Suposições

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- Encontrou algo? - Questionou Gastão.

- Sim. - Afirmou Sebastián virando-se para ele com o diário de Christian nas mãos.

- Esse... Esse é o diário do Christian?

- Não sei se é exatamente o dele, mas é bem parecido com o que encontramos no armário do colégio.

- Então só pode ser. Qual a possibilidade de existirem dois diários idênticos e nessas condições? - Questionou Gastão.

- Tem razão, mas a questão é o que tá fazendo aqui? Ele deveria estar com os pais do garoto.

- A Dulce Maria ficou de levar para eles junto com tudo o que estava no armário.

- Talvez chegou a hora de conversarmos de novo com essa garota, ela vai ter que explicar algumas coisas. - Falou Sebastián. - Vamos terminar de olhar tudo aqui e voltar logo. E não esqueça que cada detalhe é importante. - Falou Sebastián guardando o diário em um saquinho e voltando a vasculhar a sala.

Os policiais continuaram a varredura por toda a casa e a única coisa mais que encontraram foi um saquinho com drogas que eles também levaram para o laboratório para análises.

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- Uma parcela não, a maior parte eu diria. Eu já sabia que tinha sido vocês os responsáveis pelo o que me aconteceu. - Informou Gláucia surpreendendo os rebeldes.

- Que? - Falaram eles juntos em uníssono.

- Eu já sabia que vocês foram os responsáveis por toda aquela confusão.  - Contou Gláucia.

- Mas... Como? - Questionou Anahí ainda sem acreditar no que ouvia.

- Faz pouco tempo que fiquei sabendo, recebi uma carta anônima com uma foto de vocês. - Falou Gláucia. - Eu acho que ainda devo ter essa carta por aqui. - Falou ela levantando-se e indo procurar, ela olhou nos armários em cima da mesa até que tirou de dentro de uma gaveta a carta com a foto. - Aqui. - Falou ela os mostrando.

Eles na mesma hora reconheceram a foto, era a mesma que eles haviam recebido do dia do ocorrido da demissão.

- Eu não entendo. - Falou Maite chocada.

- Eu também não.

- Mas por que a senhora não fez nada? - Questionou Alfonso.

- Fazer o que? Do que adiantaria? Acham mesmo que depois de tanto tempo eu dizer que foi um grupo de adolescentes os culpados e não eu resolveria algo? Além disso tudo o que aconteceu já aconteceu, não há o que fazer. - Explicou Gláucia. - Não vou mentir e dizer que não fiquei chateada porque eu fiquei, mas entendo que eram apenas crianças inconsequentes e se aconteceu assim foi porque o destino quis.

- Nós sentimos muito professora, de verdade. - Falou Maite.

- E o que a senhora fez depois de tudo? - Questionou Anahí.

- Bom, foi aquilo que eu já contei a vocês. Quando saí não consegui emprego como professora em lugar nenhum, ninguém queria uma professora drogada e foi aí que decidi me dedicar a costura, investi tempo e dinheiro, e é isso que eu faço agora.

- Nós sentimos muito professora. - Falou Dulce.

- Nós fomos muito irresponsáveis e nos arrependemos profundamente. - Falou Alfonso.

- Nós não pensamos nas consequências. - Completou Christopher. - Não imaginávamos tudo o que poderia acontecer depois.

- Tá tudo bem queridos, vocês eram crianças. Eu só espero de verdade e do fundo do meu coração que se arrependam sinceramente e não façam mais mal assim para ninguém. Acreditem em mim, a vida se encarrega de cuidar do destino de cada um de nós e isso inclui dádivas e punições. Nós seres humanos não temos esse poder de julgar ou condenar, não somos justiceiros. A justiça feita pelas próprias mãos e em nome de alguém que também tem erros e se equivoca nada mais é que vingança e injustiça. E a vingança é um ato egoísta que busca satisfazer o ego, e por mais que pareça prazerosa e necessária é só um mal que corroe mais quem o carrega do que quem o sofre porque a vingança é tóxica. - Falou Gláucia e eles se entreolharam em silêncio refletindo cada palavra que a professora dizia. - Eu sei que vocês cometeram alguns erros, isso faz parte da vida, todos nós uma hora iremos meter os pés pelas mãos mas o mais importante é o que irão fazer a partir daqui, esse é o ponto de partida. A forma de agir após um erro é a mais importante e vai ser o que vai determinar quem são vocês e não o erro em si. O mais importante é reconhecer e tomar decisões diferentes, enxergar o erro e se possível reparar o mal causado. Todos nós temos o direito de cometer alguns erros. Mas o que farão agora? - Falou Gláucia os fazendo refletir, ela parou por alguns segundos e logo continuou. - É a próxima decisão a mais importante. Eu espero que possam repensar todos os seus erros e atitudes, eu sei que são pessoas boas, são apenas adolescentes perdidos tentando encontrar seu lugar no mundo. - Concluiu ela se levantando antes que eles dizessem qualquer coisa e foi até a cozinha.

Os cinco continuaram pensativos em em silêncio total e imóveis, alguns minutos depois Gláucia voltou com um prato na mão cheio de biscoitos.

- Comam por favor, fui eu que fiz.

- Não precisa professora, não queremos incomodar. - Falou Dulce.

- Mas é para vocês, se fosse incômodo eu nem os teria recebido.

Eles ainda sem graça pegaram alguns biscoitos, depois contaram como estavam as coisas no colégio, se despediram e saíram.

- Eu nem sei o que dizer. - Falou Maite.

- O que fizemos? - Questionou Dulce.

- Ela deu um tapa de luva na nossa cara. - Falou Anahí.

- O mais importante é a partir de agora. - Falou Alfonso.

- Não é possível que só eu achei toda essa conversa muito estranha e não comprei esse papinho. - Falou Christopher e todos o encararam. - Muito estranho ela ficar sabendo recentemente que fomos nós e simplesmente decidiu não fazer nada, esse discurso todo pronto e ela já tinha uma fornada de biscoito assando para nós? Não sei mas agora eu não confio em ninguém e não compro essa história. - Completou ele.

- Amor eu acho que você tá ficando paranóico. - Falou Maite.

- São apenas suposições, mas não podemos ignorar nada, todos são suspeitos a partir de agora.

- As vezes a pessoa contou as coisas para a Gláucia para tentar conseguir um aliada. - Sugeriu Anahí.

- E pode até ter conseguido. Eu acho nobre se ela tiver nos perdoado mesmo mas pode ter sido apenas um teatro bem ensaiado. - Falou Alfonso.

- Eu não acho que foi falso, acho que ela foi muito sincera com a gente e muito boa. - Falou Maite.

- Eu não sei, é tudo muito confuso. - Falou Anahí.

- Ai gente eu só quero ir pra casa descansar um pouco. - Falou Dulce.

- Vamos.

Eles então se dividiram entre os carros novamente e foram cada um para sua casa.

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