Entre mato, abraços e tempestade

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SEULGI

- Você não vai fazer isso.

- Ela riscou minha lente – Respondi enquanto me arrumava na frente do espelho – Ela vai ficar sozinha no meio do mato até alguém sentir sua falta.

Joy pensou em dizer algo, eu sei disso porque ela puxou o ar, mas depois balançou a cabeça e foi embora do quarto sem dizer nada. Ela preferiu não insistir porque sabia que nada me faria mudar de ideia, era hora de Jennie Kim pagar de verdade por tudo que me fez passar essa semana.

O dia estava com um sol absurdo, então nada mais justo do que usar roupas mais leves. Hoje é um dia importante, finalmente eu colocaria a mão na massa fazendo o que gosto, já estava cansada de cumprir as tarefas chatas que Jennie mandava só para depois fazer anotações sobre como eu era uma péssima funcionária.

- Aquela idiota não perde por esperar.

Finalmente daríamos início aos ensaios, hoje seria apenas uma preparação e nem os modelos foram definidos, mas seria importante eu ter noção do lugar para que tudo fosse do jeito que a Bae queria. Isso cortava uns cinquenta por cento da diversão, mas já era um avanço eu ao menos pegar na câmera. E o humor da minha casa melhorou tanto apenas por eu ter um emprego, que o ambiente de trabalho nem me parecia mais uma caminhada para a morte.

Bae nos disse que o ensaio seria fora da cidade, então pedi uma carona para um dos seus estagiários, eles são sempre tão prestativos, me trazem café e me levam de carro para onde eu preciso ir. Não poderia julgar, Bae Irene era muito inteligente de se cercar dessas crianças desesperadas por uma oportunidade, porque elas estão sempre de prontidão pra lamber sua bunda por onde quer que você vá.

Mal tive tempo de explicar porque estava saindo em plena terça feira com roupas tão simples para meu trabalho, porque o carro já estava de fora da minha casa. Apenas gritei um tchau para minha mãe que estava arrumando cozinha e Joy que estava sentada na mesa comendo. Assim que entrei no carro com o garoto, acho que se chama Taeyong, acelerou e saiu quase voando. Eu sei que estava um pouco atrasada, mas eu não era muito boa com compromissos matinais.

Seoul era uma cidade incrível, com seus "arranha céu" enormes, e pessoas indo e vindo de todos os lugares, era realmente a cidade onde tudo poderia acontecer. Onde sonhos se realizam, mas também era onde sonhos poderiam ser destruídos. O capitalismo nada mais é que um sistema movido pela desigualdade, enquanto uma dezena comandava esses prédios enormes, outras centenas se dividiam entre a classe média que conseguia uma pequena mobilidade financeira mas sem grandes chances de um crescimento realmente considerável, e outra parcela que se estapeava no fim da pirâmide, sendo os funcionário que não ganham o suficiente para pagar suas despesas.

E assim a roda econômica de Seoul gira, devorando os mais fracos e fortalecendo os mais fortes, e essas pessoas seguem caminhando zonzas e cegas em seus terninhos e sempre ocupados, trabalhando para chegar onde não querem para ter dinheiro e comprar o que não precisam. O que mais temia, era me perder para isso, me tornar um deles. Me cegar de ambições que não quero, perder todas as cores dentro de mim.

Depois que saímos da cidade, Tayeong seguiu um caminho que eu não conhecia, estávamos no meio do mato e seguimos em frente por cerca de duas horas, fomos entrando mais afundo daquele lugar que estava se tornando de certo modo meio aterrorizante. Com certeza Irene tinha ouvido conselhos de Wendy sobre onde fazer esse ensaio.

Depois de um caminho sobre estradas de terra muito ruins, encontramos uma tenda com alguns carros parados em volta. O lugar era de um verde que quase cegava. Era de fato perfeito, mas o que me chamou a atenção foi o carro vermelho de Jennie Kim, parado bem ao lado de onde eu estava.

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