Capítulo 46.3: Cobra com Coração de Leão

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Não era real.

Simplesmente não podia ser.

"Regulus," A voz de Sirius ecoava no fundo, mas eu não conseguia focar nela. Era como um som distante e abafado.

"Regulus, olhe para mim..." Acho que era James. Poderia ser Remus, mas não tenho certeza.

Parecia que meu coração ia parar. Ao mesmo tempo, parecia que nunca mais iria parar de bater tão rápido. Devia faltar pouco mais de uma hora para amanhecer, mas estava escuro. Godric's Hollow estava anormalmente silenciosa. Não havia clarões agora, nem explosões, nem gritaria. As poucas casas que sobraram inteiras estavam manchadas de sangue. As pessoas estavam em grupos, abraçando uns aos outros. Haviam outras pessoas passando, carregando macas com pessoas machucadas.

Os feridos estavam recebendo o atendimento de curandeiros, entre eles Marlene, que estava agachada sobre o corpo de um bruxo que tinha o braço completamente dilacerado, recebendo a ajuda de Alice e Molly com os feitiços. Eu comecei a andar, sem rumo, sem conseguir mexer muitas partes do meu corpo, a não ser as pernas. Meus olhos tremiam, mas eu não conseguia chorar. Sabia que haviam vozes chamando pelo meu nome lá atrás. Sabia que eles queriam me ajudar. Sabia que eles queriam continuar lutando.

Você permitiu que os seus amigos lutassem e morressem por você no lugar de me enfrentar sozinho. Esperarei uma hora... uma hora...

Os mortos estavam enfileirados no meio da rua.

Eu quase não vi o corpo de Alastor Moody, porque estava rodeado de pessoas, como Dumbledore, Slughorn, Hagrid e Arthur. Deus, Moody. Como a guerra havia conseguido levar alguém tão forte como ele? Lucien, um dos lobisomens de Remus, estava logo depois. Shade estava ajoelhado à sua cabeça, uma das lobisomens estava deitada sob o seu peito, as lágrimas rolando pelo o seu rosto. Quando avancei mais, pude ver claramente o corpo de Edgar Bones e Benjy Fenwick, pálidos e imóveis, um ao lado do outro. Eles eram melhores amigos.

Narcissa estava chorando sob o corpo de Lucius, enquanto Andromeda a abraçava por trás, os olhos apertados com força. Caradoc Dearborn estava logo depois, algo parecia ter acertado sua cabeça com força, porque sangrava muito. Seus olhos estavam opacos, estáticos. E então Dedalus Diggle, Sturgius Podmore e Mundugus Fletcher. O chão pareceu se abrir quando meus olhos se postaram sob o corpo de Emmeline Vance. O lugar pareceu ficar menor, se encolher.

Ela havia estudado no mesmo ano que eu, era ótima em Defesa Contra as Artes das Trevas. Ela era inteligente e tão, tão bonita. Quase consegui sorrir com a lembrança de quando eu tinha quinze anos e consegui beijá-la em Hogsmead. Na época, eu era um adolescente idiota e não sabia o quanto Emmeline era especial. Tão especial...

Eu não conseguia respirar. Não conseguia suportar a visão dos outros corpos, que pareciam não acabar nunca, saber quem mais havia morrido por causa da batalha que eu iniciei. Eu não conseguiria chegar perto de Xenophilius novamente, não conseguiria chegar perto de Luna. Eu não conseguiria pedir perdão aos pais de Mary quando eles não a encontrassem, eu não conseguiria olhar em seus olhos. Se eu tivesse morrido à dois anos atrás naquela caverna e não tivesse iniciado tudo isso em primeiro lugar, talvez ninguém haveria morrido.

Era meu dever dar um fim nisso. A guerra continuaria até ele conseguir me matar. Eu precisava salvar aquelas pessoas, não aceitaria mais nenhuma morte. Nenhuma se quer.

Dei as costas para a fileira de corpos, ainda sem enxergar muito à minha frente, e corri rápido no sentido contrário, no sentido da floresta em volta da vila... Moody, Emmeline, Lucien... Eu não queria mais sentir... Mary, minha Mary... Pan, sinto muito... Queria arrancar o meu coração, minhas entranhas, tudo que gritava dentro de mim...

Light and Darkness - Regulus BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora