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Hongjoong

Logo depois que o Uber chegou, nós disfarçamos e nos afastamos um pouco, mas sem parar com os sorrisinhos. Fomos conversando sobre o que tínhamos feito depois que nos separamos na casa dele, e ele me contou sobre a bagunça que Wooyoung orquestrou com os outros. Ele até contou que tinha ido jogar com aqueles babacas em quem eu quase desci a porrada no dia anterior — eu não contaria a ele o que tinha ouvido, porque não queria que Seonghwa perdesse tempo com aqueles perdedores.

— Você foi com o Yeosang? — perguntei, por curiosidade. E porque ele ficava engraçado quando se empolgava contando algo.

— Sim, e com o Minho. — Seonghwa pausou o sorriso por um instante, depois fingiu um sorriso que eu obviamente notei ser forçado. — Mas, enfim, o Yeosang não quis jogar. Ele anda meio com a cabeça na lua...

— É? — Olhei para o motorista que estava levando a gente até um shopping perto de onde eu e o Seonghwa morávamos e logo vi que ele não estava prestando atenção em nós. — Seonghwa, sobre ontem... T-Tem algo que você queira me perguntar?

Frouxo. Eu era um frouxo. O que custava ir direto ao assunto e dizer que aquela bobona da Hye não era nem minha amiga? Muito menos o Sunwoo!

Mas é que eu ainda estava duvidando que Seonghwa realmente tivesse ciúmes de mim. Eu tinha dele? Provavelmente... Mas não era porque eu tinha, que ele teria.

— Não... Você tem? — Ele também olhou para o motorista.

— Eu acho que você tem, sim.

— Tenho?

— É, tem.

— Então você também tem! — rebateu, franzindo a testa. — Pergunta logo, Hongjoong.

Eu? Eu tinha? Olhei para a janela por um segundo, pensando.

— E-eu só queria saber por que você disse pro seu amigo que não me conhecia.

Quando virei, Seonghwa parecia ter soltado a respiração que estava prendendo enquanto eu falava. Ele pareceu relaxar.

— Eu achei que a gente não ia assumir nada ainda — sussurrou, de olho no motorista. — Não conversamos sobre isso, e eu não queria falar nada pra ninguém sem falar com você antes. Você ficou... chateado? — Então ele balançou a cabeça como se tivesse usado a palavra errada. — Bravo?

— Não — confessei. — Eu acho que fiquei confuso, só.

— E eu só fiquei surpreso por você ser próximo da... Hye — falou, como se não tivesse certeza se era o nome dela mesmo. — Não sabia que você estava na mesma universidade que eu! — gritou em um sussurro e me beliscou bem de leve. — Como você não me conta isso?!

— Eu também não sabia! — gritei em um sussurro também. O motorista estava olhando pelo retrovisor como se fossemos dois extraterrestres por estarmos cochichando no carro dele. — Quer dizer... — Limpei a garganta e me controlei. — Juro, eu não sabia. Fiquei tão ocupado com as coisas com o meu pai, a casa, a faculdade e o meu trabalho que nem juntei as peças. — E me ocupei com tudo isso não só porque precisava, mas porque queria parar de pensar nele também.

Seonghwa fez uma expressão meio estranha, como se estivesse triste depois de ouvir isso. No entanto, não buscou dizer mais nada até que chegássemos ao shopping e começássemos a procurar por uma loja de produtos para cabelo.

Ele conhecia melhor a loja, então se prontificou a escolher a marca enquanto eu explorava as coisas que tinham ali. Parei em frente a um monte de vidrinhos coloridos num formato estranho sem saber o que era, até que uma moça que estava vendo junto comigo abriu um deles e eu finalmente entendi que era só um esmalte dentro de um frasco anormal.

Peguei uma base e um esmalte preto. Se meu pai visse isso ele ia ter um treco. Capaz de morrer antes mesmo de dizer o primeiro xingamento, e se me visse usando então, sua cabeça explodia na hora!

Dei a volta no corredor e me deparei com cabelo. Tipo, cabelo de verdade, um monte. Pra que o povo comprava um rabo de cavalo? Isso não podia ser de verdade, né?

— Olá! — Uma funcionária me deu um susto não proposital que quase fez eu tacar o esmalte na cara dela.

— Err... Oi?

— Vamos experimentar alguns produtos hoje? — E segurou meu braço, já me levando na direção de outra funcionária que estava parada atrás de uma cadeira de salão de beleza. Céus, não, não, não! — É de graça, senhor... Digo, qual o seu nome?

— Hon-Hongjoong. — Mas para que ela queria saber disso? Eu não ia ser cobaia dela- De graça? Ela disse de graça, né? E bem que eu queria testar umas máscaras de rosto e...

Cinco minutos depois ela já estava me mostrando o quinto produto, massageando meu rosto suavemente enquanto a outra fazia minhas unhas por um precinho especial. Não sei quando foi a última vez que fiz algo tão... Ah, sabe, coisa de mulher. Gay. Não. Esquece.

Talvez a última tenha sido na casa do Seonghwa, há muito tempo atrás, quando nós éramos crianças. A Jihyun às vezes brincava com a gente e, certa vez, decidiu pintar minhas unhas com base, jurando que por ser transparente ninguém notaria.

Seonghwa estava alheio a nós dois e só percebeu que eu não estava brincando com ele, e sim estava lá no salão de mentirinha da irmã, quando já tinha praticamente terminado. Aí ele pediu a irmã para que ela fizesse nele também, pra ficarmos iguais e a Jihyun como a irmã coruja que era, fez o que ele queria.

— Hongjoong! — Seonghwa chegou com uma sacola e uma cara brava de quem tinha me pego entrando em sua casa com sapatos sujos quando o chão tinha acabado de ser limpo. — Eu fui te procurar lá fora e você está aqui... — Ele franziu a testa, olhando para as funcionárias. — Fazendo tratamento de beleza?! Por que não me chamou também?!!

Mais cinco minutos e agora eu que esperava o príncipe da Coreia do Sul levantar para irmos embora.

— Desde criança diziam que eu ia virar modelo, sabe? Não tem ninguém com uma beleza dessas por aí, nem que se compare... — Se ele fosse um pouco mais convencido poderia dominar o mundo. Sinceramente, eu ia namorar esse cara?

Não que estivéssemos namorando, porque a gente não tá. Ainda.

— Pronto? — perguntei pela vigésima vez, atrapalhando seu monólogo sobre a vez que chamaram ele pra ser k-idol. Ele tinha treze anos. Era um golpista.

As funcionárias estavam todas apaixonadas nos primeiros vinte segundos, agora me olhavam como se implorassem pra que eu o arrastasse comigo. E quase foi o que eu fiz.

— Elas gostaram muito de você — ele disse, olhando-me de lado.

— Acho que tem a ver com eu não ficar falando a cada três segundos o quanto sou maravilhoso. Humildade, Seonghwa, modéstia, isso que você precisa aprender comigo.

Ele automaticamente franziu a testa e fez uma careta de quem não achava que eu estava certo.

— E desde quando você é humilde e modesto? — Ele riu tanto que precisou se apoiar na parede de uma loja e começou a atrair olhares. — Aí, Hon, você é comediante! Isso, sim!

Bobão. Bobão de sorriso bonito, argh.

Passamos pelas portas automáticas do shopping e atravessamos em direção ao outro lado da rua que nos levaria para a casa dele. Ao menos estávamos caminhando sozinhos, agora.

— Então. — Seonghwa atraiu meu olhar. — Vamos guardar segredo? Na faculdade.

— É melhor, não acha? — Eu sentia que queria ser mais carinhoso com ele em público agora, mas querer não era poder. E eu ainda não estava pronto para o que as pessoas iriam achar, mesmo que achasse que eles eram insignificantes, lá no fundo sabia que me importava. Principalmente o meu professor e chefe, que acabaria ouvindo os rumores se algo vazasse. Se ele desistisse de mim igual ao meu pai...

Eu não teria nada, de novo. Igual algumas semanas atrás.

Olhei para ele de relance e busquei sua mão de novo, mas dessa vez entrelacei nossos dedos.

— O importante é estar com você — disse.

Diferente de semanas atrás, agora...

Agora eu tinha mais do que tudo.

Boys Like Boys » seongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora