Capítulo 39: Cárcere

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A família Black sempre apoiou a supremacia de sangue e os ideais de Voldemort desde que ele ascendeu no mundo bruxo, mas ir parar em Azkaban nunca foi um verdadeiro medo. Papai costumava dizer para mim e Sirius que pessoas como nós não eram simplesmente presas como a ralé da sociedade bruxa. Nossos infortúnios eram minunciosamente esquecidos se oferecêssemos a quantidade certa de galeões ao Ministério. Isso, é claro, desde que ninguém conseguisse provas reais de que os Blacks compactuavam com magia das trevas.

Mas os rumores sempre estiveram lá, onde quer que fôssemos.

Foram poucas as coisas que meu pai me disse na vida que eu realmente trouxe comigo, quase nenhuma. Mas existia uma parte em mim que realmente nunca havia considerado isso, como ele me assegurou que nunca aconteceria. Foi burrice achar que eu poderia ter levado a vida que levei, ter a família que eu tive, deixado que implantassem na minha cabeça toda aquela besteira sobre pureza de sangue e ainda sim nunca ter cogitado o que estava acontecendo agora.

Eu não fazia a menor ideia de como era o lugar. Quer dizer, eu sabia que era ruim. Muito ruim. Que o lugar era uma fortaleza no meio de uma ilha no meio do Mar do Norte. Era escondido do mundo bruxo, completamente ilocalizável. Protegido e guardado pelos dementadores, que se alimentavam dos sentimentos bons dos prisioneiros.

Há alguns anos, eu não me importaria tanto. Porque não era como se eu fosse uma pessoa radiante e cheia de alegria com milhares de sentimentos bons. Eu era o cara que escreveu cartas de despedida porque estava indo se matar, porra. Os dementadores iam ficar entediados comigo.

Mas agora, com Mary, Sirius, Luna... Eu estava desesperado com o fato de que agora eles tinham algo para tirar de mim. Isso deveria ser bom. Ter algo pelo o que lutar e amar. Me pergunto se Sirius está tentando lutar por mim agora. Espero que não esteja.

Foram todas coisas que passaram pela minha cabeça durante os segundos que durou a aparatação. O senhor Crouch me levaria até o Ministério? Ou eu iria direto para uma cela em Azkaban? Me lembro dele dizer que eu aguardaria um julgamento. Mas por que haveria um julgamento se nada do que ele me acusou era mentira? E quando eu fosse à julgamento, meus crimes teriam sido tão hediondos a ponto de eu merecer um beijo dos dementadores?

Quando desaparatamos, eu conseguia sentir o cheiro do mar. Azkaban ficava em uma ilha, então acho que nada de Ministério primeiro por hoje. Quando eu era criança, nossa governanta levava eu e Sirius até a praia para brincarmos, eu voltaria a encostar os pés descalços no mar algum dia? Estava escuro. E depois de sentir o cheiro da água salgada, senti uma sensação horrível. Talvez a pior que já tenha sentido na vida.

Não havia nenhum pingo de magia em mim.

O senhor Crouch havia confiscado a minha varinha, o que já era de se esperar. E em volta dos meus pulsos, pulseiras grossas de ferro pesadas tinham se materializado. Elas enfraqueciam a minha magia, me impedindo de aparatar, me impedindo de fazer qualquer feitiço mesmo se tivesse com a varinha em mãos. Elas não prendiam meus braços um ao outro como a polícia dos trouxas geralmente fazia, Mary me explicou. Mas me faziam sentir pior do que preso. Me faziam sentir vulnerável.

Quando me dei a chance de olhar ao redor, ouvi o senhor Crouch dizer "Me siga.", enquanto andava em direção à porta de uma casa. Mas por que estamos em uma casa? Se Azkaban era uma prisão com tantos prisioneiros, eles não caberiam em uma casa. Muito menos nessa, que parecia não ter mais do que um quarto só. E onde estavam os dementadores, afinal?

"Onde é que estamos indo?" Sussurrei, enquanto o seguia. Ele me ignorou, enquanto fazia um feitiço na maçaneta da porta em silêncio. Definitivamente, não estávamos em Azkaban. Mas ainda estávamos cercados por água, o único jeito de sair dali era aparatando. O que no momento, era impossível para mim. Então, ainda era uma prisão.

Light and Darkness - Regulus BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora