trinta e quatro

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— Você tem mesmo certeza de que quer fazer isso? 

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— Você tem mesmo certeza de que quer fazer isso? 

Olho para Agnes, sem emoção. Estou cansada de encarar a preocupação nos rostos das pessoas, exatamente como está presente no dela neste momento. Estou cansada de… tudo. Essa sensação de vazio profundo está me matando aos poucos, e não tenho a mínima vontade de colocar um freio nisso. 

— Tenho. 

Um sentimento de tristeza brilha nos seus olhos. 

— Mas você estava adorando a faculdade — insiste ela, tentando me persuadir. — Estava adorando a cidade, as festas… qual é, Jade. Não deixe um único momento interferir em todos os outros. 

Eu me proíbo de reconhecer a dor na voz dela. 

— Já tomei minha decisão — digo secamente. 

Agora os olhos dela se enchem de lágrimas. Desvio o olhar porque não quero chorar junto com ela. Isso está sendo muito difícil para mim. Queria poder largar tudo sem olhar para trás, mas eu não podia ir embora sem antes me despedir dela. Agnes é uma amiga que vou levar pelo resto da vida em meu coração, e espero que possamos manter contato de alguma forma. 

— Eu só quero o que for melhor pra você — a voz dela soa embargada. — Mas quero que saiba que vou sentir muito a sua falta. 

Eu apenas a abraço. Às vezes um gesto vale mais que mil palavras. Vou sentir muita falta dela. Agnes, em tão pouco tempo, se tornou uma pessoa muito especial para mim. Sempre precisamos de alguém com quem se possa conversar que não seja alguém de grau parentesco, e essa pessoa é Agnes. Minha amiga. 

— Promete que vai ligar? — Ela se afasta com lágrimas nos olhos. — Ou mandar um email, uma carta, sei lá. 

Sorrio, triste. 

— Prometo. 

Ela espera enquanto eu pego minha bolsa. Também espera que eu me despeça de JP e dos outros funcionários da lanchonete. Por fim, vamos em silêncio até o estacionamento e entramos em seu carro. Ela vai me dar uma carona até o apartamento do meu irmão, onde mamãe já está me esperando. 

Não olho para trás uma única vez. Não quero ter que encarar a fachada daquela oficina localizada no fim da rua, nem encontrá-lo parado em frente à ela, talvez me observando. Mesmo que doa, preciso arrumar meios de arrancar Ryan do meu coração. Mas como podemos esquecer uma pessoa que simplesmente nos mudou? Que nos fez enxergar a vida de uma maneira muito mais colorida e prazerosa? Acho que é uma missão impossível, mas estou disposta a tentar. 

A viagem de carro é silenciosa. O ar parece carregado de uma tristeza palpável, mas me recuso a reconhecer esse sentimento de angústia que se apodera do meu peito. A única coisa pela qual realmente me permito lamentar é a dor de ficar longe de Agnes. Talvez ela possa me visitar. Talvez eu possa visitá-la. Mas por enquanto, preciso ficar longe de tudo e de todos que me fazem lembrar dessa maldita cidade. 

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