Não preguei o olho a noite inteira.
Peter era amigo de Sirius, não? Ele era aquele garoto gordinho que vivia atrás dele, e de Remus e James também. E eles todos são da tal Ordem, se não estou enganado.
Não é como se eu lembrasse muito de todos os amigos de Sirius, eles são todos uns idiotas. Mas, definitivamente, lembro daqueles três.
Pela janela do meu quarto, eu consegui ver o céu clareando. Tentei me levantar da cama e senti uma pontada no meu joelho, estremeci quando lembrei o motivo dele estar assim. Talvez Kreacher tivesse algo para ajudar na dor. Ele é não é um ser humano, mas é o ser mais humano nesta casa.
Quando eu era criança, e minha mãe e Sirius passavam todos os jantares de todas as noites aos berros, Kreacher se oferecia para levar tudo que eu quisesse do jantar ao meu quarto se eu quisesse subir para não ouvir a gritaria toda. E eu subia. E ninguém nunca percebia quando eu subia. Fora Sirius. Sirius percebia sempre.
Ou quando eu tinha nove anos e Sirius onze, e estávamos brincando no jardim algumas semanas antes dele ir para Hogwarts. Eu estava feliz por ele, mas com medo dele fazer amigos demais e não querer mais voltar. E lembro que disse isso à ele. E ele me disse que não faria.
Você me disse que não faria, Sirius. Você me prometeu.
De qualquer forma, naquele dia eu levei um tombo feio. Sirius sempre corria mais rápido que eu e eu sempre tentava alcançá-lo para provar que podia ser tão bom quanto ele. Não levou muito tempo para nós dois esbarrarmos um no outro e cairmos no chão. Eu ralei quase toda a parte de trás do meu braço e Sirius estava com a testa sangrando um pouco. Kreacher veio rapidamente, com um olhar muito preocupado, pronto para cuidar de nós. E Sirius, é claro, não permitiu. Sirius sempre foi presunçoso demais para deixar as pessoas o ajudarem, principalmente nesta casa. Ele sempre foi corajoso. Bem mais que eu. Então não deixou Kreacher encostar nele e disse que poderia resolver isso sozinho porque não era mais uma criança e depois saiu de lá. Eu lembro de seguir com o olhar meu irmão entrar em casa e desejar tanto, tanto, tanto ser tão forte e corajoso quanto ele. Lembro de me perguntar se um dia não precisaria de ninguém igual a ele. Se um dia não precisaria mais dele.
Bom, Sirius, eu não preciso de você.
Naquele dia, Kreacher cuidou de todos os meus ferimentos. Eu me sentei no sofá de casa e ele foi cicatrizando cada um com magia. Minha mãe estava ocupada demais para perceber alguma coisa, então éramos apenas nós dois no cômodo. Eu não tinha amigos na época, minha carta de Hogwarts não havia chegado e eu perguntei à ele se ele queria ser meu amigo.
"Kreacher estará sempre aqui quando o senhor precisar dele." Ele me respondeu e começou uma reverência. Eu o segurei e disse que ele não precisava fazer reverência porque amigos não fazem essas coisas.
Talvez eu estivesse errado porque, apesar dos anos, Kreacher nunca parou de fazer reverência quando fala comigo. Mas ainda assim, era meu amigo.
Já eram sete da manhã quando ele bateu à porta do meu quarto e entrou devagar, se certificando que eu havia permitido.
"Senhor Regulus deseja que Kreacher faça algo para ele comer?"
"Não, Kreacher, não se preocupe...hm...na verdade, eu preciso da sua ajuda em outra coisa..." Falei me sentando de novo na cama, com dificuldade para dobrar o joelho. Ele logo percebeu que eu estava com dor e correu até a minha cama para me ajudar.
"O que o senhor desejar, senhor Regulus."
"Eu irritei minha mãe ontem. Você sabe, o de sempre. De qualquer forma, ela ficou muito brava e meu joelho pagou o preço dessa vez. Você poderia fazer algo para...não sei, diminuir a dor, talvez?", falei enquanto ele me ouvia atentamente, "Eu mesmo faria, mas mamãe me tirou a varinha ontem à noite."
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Light and Darkness - Regulus Black
Fanfiction"Para o Lorde das Trevas, Sei que estarei morto muito antes de você ler isso, mas quero que saiba que fui eu quem descobriu seu segredo. Eu roubei a verdadeira Horcrux e pretendo destruí-la assim que puder. Encaro a morte na esperança de que, quando...