Capítulo 38.1: Sirius

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Quebrei todos os vasos de vidro que tinham em casa na porta quando eles foram embora. Eu me senti exatamente do mesmo jeito de quando li a carta que Regulus havia me deixado a dois anos atrás contando que pretendia morrer. Devastado.

Exceto que agora, eu que queria morrer.

Não tinha forças para fazer nada sem ele. Já era difícil quando ele ainda era um Comensal da Morte e morava com os nossos pais, agora que eu sabia que ele não era assim, mas ainda não podíamos ficar juntos, conseguia doer mais ainda. Então, como ele acha que eu vou conseguir procurar alguma coisa sem ele? Como ele pode achar que vou conseguir fazer qualquer coisa sem ele? Como vou passar em frente a porta do quarto dele e saber que ao invés de estar lá dentro, ele está trancado em uma cela sendo torturado por dementadores que vão fazer ele reviver as piores memórias? E, Deus, Regulus tem algumas memórias realmente ruins.

Não podia estar acontecendo. Não, não, não, qualquer coisa, menos isso...

Moony ainda não havia chegado. Eu queria escrever para James, mas ele não poderia fazer nada, além de se preocupar. Eu não sabia como encarar Mary ou Pandora. A primeira pessoa que eu deveria falar era Moody ou Dumbledore provavelmente. Mas não conseguia. Nenhum músculo do meu corpo se mexia. Eu estava sentado no chão do canto da sala, com os joelhos juntos ao corpo, a horas. Os estilhaços de vidro espalhados pelo chão da casa e o casaco de Regulus ainda pendurado no cabide que eu não conseguia parar de encarar. 

A maçaneta se mexeu quando Moony chegou em casa. 

"Sirius? Ainda acordado? Está quase amanhecendo." Ele franziu o cenho quando me viu sentado, até que seu olhar parou nos vidros no chão e ele deu um salto. "Puta que pariu! Você vai se machucar aqui, Pads! Quem foi que fez isso?!"

"Eu." Respondi, baixo e trêmulo. "Nenhum desses vasos importa... Nada importa..."

"Padfoot, o que aconteceu?" Remus ignorou os estilhaços quando notou o tom da minha voz, pulando por cima deles e indo até onde eu estava. Ele se ajoelhou na minha frente e ficou frente a frente comigo. "Você chorou? Merda, você está tremendo... Pegue isso aqui, vamos." Moony enrolou o casaco dele em mim e me levou até o sofá. "Me diga o que aconteceu. Onde é que Reg está?"

Ouvir o nome dele foi demais. Eu caí em lágrimas outra vez e Remus estremeceu, endurecendo a voz. "Padfoot. Onde Regulus está?"

"Levaram ele." Eu respondi, tremendo a voz que saiu muito fina e falhada. "Levaram ele para Azkaban."

"O quê?! Azkaban?!" Remus levantou do sofá de uma vez, parecendo atordoado e alarmado ao mesmo tempo. "Por que?! Isso não faz o menor sentido, Sirius!"

"Crouch apareceu aqui... Com um mandato de prisão no nome dele, Moony." Eu solucei, abraçado com uma almofada. "Ele disse que é por coisas que ele fez enquanto ainda era um Comensal e... E Crouch disse que ele não se safaria fácil só porque está com a Ordem agora." 

"Temos que falar com Dumbledore, Sirius! Temos que avisar todos! Isso estará no Profeta Diário amanhã! Precisamos avisar todos!" Remus pegou a varinha. "Precisamos falar com Mary e Pandora. E com Deus e o mundo que precisar!"

"Moony..." Chamei, em um sussurro, Remus se virou para mim. "Tem que ajudar a trazê-lo de volta... Por favor..."

"Padfoot," Remus sentou do meu lado, pegando no meu rosto molhado. "Não vou deixar Regulus naquele lugar. Vou fazer o possível e o impossível para tirar ele de lá. Mas preciso que você me ajude, tudo bem? Vamos... Temos patronos para mandar."

Em menos de uma hora, Mary e Pandora apareceram na nossa casa. Pandora estava anestesiada, não conseguia falar com ninguém, apenas encarava o chão e batia o pé no chão. Mary chorou tanto que teve que tomar uma garrafa inteira de água. Ela foi até o quarto dele e se jogou em sua cama, abraçando os lençóis e chorando, enquanto gritava 'Não!' repetidas vezes. 

Carter chegou algum tempo depois, os olhos fundos e escuros, e ele tinha um hematoma na parte inferior da bochecha, que eu decidi não perguntar.

"Eu mesmo vou buscá-lo." Ele disse, decididamente, quase saindo pela porta. "Não vou esperar por ninguém. Estou indo agora."

"Isso é burrice." Remus o impediu, com a mão no peito dele. "Você não pode simplesmente entrar em Azkaban, Carter."

"Ah, não?! Então, veja." Ele tentou passar por Remus de novo, mas ele o segurou.

"Carter..." Mary o chamou, a voz pesada de tanto chorar. "Eu sei que está preocupado, mas temos que ficar juntos. Regulus sabe que somos mais fortes juntos."

Carter passou a mão no rosto e começou a chorar. Mary o envolveu em um abraço forte e caloroso, como uma mãe abraçando um filho que teve um pesadelo.

"Pan?" Tentei chamá-la. Ela estava andando de um lado para o outro, estalando um dedo atrás d outro. "Você quer alguma coisa?"

"Sim. Meu melhor amigo de volta." Ela respondeu, sem me olhar. "Tem que ter algo que nós possamos fazer... Tem que haver um jeito, Sirius! Porque não existe chance de Regulus estar preso para sempre naquele lugar!"

Antes que eu respondesse, Moody e Dumbledore irromperam juntos através da lareira assustando todos nós. Moody veio até mim e me segurou pelos ombros com força, muito agitado, "Preciso que me diga. Quem veio buscar Regulus ontem?!"

"Foi o senhor Crouch," Remus respondeu, porque viu que eu estava assustado. "Ele veio buscá-lo."

Moody olhou para Dumbledore e começaram a sussurrar entre si. Mary gritou, nervosa, "Posso saber o que está acontecendo?!"

Dumbledore pigarreou, "Senhores, Bartolomeu foi assassinado ontem em sua casa. Sua varinha e algumas outras coisas foram roubadas da sua casa."

"Assassinado?!" Exclamei, confuso. Que merda está acontecendo?!

"Quem o matou?!" Remus perguntou.

"E se não era ele..." Pandora sussurrou.

"Então, quem diabos é que estava aqui ontem?!" Carter vociferou, impaciente.

Dumbledore trocou mais um olhar com Moody. "Identificamos de que varinha veio o feitiço que matou Bartolomeu, senhor Wood. Ele foi assassinado pelo próprio filho."

"Você está me dizendo que aquele filho da puta esteve na minha casa ontem e eu não fazia ideia?!" Gritei para Dumbledore.

"Está me dizendo que ele está com Regulus agora?!" Pandora gritou dessa vez. 

Dumbledore assentiu para nós. "Sim, exatamente isso."

"Então, o que estamos esperando?!" Remus gritou, batendo na mesa e indo até Dumbledore. "Vamos matar aquele desgraçado!"

Moody levantou uma sobrancelha e encarou Remus. "Torça para ele não matar Regulus antes, Lupin."

E quando ouvi isso, pude jurar que senti meu coração cair.


Light and Darkness - Regulus BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora