Um jantar de noivado surpresa

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QUATRO DIAS ANTES

Jennie Kim saiu atordoada pelo encontro com as primas Bae, externalizar tudo que tinha visto era ao menos tempo libertador e agonizante. Sabia que Taeyeon não ficaria parada quanto aquilo tudo, como sabia que tinha aberto uma ferida em Joohyun que tentou por anos não fazer, sempre respeitou suas ingenuidades quanto a família, sempre rogou para que nada fosse como poderia ser. Mas era. E Jennie nunca se surpreendeu com nada, sendo ela mesma cria de um pai abusivo e sedento de poder. Se perguntava agora se haveria alguma família com dinheiro na mão que fosse no mínimo decente, mas como alguém poderia ter tanto dinheiro sem passar por cima de alguém?

Jennie riu enquanto ligava o carro, aquele pensamento era algo que Kang Seulgi teria, ela e seus pensamentos revolucionários. Como era idiota aquela menina, ou talvez só imatura. Rumou o carro entre as ruas sempre movimentada de Seul, em uma noite especialmente calorosa, mas que prometia chuva, pois agora o clima era instável e com possíveis alagamento. Foi o que ouviu no rádio, Jennie era uma mulher bastante atenta ao redor, como ela mesmo se intitulava, era uma mulher precavida. Porque entendia que o mundo não era um bichinho de pelúcia pronto pra te confortar quando caísse de joelhos no chão, pelo contrário, era provavelmente ele que te empurraria, e faria o possível pra você ficar com o joelho o mais ralado possível.

Jennie Kim não se considerava nenhum pouco com sorte de ser essa mulher, isso revelava mais de suas cicatrizes do que poderia dizer, talvez sua afeição inestimável por Joohyun era justamente a ingenuidade que ela conseguiu manter em si. O que Jennie não pôde se dar ao luxo de ter, não quando seu pai e irmãos não tinham a menor intenção de demonstrar sua ganância, e quando a mãe se escondia no véu de "apenas a esposa dele" para nunca confrontá-lo. A menina cresceu sabendo que ela era sua única força, mas não foi de tudo ruim, ao menos se sentia pronta para enfrentar o mundo face a face.

Parou o carro perto do bar, entrou no ambiente que era sempre carregado de luzes coloridas que piscavam em todas direções, não estava cheio, mas também não tinha programado nenhum evento atípico. Fingiu não ouvir quando Lisa a chamou, não queria ficar por ali, então só passou rápido pela portinha que dava livre acesso as escadas estreitas que dava no apartamento que Jisoo e Lisa dividiam. Ele era bem pequeno, mas as duas meninas deixaram ele com uma sensação de lar que poucas vezes sentiu na vida. Tinham dois gatinhos que sempre estavam dormindo preguiçosos em algum canto, e Rosé fez um pequeno canteiro para as meninas, ela dizia que era importante ter plantas vivas para deixar o ambiente mais natural aconchegante, e ela não estava errada.

A porta estava destrancada, por mais que Jennie vivesse falando que podia ser perigoso, mesmo que o bar fosse frequentado por público menos nocivo que homens héteros bêbados, ainda sim, se tinha uma tranca ali, ela deveria ser usada. Jennie entrou pensando em quais palavras deveria usar, mas tudo parecia bem ruim. Claro que a mais velha não era uma completa idiota, sabia que Jisoo tinha um grande afeto, até maior do que deveria. Mas Jennie não se permitia entender aquilo por completo porque as duas tinham longos sete anos de diferença. Jisoo estava começando a carreira e tinha acabado de deixar sua cidade natal, ainda estava aprendendo sobre aquele novo lugar com novas pessoas, Jennie Kim sentia que não poderia se sentir atraída pela menina, parecia errado.

- Jisoo? – Anunciou sua presença, antes de entrar por completo no quarto e encontrar a mulher pausando algo na televisão. Era mais um dos muitos documentários que ela sempre assistia.

- Oi – Jisoo respondeu quase tímida, ela também estava sem graça pela forma como se expôs no restaurante.

Jisoo se sentou na cama, onde antes estava deitada, de modo que deu a entender que Jennie poderia sentar ao seu lado. E Jennie, que parecia bastante decidida enquanto dirigia, agora também parecia sem palavras, porque por mais que fosse confortável estar com a outra, elas nunca tinham conversado sobre algo que tivesse em relação a amizade delas.

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