Líder

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Dia 2

Aquele seria o primeiro dia que Rafaella acompanharia Gizelly desde o acordar, e ela estava ansiosa para isso. A versão da moça que conhecera ontem a teria deixado triste caso fosse capaz de sentir tal sentimento, pois viu-a ser engolida pelo descaso e grosseria de seu parceiro e da família dele. Não gostaria de imaginar o quão mal ela ficaria caso descobrisse o que ele fala sobre ela quando ela não está presente.

A maioria das mulheres com a beleza da engenheira acabariam por desenvolver personalidades fortes, beirando a dominância. Isso acontecia porque viam sua beleza como uma arma, um meio de manipulação social, e sequer se davam ao trabalho de contê-la, muito pelo contrário, desfilavam graciosamente pelo mundo, desejando ter seu poder reconhecido e desvencilhando sua imagem da teoria da moça indefesa e frágil. Mas com seu alvo era diferente, por mais bela que fosse não parecia pensar em sua beleza daquela forma, a abraçava como um traço particular seu e até o abafava de certa forma. Isso havia ficado claro na escolha da vestimenta para o compromisso da noite anterior, pois era óbvio que haviam roupas que a valorizariam muito mais que aquele simples vestido, mas ela optou por não usá-las.

Bom, essa era a opinião de Rafaella baseada em algumas horas de convivência, e não demorou muito para a cupido ver o quão errada estava. Pela manhã, foi apresentada a uma nova versão de Gizelly, uma que confundiria qualquer um que a conhecesse pelo mesmo período de tempo que ela. O vestido verde deu lugar a um terno azul Royal, que destacava seu tom de pele de maneira perfeita, em seus pés, um salto preto médio e perfeitamente desenhado completava o look. A maquiagem básica fora trocada por uma mais marcante, com o batom mais escuro e os olhos mais destacados, e os acessórios demonstravam a influência financeira que possuía. Até sua postura era diferente, mais ereta e firme. Parecia que ela desafiava o mundo a olhá-la, e ele o fazia alegremente.

Foi somente ao chegar à empresa em que a capixaba trabalhava, que Rafaella compreendeu a realidade da situação, pois Gizelly parou o lugar. Assim que saiu de seu carro, uma fileira de cabeças viraram em sua direção, e sorrisos animados começaram a se abrir. Aquelas pessoas tinham uma reação bem melhor ao vê-la do que Thomaz e sua família, isso era inegável. A engenheira cumprimentava todos por quem passava, e parou duas vezes durante seu caminho para dar atenção para os que pediam um pouco dela. Parecia à versão “real" de uma celebridade, e Rafa até acharia que ela realmente era uma se não tivesse lido sua ficha escrita pelo próprio Deus.

Quando finalmente chegou ao seu destino, a loira já não conseguia conter sua curiosidade, precisava saber o porquê de todo aquele alvoroço em torno da jovem gerente. Haviam apenas duas pessoas quando a dupla chegou na sala, um era um homem de meia idade, que vestia um uniforme azul escuro com listras laranjas marca texto, e se equilibrava com facilidade sobre a velha escada de alumínio enquanto mexia em um dos ar condicionados do recinto. A outra era uma jovem baixinha, com cabelos escuros que nem chegavam aos seus ombros. Sua calça jeans já tinha visto dias melhores, e sua camisa polo tinha a gola tão engomada que era capaz de furar um dedo nela. Ainda apresentava bolsas escuras embaixo dos olhos e segurava uma caneca quase maior que sua mão de café fumegante. Era impressionante como Rafaella era capaz de reconhecer uma universitária de longe.

- Bom dia, Manu! Bom dia, seu João!

- Bom dia, Gizelly! – O mais velho acenou com um lenço que usava para limpar o ar condicionado, como se fosse a versão rústica de uma princesa apaixonada. E pelo olhar caloroso que jogava em direção à capixaba, talvez não estivesse muito longe disso.

- Bom dia, chefe! – Pela primeira vez nas últimas vinte e quatro horas, Rafa viu seu alvo fechar a cara em descontentamento. Nem mesmo as grosserias de seu namorado haviam conseguido aquilo, e a cupido perguntou-se o que a pobre garota havia dito de tão ruim.

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