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No domingo, vou pra casa cedo e deixo Wooyoung com San na expectativa de que pelo menos o Choi não vai botar fogo em tudo. Pelo menos não intencionalmente. Não sei o que estava esperando encontrar quando eu chegasse, mas com certeza não era a minha mãe.

Jihyo nem está aqui, ela está na faculdade.

— O que é isso? — pergunto, deixando os sapatos na entrada e indo até ela.

— Que bom que você veio. Jihyo disse que iria dar um jeito mas eu não achei que ia conseguir.

— Eu não sabia que você estaria aqui — admiti, mas não disse que não teria vindo se soubesse.

Ela fica surpresa, mas logo volta a mesma expressão neutra de sempre.

— Nós precisamos conversar.

Sento no sofá e faço um gesto para ela também sentar, porém de frente para mim e não ao meu lado.

— Sobre eu ter estragado tudo na sua festa e o pai ter me dado um tapa?

— Sobre isso e... sobre outras coisas. — Ela finalmente senta de frente para mim e olha ao redor. — Essa casa está realmente horrível. Eu sabia que deveríamos ter mantido a empregada.

— Mãe, me poupe dessa conversa fiada. Você não veio de lá para isso.

— Eu trouxe as suas coisas e as da Jihyo. Ela me pediu para arrumar umas coisas por aqui, já que ela volta pra cá em breve e...

— Eu tenho que fazer umas coisas, não tenho muito tempo — aviso, porque preciso que ela vá direto ao ponto.

— Ok. Olha, filho, eu sei que não conversamos direito sobre o que aconteceu.

— Que engraçado, pelo que eu lembro nem conversamos. Você só me mandou embora.

— Eu fiz isso por todos nós. — Seus olhos semicerram e os dentes ficam à mostra quando ela diz isso.

— Não. — Arrumo meus ombros, desconfortável pelo que estou prestes a dizer, pela honestidade que estou disposto a dar a ela. — Você fez isso porque, como sempre, tinha que fazer o que era melhor para a sua imagem. A imagem dele. Dá pra ver o quanto essa empresa é mais importante do que eu ou a Jihyo para vocês dois.

— Eu não tive escolha. — Ela para, com os olhos suavizando diante do que eu disse, e suspira enquanto balança a cabeça. — Por que está fazendo isso, Seonghwa? — sussurra. — Por que está... se comportando assim? Você não é assim, filho. Antes de eu viajar você tinha uma namorada linda chamada E...

— Eunseo — digo por ela quando trava, porque sei que ela não vai lembrar mesmo. Não faço ideia do porquê trazer isso à tona.

— Isso, Eunseo. Você disse que estava bem com a nossa decisão de ir.

— É sobre o que, mãe? Sobre eu não ter mais uma namorada ou sobre vocês estarem morando do outro lado do mundo? Porque parece que você está brava por eu finalmente ter demonstrado que sou bissexual, e agora veio até aqui pra me convencer que eu não sou. Por causa da imagem da empresa.

Ela fica quieta e eu preciso olhá-la para entender o motivo, ela está surpresa.

— Você disse que nós deveríamos ir — ela diz quando se recupera de seu choque.

— Eu não pensei que fosse para sempre.

— Certo. Então você está dizendo que é... bissexual, só pra nos irritar.

Eu não sei o que dizer ou fazer então apenas rio. Mas machuca, e preciso fingir que não, porque percebo que a única pessoa a quem confiaria ser fraco nesta família, é a minha irmã. E dói ainda mais lembrar que também não falaria disso com Hongjoong, porque ele não entende. Não falaria com nenhum de meus amigos, porque estão tão acostumados comigo lidando com tudo, sendo o responsável. Não sou bom nisso, não sou bom em me abrir para as pessoas, percebo.

— Eu não preciso irritar vocês. Não preciso mais de vocês. Isso não é sobre vocês. — Nunca achei que conversaria tão francamente com ela. — Isso é sobre mim. Não quero a aprovação de vocês quanto a este assunto.

— Entendo. — Ela batuca os dedos no joelho cruzado sobre a outra perna e morde o lábio inferior. — É compreensível você, ou Jihyo, estarem bravos conosco. Nós não tínhamos ideia de que estavam, mas deveríamos ter imaginado.

— É, deveriam.

Ela lança um olhar feroz para mim e fico quieto para que termine de falar.

— Nós não somos perfeitos, mas ainda somos os seus pais. Sei que seu pai cometeu um grande erro naquele dia, mas ele está arrependido e assim que ele terminar nosso último projeto lá, vocês poderão conversar pessoalmente. Fica por sua conta ouvi-lo. — Ela se inclina e puxa minha mão, deixando ela entre as dela. — Sobre o resto, eu só quero saber uma coisa. Nada mais importa.

— O quê? — pergunto, confuso com sua mudança repentina e sua aproximação que me deixa desconfortável.

— Você está saindo com aquele seu amigo? Kim Hongjoong.

— Não. — Fico impressionado com a firmeza na minha voz e isso me chateia, mas mantenho a expressão firme e olho nos olhos dela.

Ela faz uma careta e sorri, afastando-se. Afastando as mãos quentes da minha. Não parece que a convenci, mas ela não diz nada sobre isso, apenas dá de ombros.

— Ele é um bom garoto. Sabe, a mãe dele era uma das minhas melhores amigas aqui. — Ela olha para a própria mão e mantém seu sorriso pequeno. — Sinto falta dela. Ele parece com ela.

— Hongjoong também sente — digo antes que perceba. — Muitas coisas seriam diferentes se ela estivesse viva ainda.

— Com certeza. — Mamãe levanta o olhar e pela primeira vez em anos não parece distante. Seu sorriso diminui aos poucos e os olhos piscam, úmidos. Ela não chora.

Algo se acentua entre nós, algo que esteve fora de lugar por anos e nunca paramos para alinhar, deixamos que desalinhasse até que parecesse tarde demais para consertar. Até que precisássemos consertar com nossa própria vontade de permanecermos unidos.

Boys Like Boys » seongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora