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Eu tenho um diário secreto

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Eu tenho um diário secreto. Talvez isso seja muito infantil para uma mulher da minha idade, mas foi no conforto das páginas que eu encontrei forças para atravessar cada capítulo sombrio da minha vida. Ninguém sabe da existência dele, e se soubesse, acho que eu morreria. Tudo escrito ali é muito íntimo — pensamentos que surgiram no meio da noite e tiveram que ser esquecidos no abismo mais profundo da minha mente ao amanhecer, e que nunca, em hipótese alguma, poderia ser dito em voz alta. 

Uso uma página em branco para escrever sobre a experiência que eu tive ontem. Escrevo sobre a minha ida ao bar, sobre o gosto da cerveja, sobre a música alta e sobre o estranho indecente de olhos azuis profundos e sorriso sarcástico. A cada palavra sobre ele, cenas da noite passada surgem como um flash de luz no escuro, e ainda não consigo esquecer a forma que ele me olhou, tão intenso e malicioso, fazendo a minha pele esquentar. Ela está quente agora. Esse é mais um pecado que eu vou ter que guardar a sete chaves. 

Tomo um banho, visto uma calça jeans e uma blusa de manga curta. Prendo o cabelo em um rabo de cavalo e termino de limpar o resquício de maquiagem deixado pela noite passada. Encaro o reflexo no espelho e me dou conta de que me afasto da Antiga Jade a cada dia, e apesar da sensação ser um pouco estranha, não é ruim. 

— Bom dia — digo ao adentrar a cozinha, seguindo o cheiro delicioso de bacon frito. 

— Bom dia, maninha — Justin abre aquele sorriso bonito e cheio de luz que ele insiste em sair distribuindo por aí. — Como se sente? 

— Bem — abro a geladeira e tiro de lá uma garrafa de leite. Despejo um pouco no copo e dou um gole. Ainda não estou familiarizada com o gosto do leite industrializado, já que eu costumava tomar bem fresco no convento. São costumes que preciso deixar para trás. 

— O que achou da festa ontem? — Ele me olha com expectativa. 

O que eu achei? Vejamos…

— Não foi tão ruim — sou sincera. — Um pouco barulhenta, mas… — faço uma pausa. — Não gostei do gosto da cerveja. Sério que as pessoas fazem questão de beber aquilo? 

Justin abre um sorrisinho. 

— Eu imaginei que não gostaria. 

Despejo um pouco de cereal em uma tigela e me sento sob a mesa. O silêncio paira ao nosso redor enquanto dou algumas colheradas no cereal colorido. Justin só está desfrutando de uma xícara de café fumegante; ele beberica o líquido escuro enquanto mexe no celular. 

— Posso usar o seu carro hoje? — pergunto, atraindo a atenção dele. 

— Claro. O que vai fazer? 

— Procurar emprego. 

— Jade… 

— Não posso ficar morando aqui de favor — digo. 

Indecente • COMPLETO Onde histórias criam vida. Descubra agora