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Hongjoong

Acordo com o coração disparado no meio da madrugada. Outro pesadelo.

No começo não era, era definitivamente um sonho... Uma lembrança minha com a minha mãe.

Quando eu era menor, minha falecida avó me contou sobre o dia em que minha mãe descobriu que estava grávida de mim, e como ela ficou feliz em saber que seria mãe. Agora eu não consigo parar de pensar sobre isso. E, se Deus existe, se ele realmente é bom, então por que a tirou de mim? Por que deixou que eu ficasse com um pai que não consegue nem falar comigo direito? Se isso faz parte de algum plano maior, está difícil de enxergar qual.

Minha mãe ficou feliz quando eu nasci, me contaram. Mas nunca me contaram sobre meu pai. Aposto que meu pai não ficou tão contente, ou ninguém tem coisas boas pra falar sobre ele. Ele é o tipo de homem que tem esposa e filho só no nome, trabalha, aparece em casa no fim do dia e existe. Era assim quando minha mãe estava aqui. É pior agora que virou outro tipo de homem.

O sonho começou com ela limpando a casa enquanto eu brincava na sala, meu pai estava trabalhando. — Eu não consigo lembrar muito bem dele naquela época, às vezes acho que só não o notei porque era ofuscado pela minha mãe. Eu não o conhecia como conheço agora. — Depois, eu a chamava para brincar comigo. Era solitário ser filho único e eu não tinha meus amigos o tempo todo ao meu dispor. Era fim de tarde, o céu estava alaranjado através da janela da sala e a cor refletia em nossas paredes competindo com a luminária. — Apesar de ser só uma lembrança, algo aqui dentro se aquece. — Minha mãe fingiu que estava brincando comigo, disse que seria a vilã da história, aterrorizando minha cidade invisível com uma vassoura, e eu acreditei que ela estava brincando enquanto varria o chão ao meu redor e às vezes parava para puxar um ou outro brinquedo dizendo que eram seus reféns. Eu acreditei, só tinha seis anos, era fácil me enganar. Mas aquela mentira não importa, porque nos divertimos tanto brincando e arrumando a casa, que essa é uma das únicas e melhores lembranças que tenho.

O pesadelo quase a estragou. Quase.

Encaro o teto do meu quarto, viro de lado, olho ao redor. As sombras e a escuridão mal me deixam distinguir uma coisa da outra, mas eu sei que é vazio. Pisco tentando adaptar minha visão no escuro, mas demora. Enquanto isso penso em outra coisa, em como esses meus problemas nunca vão embora. Sou quase um adulto então por que não consigo seguir em frente? Por que não fica mais fácil tomar as decisões que preciso tomar?

Levo a palma da mão até o travesseiro e deito a cabeça sobre ela. Inspiro e expiro o ar, não sinto nenhum cheiro, mas eu ainda lembro de acordar com Seonghwa e de sentir seu cheiro. Ainda consigo sentir seu cabelo em meus dedos, os cílios na minha pele, os lábios nos meus. Dormimos juntos tantas vezes nesses anos que eu já deveria estar acostumado, mas é o contrário, cada ocasião parece sempre ser especial.

Fecho os olhos.

Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer.

É como um mantra, porém não funciona. Não quando, comparado às poucas memórias da minha mãe, as com Seonghwa são infindáveis. Lembro da voz, da risada, de suas lágrimas, dos micos, das coisas mais idiotas que já disse e das mais inteligentes. Lembro dele desviando o rosto enquanto tentava conter um sorriso bobo depois que o beijei.

Mesmo que seja inútil, eu continuo dizendo agora:

Preciso esquecer de tudo isso. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer. Preciso esquecer.

Boys Like Boys » seongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora