos olhos tornaria a coisa toda mais difícil, eu comecei.

"Eu tinha onze anos..." Engoli em seco. "Eu tinha onze anos quando o meu pai me machucou pela primeira vez."

Os olhos dela se arregalaram levemente. "Reg, o que..."

"Só, por favor, me deixe continuar." Interrompi, ainda sem olhá-la nos olhos. "Não foi uma maldição, não ainda. Eu havia pegado um galeão do bolso das vestes dele sem ele ver porque queria comprar um... um doce, eu acho, não me lembro direito. Era uma loja que ficava perto de casa e mamãe nunca deixava eu ou Sirius comermos açúcar porque ela dizia que nenhum Black deveria ser gordo. Ele ficou furioso e apagou um dos seus cigarros no meu braço."

Light and Darkness - Regulus BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora