Capítulo 41: Fantasma

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Passei toda aquela noite em claro, sem fazer a menor ideia se o que eu fiz havia dado certo ou não.

Sempre fui bom em feitiços. Feitiços de transfiguração, de ataque e defesa, de azaração, de ocultamento. Modéstia parte, eu poderia facilmente me considerar um dos melhores do meu ano. Então quando de repente tivemos que aprender um feitiço novo de proteção que parecia simplesmente não querer sair da ponta da minha varinha, eu fiquei curioso.

Quer dizer, eu poderia ter pensamentos felizes. Talvez tivesse que me esforçar um pouco mais que os outros. mas eu poderia. Naquela época, eu poderia pensar na minha amizade com Pandora, nas tardes brincando e conversando com Kreacher ou até mesmo em alguns poucas lembranças boas com Sirius. Mas nenhum parecia o suficiente. Porque não precisava ser apenas feliz, tinha que ser o bastante para espantar um dementador de dois metros de altura.

Pela minha falta de experiência na coisa, eu estava com medo. Eu não sabia exatamente a hora que havia mandado o patrono, mas sabia que era muito tarde. E já estava amanhecendo, o que significava que Barty logo acordaria.

Teria acontecido alguma coisa com algum deles? Pensei, enquanto observava os feixes de luz do sol entrarem pela fresta da janela. Ou a Ordem achou perigoso demais se arriscarem para vir até aqui? Não. Sirius nunca obedece ordens. Mary é teimosa, ela nunca escuta nem à mim, quanto mais eles. Remus fica literalmente assustador quando está com raiva. Pandora nem se fala.

Mas eles ouvem Dumbledore. E Dumbledore nem sempre está à favor das minhas questões.

Barty se mexeu do meu lado, gemendo de sono. Continuei virado para o outro lado, sem me mexer. Ouvi ele bocejar alto e se sentar na cama.

"Reg?" Ele sussurrou. "Acordado?"

Para você, não. Pode fingir que estou morto.

"Mm..." Me mexi na cama, fingindo estar acordando naquela hora. Deus, acho que atuei mais de ontem para hoje do que um ator de cinema de verdade. "Me deixe dormir mais um pouco."

Senti a ânsia de vômito vir na minha garganta quando Barty se inclinou em cima de mim e me deu um beijo no rosto.

"Você pode ficar aí, mas não demore para levantar," Ele disse, se levantando da cama e vestindo sua calça. "Temos muita coisa para fazer hoje."

"Que coisas?!"

"Vamos até Lord Voldemort, é claro." Ele sorriu triunfante, saindo radiante pela porta do quarto. Só consegui raciocinar quando ele já estava na cozinha fazendo barulho com as xícaras de vidro. Ele havia decidido me entregar?!

"Acho que não entendi direito," Fui até à cozinha, nervoso, me atrapalhando com a camisa. Fiz uma pausa, hesitante. "Você vai... me entregar?"

"O quê?!" Ele gargalhou, se encostando na pia, com uma xícara na mão. "Eu admito que fiquei chateado por você não querer ter ido até o final comigo ontem à noite, mas não a ponto de querer que você morra!" Ele tomou um gole do café, correndo os olhos dos meus pés até a cabeça e se aproximou de mim.  "Você ainda sabe como me deixar feliz usando só as mãos, não é?"

Que nojo.

Sorri nervosamente, sem responder nada. Observei enquanto Barty pegava o casaco, agora seco, e o vestia.

"Se você não vai me entregar," Eu disse, devagar. Tentando decifrá-lo. "Então o que..."

"Ah, Reg, vamos lá! Você acha mesmo que me engana?!" Ele sorriu ironicamente. "Você acha que não sei por que você fez todo aquele showzinho ontem à noite?!"

Estremeci por alguns segundos, imóvel. Ele havia descoberto tudo. Agora eu iria morrer pelas próprias mãos dele. Porque Barty odiava ser enganado.

"Não precisava de toda aquela enrolação, toda aquela coisa de roupa molhada," Ele girou a varinha nos dedos, se divertindo. "Eu conheço você. Sei quando está tramando alguma coisa. Mas, sabe, você só precisava ter me dito."

Light and Darkness - Regulus BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora