Taeyeon encarava o avô deitado na cama daquele hospital enorme e, para um velho de setenta e oito anos que acabou de enfartar, estava em ótimo estado, e ele tinha um sorriso breve e nostálgico que a lembrava da infância. A mulher poderia jurar que se respirasse fundo poderia sentir o cheiro do casarão e a gritaria das primas. Queria não conhecer tão bem os anos que sucederam sua juventude, assim talvez pudesse continuar amando aquele homem com a mesma intensidade.
- Minha neta – Ela disse denunciando pela primeira vez alguma fadiga - É bom ver você aqui.
Os aparelhos mostravam seus batimentos e, por mais que Taeyeon não entendessem nada daquilo, o quarto tinha um cheiro de doenças e fim de vida que a deixava profundamente incomodada. O barulho insistente das máquinas a trazia calafrios, tudo ali era contrário a permanência da vida, mesmo que aquele pensamento fosse ridículo, porque aconteciam milagres naqueles quartos todos os dias, mas ainda sim, Taeyeon se sentia imensamente ansiosa em permanecer ali.
- O senhor me chamou – Taeyeon cortou qualquer plano do avô em ser uma farsa.
- Isso é jeito de falar com esse velho aqui? – Ele riu, e mesmo deitado em uma cama de hospital, parecia incrivelmente assustador.
- Se preferir eu volto depois, o senhor pode descansar.
- Não, quero falar logo – Ele continuou – A minha equipe está reunida discutindo nosso pequeno imprevisto.
Taeyeon emudeceu, um pouco assustada que mesmo depois de quase morrer, ele ainda tinha forças para falar sobre seu trabalho.
- Você chama isso de pequeno imprevisto? – Mas assim que falou, Taeyeon percebeu que ele se referia à Joohyun, ela era o grande imprevisto do momento. Sua sexualidade era o enorme problema que precisavam empurrar para debaixo do tapete – O senhor quer encobrir tudo, por acaso forjou um ataque cardíaco?
A mulher já tinha idade e senso o suficiente para saber que seus pensamentos não eram tão malucos assim, e nada que viesse dele poderia surpreende-la mais.
- Mas é claro que não – O avô disse rápido demais, como se a frase dela realmente o ofendesse, e Taeyeon pensou que ele teria se dado muito bem como ator – Entenda, eu já sou velho, não posso com esses desvio de juventude que vocês fazem, acredite, preferia não estar aqui agora.
- Mas me parece bem conveniente ao senhor estar aqui, os tabloides mudaram o foco das notícias – Não importa o que ele dissesse, agora Taeyeon só pensaria em como aquilo poderia fazer parte do seu plano de "tenho todo mundo nas mãos".
- Deixe suas besteiras de lado, minha neta, precisamos falar sobre Joohyun, você precisa convence-la a assumir tudo. Preciso ficar em paz sabendo que tudo por aqui vai ficar bem.
Taeyeon riu, não sabia bem o que aquele homem queria com ela. No seu íntimo até quis que ele tivesse se arrependido de tudo depois, de uma experiência de quase morte, e queria apenas se redimir. Por mais que aquele pensamento fosse insano. Ainda sim, não pensou que o avô teria tamanha cara de pau, não depois de a ter feito estudar e trabalhar por anos, para ser jogada para escanteio. E agora fazer dela seu peão para convencer a prima, que nunca teve o maior interesse nisso tudo, de passar o resto da vida se escondendo para que ele ficasse bem.
- O senhor só pode estar brincando – Ela riu esperando que ele fizesse o mesmo, mas ele continua impassível como nunca – E por que exatamente eu faria isso?
- Eu cometi erros com você, eu sei, não deveria ter te mandando embora – Se era sincero, Taeyeon não sabia, mas ainda que fosse, não fazia mais diferença – Mas não quer cometer os mesmos erros com Joohyun. Você conseguiu ficar bem em São Francisco, e mesmo que eu não concorde com seu estilo de vida, já está fora dos meus domínios, mas Joohyun não poderia, você sabe que ela pertence àquela cadeira, até mais que você já pertenceu.
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As Cores da Liberdade
FanfictionSeul é o palco para uma história de descoberta com um pouco de encontros e desencontros, um cenário comum àqueles que já se apaixonaram à primeira vista. O caminho do amor nem sempre é aquele que imaginamos, mas é traçado. De um jeito ou de outro. E...