Nenhum elogio fúnebre

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O vento vazia malabarismo entre o silêncio do casarão, mesmo com todas aquelas pessoas, ninguém dizia uma palavra. Era inútil, nenhuma delas poderia trazer o velho homem de volta, ou confortar o coração vazio de Yeri que continuava sentada no sofá com o peito de um denso ar que afetada seus sentidos, ela queria a irmã. Queria voltar alguns dias no tempo, queria que a mãe a abraçasse, mas era um pedido bobo e infantil. Queria que o pai a levasse no parque, ou que dormisse logo e percebesse o quanto antes que aquilo era só um pesadelo idiota, e o avô estaria mais uma vez entre eles a fazendo rir com suas piadas de homem velho.

Ela viu como o pai se desvencilhou de alguns homens que o cercava com suas palavras fúnebres e patéticas, as quais Yeri tinha se desviado pela noite toda. Não era necessário, não mudava nada. Mas acompanhou o pai com o olhar, e o viu chorar, pelo menos um pouco. Ele não parecia tão durão agora, era essa sua maior diferença com o irmão mais velho, o seu pai sabia ser fraco de vez em quando, mesmo que escondido. Bae Yerim sabia o peso daquelas lágrimas, era coisa demais, tudo estava demais para eles.

- Ei pequena.

- Tae – Yeri sorriu recebendo o abraço da prima mais velha.

- Não é nosso melhor encontro, mas você me parece enorme agora – Taeyeon forçou um breve sorriso, igual ao que Yeri lhe deu em resposta – A beleza dessa família realmente tá no sangue.

Pelo menos Taeyeon não fingia que estava tudo bem, mas também não preenchia o espaço vazio com conversas motivacionais. A presença dela era o suficiente.

- Eu meio que fugi de todo mundo, será que posso ficar aqui com você?

- Claro, é só escolher um lugar – Yeri indicou o imenso sofá cinza escuro, e assim Taeyeon se sentou. E Yeri não se impediu de perguntar – Você sabe onde minha irmã está, não é?

- Pra falar a verdade não, mas sei que ela tá bem – Taeyeon e Yeri trocaram olhares cúmplices, ambas sabiam que aquilo não era verdade, mas que era o que desejavam do fundo do coração – Você sabe que isso não é culpa dela.

- Eu sei – Yeri disse a contragosto, porque ela realmente sabia disso, mas ainda sim seria bom poder culpa-la. Sentia inveja da mãe que fazia isso de muito bom grado, talvez fosse mais fácil não entender nada, só responsabilizar alguém por tudo isso. Mas se pudesse, Yeri culparia Joy, porque sentia muita raiva dela agora. Era seu único alívio no momento, pensar no quanto odiava Joy.

- Você fica igual Joohyn com essa cara pensativa, não sei se posso perguntar no que está pensando.

- No quanto eu odeio uma família.

- A nossa?

- Os Kang, aquelas duas irmãs imprestáveis.

- Kang Seulgi.

- Ela também, eu odeio todos eles.

- Não... Kang Seulgi – Taeyeon repetindo apontando o dedo para porta onde Seulgi estava parada, talvez pensativa se deveria entrar ou não, e a resposta mais óbvia era "claro que não", mas ela ainda continuava parada ali.

Yeri se levantou, iria até ela, e mesmo que dentro de si ainda carregasse algum apreço pela similaridade que ambas tinham, ainda sim Bae Yerim queria dizer poucas e boas para ela. Mas parou antes de dar qualquer passo, sua irmã saiu de trás da mulher e entrou na casa. Os cabelos um pouco avantajados, e os olhos profundos, usava uma roupa amassada. Mas de resto, ela parecia bastante bem.

- Hyun – Taeyeon disse correndo até a prima e a envolvendo em um abraço em que ela deixava esvair toda sua preocupação.

Yeri permaneceu na mesma posição, olhando a irmã, aqueles olhos fundos de quem não tinha uma boa noite de sono por dias seguidos. Para a menina continuava sendo injusto a maneira como ela não podia culpar a irmã de tudo que vinha acontecendo, não quando a via fora daquela fortaleza que sempre esteve de irmã mais velha. Yerim estava confusa, cansada e acima de tudo, com uma dor imensa no coração. Imaginou todos os momentos que perdera ao lado do avô e todos os momentos que o xingou mentalmente, ele não era fácil, mas ela também estava longe de ser.

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