A coreana de São Francisco

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Os raios solares de uma manhã na Califórnia eram mesmo diferente, em sua maior intensidade aqueciam a cama da mulher que, já acordada, ainda se demorava preguiçosa sobre os lençóis quentinhos. São Francisco em toda sua beleza praiana, já tinha conseguido bronzear o corpo pálido daquela mulher, e feito ela se apaixonar completamente por aquelas doces manhãs de verão.

Não morava tão longe da praia, o que significava que ao entardecer quando o sol fosse bem fraquinho, ela poderia pisar na areia e deixar que a brisa a abraçasse por inteira, tinha um sabor inconfundível de infância, amava as tardes no litoral. Mas a nostalgia infantil também apertava em saudade, quando corria pela praia deserta com as primas ao seu encalço, e alguns dos primos bem mais jovens ainda mais atrás de todas. Taeyeon sentia uma falta desmesurada daquelas meninas.

Mesmo hoje, décadas mais tarde, elas continuavam sendo as garotinhas gentis e alegres. Se sentia grata por isso, porque sabia que fora uma grande influência para todas, em especial Bae Joohyun, a quem sempre sentiu um senso de responsabilidade enorme. A mãe sempre fora muito severa com a menina, como o pai de Taeyeon era com ela, então uma se tornou o refúgio da outra em uma irmandade inquebrável.

Mas agora já estavam tempo demais separadas, já não sabia exatamente tudo sobre Joohyun, assim como a mais nova também não sabia seu maior segredo. Ela queria dizer, queria dizer a todos, mas jurou manter segredo para seu pai e o avô, em troca de uma vida liberta e bem longe de Seul e de todos os Bae. Seu contato se tornou muito limitado, e mesmo que ela quisesse desesperadamente voltar, sempre que rogava por alguma permissão, era imediatamente negada. Para as outras, aquilo poderia soar como um abandono, as vezes até mesmo Taeyeon pensava isso.

Sua sorte era ter Jessica, que apesar da cabeça quente, conseguia pensar muito friamente nas coisas. Era um ponto a favor poder conhecer mais a fundo as primas americanas, elas não deixavam de ser Bae, mas tinha um toque ocidental muito agradável, sem tanta pressão e muito mais liberdade. Na verdade, foram as primeiras a entenderem o que acontecia ali, a entenderem que Taeyeon gostava demais da presença da amiga de infância de Jessica.

Foi logo quando Taeyeon precisou participar de uma conferência em São Francisco, e claro que as primas ficaram muito animadas com a visita, e em comemoração alugaram um apartamento de frente para o mar, para que pudessem apreciar os dias com "tranquilidade", pelo menos foi o que disseram para a mãe, que bem sabia da verdade, mas não diria nada.

Jessica convidou sua amiga quase inseparável Tiffany, foram quatro dias de festas, ressaca, e reuniões cansativas, mas Taeyeon nunca esteve tão feliz. Ela sentia em Tiffany uma tranquilidade que não encontrou em lugar nenhum, sua vida corrida e com horários marcados para tudo, não permitia que ela pudesse aproveitar nada. E foi a outra, uma pintora, que mostrou o lado mais sensível da vida.

A Bae não poderia imaginar que aquela sensação gostosa que não parava mais de crescer, como uma câncer que se alastrava por todo seu corpo, mas ao invés da morte eminente, trazia um sopro de vida e felicidade. Não suportava as despedidas, e chorava de alegria nos reencontros. Até que finalmente, enquanto andavam sobre a praia em uma das longas caminhadas, Tiffany, que era muito sensível em emoções, se abriu como uma pétala desabrochando, tão natural e constante, que assustou Taeyeon, que suspeitava do que acontecia, mas que não podia encarar a verdade de forma tão madura quanto a artista.

- Eu gosto de você garota coreana, e acho que você sente o mesmo por mim – Ela riu daquele jeito irritantemente bonito que fazia com que seus olhos sumissem, e o vento soprava sua franjinha de cabelos que na época eram avermelhados. Mas que hoje se firmavam em um preto muito mais maduro e particularmente sedutor – Isso que acontece entre nós duas, quero dizer, eu fico feliz quando você sorri, e me dói o coração sempre que te vejo ir embora. Eu não quero esperar daqui uns meses pra te dizer isso, porque eu não sei se meu coração vai aguentar até lá, sabe quantos poemas tenho com o seu nome?

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