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Está tocando Cigarettes After Sex em um radinho. É "Touch" Sunmi me diz enquanto acende outro baseado na varanda do meu quarto.

Estou curioso porque eu nunca nem considerei usar drogas, mas o efeito parece interessante. Não "bom", mas literalmente interessante de se analisar. Eu olho a silhueta de Sunmi na varanda contra a luz e a fumaça subindo até se dissipar no ar, e penso na construção social reforçada pelos ocidentais de como a Ásia era o exotismo perfeito para suas vidas entediantes. A imagem do oriente nicotizado, pintado de aventura nas caixas de cigarros, contos como "As mil e uma noites" e obras de arte ou propagandas em massa mostrando mulheres segurando caixas de cigarros como um convite para o erótico, reforçando a ideia de que pessoas nesse estado de entorpercimento, consumidores de narcoticos e da nicotina, são — de alguma maneira distorcida — atraentes, sensuais, admiráveis, pessoas exóticas; quando a verdade é que simplesmente são pessoas com um psicológico ferrado ou prontas para dizer sim para um dos maiores erros de suas vidas.

Talvez vocês não estejam entendendo merda nenhuma do meu raciocínio.

Mas eu sei que não é inteiramente verdade a parte do psicológico ferrado — quer dizer, é tudo relativo —, mas se alguém estivesse suficientemente bem não recorreria a buscar alívio ou esse tipo de prazer no álcool, nas drogas ou em relacionamentos problemáticos. E é aí que entra a parte interessante. Você sabe que aquela pessoa não tem um psicológico saudável — eu espero que saiba — e essa característica de alguma forma é... atraente?

Que parte de ser autodestrutivo é admirável? Venderam tanto essa imagem no passado que ainda está enraizada. Pode ser que as pesquisas atuais demonstrem uma mudança drástica na apreciação por usuários e fumantes, mas o índice de admiração ainda é chocante.

Analisando de outra perspectiva, essa enxurrada de estereótipos podem ser reflexo da realidade. Gostamos — não estou generalizando — de pessoas com problemas e vícios porque sabemos que mesmo sob essas condições ou mesmo fora delas, elas são pessoas admiráveis e é isso que é atraente. Por isso pintam o 'bad boy' de uma série como fumante extremamente sensual, mas o que faz a mocinha se apaixonar é a personalidade totalmente inesperada dele. É um exemplo idiota, eu sei.

Porém me pergunto: é por isso que eu gosto do Hongjoong? Todo o lance dele ainda ser uma pessoa admirável apesar das coisas que ele já fez e me disse? Não é o estereótipo adolescente nele que me atrai, isso eu sei. Não foi pelos comentários homofóbicos que me apaixonei.

— Você já está chapado depois de só umazinha? — Sunmi pergunta, sorrindo.

Não me chamem de hipócrita, é só um experimento.

— Defina "chapado".

— Se eu soubesse não teria te oferecido nada. Como Sora vai te ouvir nesse estado? — Ela se aproxima e agacha, já que estou sentado no chão com as costas na minha cama, e arruma minha camiseta amassada. — Fique apresentável para se assumir.

— Eu não vou...

— Seonghwa? Por que você está sentado no chão? — Sora olha para nós dois. Os meninos foram ao mercado e não me levaram porque ainda estou de ressaca. Mesmo comigo dizendo que eles precisavam de mim lá, aquelas pestes me mandaram ficar. E Sora disse que queria dar uma volta comigo. — Levanta, vamos.

Só consigo levantar depois que as duas me ajudam. Eu não sou vidente, mas sei que não é um bom sinal.

Seja lá o que Sora tenha a dizer, essa conversa planejada parece deixar Sunmi confortável e em paz. Hoje ela não chutou nem um gay da casa e olha que temos quatro pessoas da comunidade aqui, apesar de ninguém saber sobre a reciprocidade dos meus sentimentos por Hongjoong — e dos sentimentos em si.

Boys Like Boys » seongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora