No último dia de provas, tudo o que ouvi a manhã inteira na escola, foi sobre San ter dito na frente de toda sua sala que era gay. E passaram a existir dois tipos de pessoas depois disso: as que admiravam ele e as que o desprezavam.
Eu não sabia onde eu ficava no meio disso tudo. Parecia que eu não sabia de mais nada ultimamente, inclusive a localização de Hongjoong que não apareceu nas aulas hoje, apesar de ter visto ele na escola.
Enquanto eu o procurava pelos corredores, me deparei com San de costas para mim e Wooyoung, Changmin e Joohyeon a sua frente. Todos eles eram da mesma sala.
— Oh... vai chorar, bichinha? — Changmin parecia estar provocando San, mas eu não entendi porquê Wooyoung estava ali no meio calado e com um olhar culpado ao invés de defender nosso amigo.
— Você ainda vai se arrepender. — Foi o que San disse no final, mas não para os outros. Suas palavras não pareciam ser para mais ninguém ali além de Wooyoung.
— Sai logo daqui, seu viado! — Joohyeon gritou, com um sorriso maldoso e San deu as costas a eles, sem notar ninguém ao redor.
Mais tarde, todo mundo importante na escola dizia que estaria na festa de aniversário da Sooyoung — uma garota super popular — e imaginei que Hongjoong não deixaria esse evento de lado. Por isso eu também fui.
Mas a aniversariante não sabia que esse era o motivo de eu estar ali e achou que eu estava lá por causa de seu convite pessoal.
— Park Seonghwa, você veio! — grita a garota morena, vestindo um vestido preto com brilho dourado. Ela já vem me abraçando com seu cheiro de álcool e perfume.
— Feliz aniversário, Soo. — Sorrio, enquanto ela prolonga o "a" no final de "obrigada" e fica ali sorrindo para mim. — Você não viu o Hongjoong por aí, viu?
— Claro que vi! Ele estava... — Ela o procura com o dedo apontando para as pessoas ao redor. — Oh, olha ele ali! — E pula, contente por ter achado o Kim perto da escada. Eu apenas dou um tapinha em seu ombro antes de agradecer e ir na direção do meu melhor amigo.
— Hongjoong — chamo, mas o Kim me ignora e ao mesmo tempo continua sua conversa com Mingi.
Acontece que todos os garotos do time costumam me ouvir. Claro que eles adoram me encher o saco e se meter em encrenca, mas sempre que eu falo sério, eles me ouvem. E não é diferente dessa vez.
— Desculpa aí, Hongjoong, mas eu não quero ficar no meio dessa briga entre você e o Seong. Eu não sei o que aconteceu, mas vocês tem que se resolver. Você não é Kim Hongjoong sem o Park Seonghwa, sacou? Somos uma irmandade. — Mingi diz antes de ir andar pela casa de Sooyoung.
No entanto, Hongjoong não parece mais acessível depois das palavras motivacionais do Son. Ele fica ali parado, ouvindo a música que toca e bebendo alguma bebida alcoólica.
— Eu nem sei porquê você está me ignorando agora — confesso, olhando diretamente para ele.
— É vergonhoso, para de se fazer de cínico, Seonghwa. — Ele me encara. — Não sei o que te falaram, mas Sunmi me disse que Sora é uma fofoqueira mentirosa. E antes que venha com aquele seu papinho, entenda que é tudo mentira. Eu avisei que ela era uma piranha maluca. Provavelmente ficou irritada pela última vez e agora deu de se vingar de mim, me difamando.
É triste, realmente triste que ao invés de só negar, ele precise ofender tanto, e menosprezar tanto a existência de outras pessoas. Dessa vez, o arrependimento que bate é por ser seu amigo, mas uma parte de mim ainda quer lutar por ele porque acredita que ele pode mudar ou porque ela não consegue desapegar do antigo Hongjoong, que não era assim antes.
— Não vai dizer nada? Qual o seu problema? — pergunta, parecendo desconfortável com o meu silêncio. Ele tem aqueles olhos que imploram para que eu acredite, assim como quando éramos mais novos e ele queria mentir sobre os problemas com o seu pai.
Entendo porque ele escolheu mentir. Entendo de verdade todo esse medo. E sei o que preciso fazer a partir de agora para mudar isso.
— Tudo bem, eu acredito em você.
◉
Hongjoong ri, depois de todo esse tempo me ignorando. É reconfortante, quase me faz sentir como nos velhos tempos quando nada além de nós e nossas conversas infantis importavam. Mas não é só sua risada que me dá essa sensação, é toda a situação de estarmos escondidos no banheiro de Sooyoung. Mais precisamente sentados dentro de sua banheira, bebendo e rindo dos bêbados lá fora, que direto tropeçam e batem contra a porta.
O Kim encosta as costas na parede de azulejos brancos e descansa as pernas curtas na beira da banheira enquanto seu sorriso genuíno ainda é tão grande que os olhos se tornam meros risquinhos.
— Vai, tenta de novo! — Ele empurra minhas pernas com a palma e descansa a sua cerveja do outro lado de seu corpo. — Não é possível que você não consiga colocar essas pernonas aqui!
— Você que tem perninhas que cabem em todo lugar! — rebato, tentando sentar ao seu lado e falhando miseravelmente, porque me dá cãibras. Por fim, decido ficar apenas na beirada e as costas encostadas na parede interligada à sua. Hongjoong morre de rir, enquanto ignoro esse pequeno detalhe.
Quando a risada dele se acalma e um silêncio mais confortável surge entre nós, percebo o quanto senti falta de ter momentos assim com ele.
— Amanhã, depois da aula, você pode ir lá em casa?
— Para quê? — Ele franze a testa e aperta os olhinhos, desconfiado, mas não sério.
— Vai saber se for lá.
O celular de Hongjoong apita algumas vezes seguidas e ele decide checar, depois é a vez do meu. O pego desconfiado da coincidência de nossos celulares nos notificarem ao mesmo tempo e logo entendo o motivo. A mensagem vem do grupo do time.
A música lá fora para de tocar e ouço uma gritaria vindo de fora do cômodo. Diante de nossa preocupação, nos levantamos juntos e corremos para o lado de fora, onde tudo é um completo caos. Seguimos os gritos e, ainda do andar de cima, já vejo a situação. Um cara que não estuda com a gente é segurado por vários outros enquanto San está deitado no meio do cômodo, com vários curiosos olhando.
Tomado pela raiva, a primeira coisa que penso em fazer é acabar com esse cara, que teve coragem de bater em meu amigo. Mas Hongjoong me impede, parecendo saber exatamente o que eu quero fazer.
— Já chamaram a ambulância, Mingi e Yunho estão ali, olha. — Ele mesmo me mostra, ao segurar meu queixo na direção dos outros. Minha respiração se acalma ao notar que é verdade, mas eu ainda não consigo olhar para a cena sem sentir raiva.
— Vou lá fora esperar pela ambulância. Não deixe ninguém encostar nele. — O Kim assente e nos separamos depois de descer os degraus. Não sei para onde levaram o outro cara, ou o que aconteceu, mas Henrik parece saber perfeitamente. E mais do que isso, ele fica repetindo que é culpa dele.
— Seonghwa, você precisa me ajudar... — Sooyoung aparece do lado de fora, completamente sóbria depois de tudo o que aconteceu na sua sala de estar. Ela implora que eu a ajude a tirar o pessoal da sua casa e ajude a sumir com as provas de que todos beberam.
Eu quero dizer "não", quero apenas ajudar San nesse momento, mas Wooyoung aparece na festa já ciente do que aconteceu e finge ser irmão do San para acompanhá-lo na ambulância.
Então eu ajudo Sooyoung e depois vou para casa sozinho, porque em algum momento meus amigos pegaram carona com Yunho e me deixaram aqui.
Acho que estou bêbado, afinal. Durante o percurso dou risada de como essa noite acabou pior do que eu poderia imaginar, mas o sentimento por trás do riso é tristeza. Porque no fim, não evolui quase nada com Hongjoong, não defendi o San quando ele precisava e nem pude acompanhá-lo para o hospital.
Que belo amigo eu sou.
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Boys Like Boys » seongjoong
FanfictionPark Seonghwa não era invisível na escola, na verdade, era jogador de futebol e tinha incontáveis admiradoras. Mas quem diria que ele estaria apaixonado justamente por outro rapaz do time? Definitivamente, a vida amorosa de Park Seonghwa já estava...