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O almoço corria bem, apenas nós ocupávamos o restaurante sobre o mar oque era muito mais agradável ao meu ver. Alex e Noah viraram os bobos da corte depois de beberem bastante, os outros apenas conversavam e riam ou pelo menos no caso de Heyoon, que a toda custa estava evitando Any, por motivo que se nega em me dizer, inventando a desculpa de que é apenas intuição, mas eu sei que não é isso.

Me levanto da mesa que estava e caminho para a parte de fora, observando a água cristalina que mostrava um pouco a areia e os poucos peixes que tinham ali. Suspirei ouvindo aquela voz em minha mente de novo.

Ela é um grande problema.

Eu já vinha sentindo isso desde a fuga em Los Angeles mas meu coração me traia, fazia eu a querer por perto e ansiar sua presença, minha mente esperta pelo contrário já sabia que tinha algo errado, tudo em sua vida era muito mal contado... mas não podia deixar ela ir.

Ela era minha.

Independente de qualquer coisa que estivesse tentando fazer contra mim, se preciso rodaria o mundo com ela para que não fôssemos pegos ou apenas a faria se apaixonar por mim.

Paixão.

Faz tempos que não sinto isso, que não me digo apaixonado por uma mulher, porém tudo está diferente, o coração acelerado já se tornou uma coisa frequente quando ela está por perto, a ansiedade em vê-la também, meus olhos são como Judas, vão direto a encontro da sua beleza preciosa e eu estou ficando tolo como um cantor de música melancólica, minhas mãos queriam acariciá-la, sentir sua pele contra a minha, enquanto meus lábios apenas ficariam saciados com um pequeno roçar contra os seus avermelhados. Eu estava perdido ou apenas entrando em um mesmo caminho que houve pequenas mudanças, mas eu sabia o final disso.

Fecho os olhos respirando fundo, apagando de minha mente todas aquelas besteiras que veio sobre ela. Eu não estava apaixonado. Ela não era nada para mim. Eu não precisava de ninguém.

Sai totalmente dos meus pensamentos quando senti alguém encostar em mim, olhei para o lado e vi Krystian parado ali encarando o mar também segurando uma garrafa de cerveja na mão.

Krystian: — Está gostando dela não está? -pergunto mantendo seu olhar fixo em algum ponto específico em meio as águas.

Josh: — Não sei do que está falando -menti arrumando minha postura, aquela mesma que sempre fazia quando queria alguém longe.

Krystian: — Os outros podem ser até burros, mas eu não Josh -riu sem animação alguma- Vou te dizer apenas uma coisa -finalmente me olhou- Ou se livra dela agora ou ela será sua ruína.

Josh: — Acho que você está falando de mais Krystian, tenho grande afeto por você mas saiba que não sentiria pesar algum em te dar uma lição por falar mais do que deve, entende? -friamente eu o olhava, tentando manter meus pensamentos organizados- Deixe que da minha vida, eu quem cuido.

Krystian: — A claro que vai! -riu irônico dessa vez- Você vai se escorar em nós quando essa merda der errada! Como sempre faz! Somos apenas seus capachos né Josh?!

A essa altura os outros tinham se aproximado para tentar entender porque gritávamos um com outro, nunca tínhamos feito isso. Eu pensei em gritar de volta, mas Heyoon foi mais rápida para se enfiar na minha frente e me tirar de perto.

Após longos minutos ouvindo a mais velha brigar comigo, dizendo que eu estava agindo como um cara normal e não como o alfa da alcateia, eu me levantei e voltei para o iate, os outros optaram por ficar lá até a noite então teria um tempo sozinho, o suficiente para esfriar a cabeça e tentar colocar um pouco as coisas no lugar. Tomei um banho demorado, relaxando os músculos tensos da semana toda, deixei que a água levasse a fúria dentro de mim sobre Krystian e que eu voltasse a ser calmo, como sempre fui, ele era meu amigo e não podia deixar isso estragar tudo. Ouvi um barulho na entrada, oque estranhei logo de cara, eu ainda ouvia as vozes de todos se divertindo no restaurante, porém não liguei, se fosse alguma ameaça os seguranças teriam dado um sinal.

Os passos se tornaram mais audíveis e eram leves, salto batendo no chão do iate, não demorou muito para que eu sentisse o cheiro que me embriagava durante as noites, não me dei ao trabalho de levantar a cabeça até... ouvir uma arma sendo destravada.

Any POV

Todos esses anos eu ansiei por ser notada pelo meu pai, pelos outros funcionários e tudo que ganhei foi humilhação, julgamentos atrás de julgamentos, mas agora eu tinha a oportunidade de concertar isso, de pela primeira vez fazer a coisa como eles queriam.

Eu mataria O Alfa.

Josh tinha se provado ser uma pessoa boa mesmo com todos seus erros, ele tinha um bom coração mas suas atitudes eram más e fugiam da lei, então eu, como seguidora e defensora da lei, tinha o dever de dar um fim à isso.

Eu iria matá-lo e depois usaria o celular dele para ligar para o departamento, eles me localizariam quando eu fugisse com o iate e pronto, a missão estava feita. Olhar por esse lado frio e calculista me fez pensar que seria fácil, que não era nada demais, eu fui treinada para isso por anos, qual seria o problema?!

Agora. Aqui de perto. Eu enxergo o problema.

Nunca tinha feito isso.

Deus eu estou preparada?

Meu pai ficará orgulhoso.

Os outros calarão a boca e irão parar de dizer que eu só estou lá por causa do meu pai.

Eu irei provar para todos que sempre fui capaz.

Irei provar para mim que sou o suficiente.

Minhas mãos tremem e meus olhos lutam contra as lágrimas que se formam, tentando colocar toda a pressão para fora. Meu peito dói e se aperta, mas tudo que eu devo fazer é apertar o gatilho e atirar contra ele. Serei eu capaz de fazer isso contra alguém que nos últimos meses tem me tratado melhor doque aqueles que deveriam me amar?

Josh: — Atira logo Any... -sua voz fraca e baixa denunciava como aquilo não era uma surpresa para ele- Está perdendo seu tempo...

Abri a boca para falar algo, qualquer coisa que fosse mas não consegui, talvez um pedido de desculpas ou talvez jogar na cara dele o quão idiota tinha sido em confiar em mim. Nada. Não consegui dizer nada.

O mesmo desligou o chuveiro, puxou sua toalha e enrolou sobre seu quadril, ele se virou revelando suas íris azuis um pouco avermelhadas, como a de alguém que quisesse chorar também.

Veja Josh, eu também estou chorando.

Ele me olha como me olhou aquele dia em seu escritório, onde minutos depois me presenteou com aquele vestido preto e me deu os melhores minutos em tempos. Como se um filme passasse em minha cabeça, todos esses meses ao lado dele eu aprendi que eu tinha um valor, ele me mostrou esse valor, se eu não estivesse em tanto desespero, poderia rir das vezes em que me chamou de "sua doce Any" ou que apenas me elogiou de uma maneira diferente. Céus eu estava querendo matar a pessoa que me fez sair do meu pesadelo, não em relação a história falsa sobre eu ser uma prostituta, mas sobre a Any, a Any que não sabia oque era dormir sem chorar, que tinha medo de deixar as pessoas se aproximarem, a Any insegura consigo mesma e com medo de se machucar, que um dia se isolou do mundo pois fizeram a vida dela um inferno... Ele tinha mudado isso e eu queria realmente acabar com isso?

Não aguentando mais, deixei que as lágrimas caíssem e subitamente abaixei a arma, caindo de joelhos no chão enquanto chorava desesperadamente.

Any: — Eu sinto muito... -repetia isso para mim várias vezes seguidas enquanto deixava eu me afogar em meu desespero e lágrimas, senti então para minha surpresa, o mais velho se abaixar.

Ele segurou meu rosto com delicadeza e limpou minhas lágrimas, olhando ali em seus olhos vi que talvez eu não fosse capaz de fazer mal a nenhum ser humano, muito menos ele. O loiro me abraçou, sem dizer nada, mesmo eu sentindo o quão quebrado ele estava, ele continuou ali, me abraçando. Passando-se os minutos eu fui me acalmando, me afastei brevemente dele mantendo meu olhar no chão, um pedido silencioso para que ele não falasse nada sobre.

O vi se levantar e caminhar para o compartimento do quarto, ficou alguns minutos lá mas logo voltou agora vestido. Estendeu sua mão para mim e eu a segurei me levantando e dispondo a sentar ao seu lado na cama.

Josh: — Me conte o porquê disso... mas me conte a verdade.

Mr. Beauchamp Onde histórias criam vida. Descubra agora